domingo, 28 de julho de 2019

Humilhados e ofendidos : Dostoiévski


"— Não sei, Natacha. Nesse homem tudo é inexplicável. Quer casar-se com outra e amar-te a ti. Ele é capaz de tudo ao mesmo tempo."

"E finalmente, essa qualidade dos seres ingênuos, que talvez lhe viesse do pai, de apreciar uma pessoa, considerando-a por melhor do que verdadeiramente é e exagerar exaltadamente tudo quanto tem de bom, tinha-se desenvolvido nela num grau violento. A essas criaturas custa-lhes depois muito refazerem-se da sua desilusão e ainda mais quando sentem que são elas mesmas as culpadas. Para quê esperar de uma pessoa mais do que aquilo que ela pode dar?"

"O tempo... é a melhor solução para tudo."

"Em certos casos o dinheiro proporciona-nos uma posição independente, prepara-nos para procedermos com liberdade."

"— Olhe, há pormenores insignificantes e que no entanto servem para caracterizar um homem."

«O principal não é a inteligência, mas sim aquilo que a rege... A natureza, o coração, as nobres qualidades, a cultura...»

"— mas não basta a inteligência, também é preciso coração para uma pessoa não se deixar enganar."

"Aquela ingênua duplicidade da criança e da mulher que pensa, aquela ânsia infantil, e absolutamente sincera, de verdade e justiça, a sua fé inquebrantável nas próprias aspirações, tudo isso parecia iluminar-lhe o semblante com um certo fulgor de sinceridade, muito belo, e comunicava-lhe uma espécie de suprema beleza espiritual." 

"Eram mais «iguais» entre si, e isso é o essencial."

"Mas repare no que lhe digo: se fosse possível (o que, claro está, não será nunca, dada a natureza do homem), se fosse possível que cada um de nós escrevesse todos os seus pensamentos, mas sem recear desvendá-los — não só o que se receia dizer e por nada do mundo se diz aos outros, não só o que se não diz ao amigo mais íntimo, mas até aquilo que uma pessoa se não atreve a dizer a si própria —, então, creia-me, levantar-se-ia no mundo tal cheiro pestilencial que todos deitaríamos a correr, sufocados. E é por isso, diga-se entre parênteses, que as nossas convenções e o decoro mundano nos são precisos."

(Fiódor Dostoiévski. in Humilhados e ofendidos) 

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