Eu me pego voltando na história,
Recordando de tudo que passou;
Tenho tudo guardado na memória,
Desde quando o cupido nos flechou.
Não é fácil o caminho da razão,
Quando a corda nos ata o coração.
Lembro ainda a primeira ligação,
De manhã a caminho do trabalho;
O bom dia discreto, a emoção,
Certo filme, o sorriso, o ato falho...
Foi aquele o primeiro carnaval
Da mudança que nunca vira igual.
Uma foto surgiu meio do nada,
Numas férias sem quase algum contato,
A primeira semente foi plantada,
Quando tudo inda era abstrato.
Foi decerto um arroubo inconsciente,
Que tornou toda a vida diferente.
Logo após veio o seu aniversário;
Um convite indiscreto, um encontro;
Desenhamos qual era o cenário,
O princípio do amor em seu confronto.
Foi um misto de susto e de alegria,
Julieta e Romeu, quem sabe um dia.
A saudade apertava a toda hora;
Sol a pino no fim de um outubro;
Não dá mais, era tempo de ir embora,
De repente o sinal tornou-se rubro.
Todo o mundo em volta tão opaco;
Coração destroçado, só o caco.
O amor foi guardado nas caixinhas,
No silêncio esquivo de um bloqueio;
Apagara o canal, sem entrelinhas,
O real converteu-se em devaneio.
Nem o tempo comprido apagou
A saudade ardente que ficou.
Veio então um estranho fim de ano;
Um céu gris, todo quadro desbotado;
A certeza do duro desengano;
Uma noite inteirinha acordado.
A canção argentina recordava
Quem não mais o percurso acompanhava.
Eis que surge do acaso um convite;
Falta um dia apenas para vê-la;
A saudade passara do limite,
Não havia recurso pra contê-la.
Encontrei-a rápido, mas tão linda
Que a angústia que havia dei por finda.
Logo à noite já veio o desbloqueio;
Num instante a noite se fez dia;
Uma moça sentada num passeio,
À espera de alguém na fantasia,
Acendeu todas luzes do Natal;
Me senti muito mais que especial.
Uma frase saudou o novo ano;
Bem distante e ainda afastado;
Uma flor de metal me fez humano,
Caminito me viu apaixonado.
Dois coqueiros enfim em frente ao mar
Conjugaram pra sempre o verbo amar.
Eliton Meneses