segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

FELIZ ANO NOVO!



Aos leitores deste humilde diário, àqueles que o acessam de perto ou de longe, aos que nos enviam e-mails, àqueles que permanecem silentes, espalhados por tantos lugares mundo afora, aos colaboradores e a todos que compartilham conosco alguns momentos da vida e da arte, nossos votos de um ano de 2019 de muita saúde, paz, felicidade, solidariedade, sabedoria e amor!

IMAGEM DO ANO


 

FRASE DO ANO


"Saudade não é falta. Saudade é presença imortalizada dentro da gente." (...)

Aphorismus


"Die Liebe bringt die hohen und verborgenen Eigenschaften eines Liebenden ans Licht, – sein Seltenes, Ausnahmsweises: insofern täuscht sie leicht über das, was Regel an ihm ist."

"Nicht die Stärke, sondern die Dauer der hohen Empfindung macht die hohen Menschen."

"Wenn man sein Herz hart bindet und gefangen legt, kann man seinem Geist viele Freiheiten geben."

(Friedrich Nietzsche. Jenseits von Gut und Böse)

sábado, 29 de dezembro de 2018

100+


"L'aube commençait à dessiner vivemente les contours des sapins sur la montagne à l'orient de Verrières. Au lieu de s'en aller, Julien ivre de volupté demanda à madame de Rênal de passer toute la journée caché dans sa chambre, et de ne partir que la nuit suivante." (Stendhal. Le Rouge et le Noir)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Eu


Tenho asas e raízes,
Tantas cores e olhares,
Sou igual a seu ninguém.

Sou de todos os matizes,
Todos seres são meus pares,
Minhas dores ninguém tem.

Tenho minhas cicatrizes,
Tantos gostos e pesares,
Sonhos loucos que não vêm.

Não perdoo meus deslizes,
Sobrenado muitos mares,
Não me apego a qualquer bem.

Eu não tenho diretrizes,
Sou de todos os lugares
E do meu lugar também.

Eliton Meneses

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

ÁGUA


escorremos como a água,
água mole, água dura,
por um leito sinuoso
de um rio rumo ao mar.

somos água de uma chuva,
água limpa, água suja,
por caminho estreito e raso,
água-nuvem pelo ar.

somos água de um açude,
sob o sol evaporando;
na sangria resvalando, 
sem saber se aquietar.

somos água densa e turva,
escondida sob a terra,  
que aflora cristalina,
quando sabe se filtrar.

nós mudamos como a água,
ora pedra, ora vento,
mas seguimos sempre água,
que não para de mudar.

Eliton Meneses

domingo, 23 de dezembro de 2018

PLANO


Abriu o envelope deixado em cima da mesa e leu com atenção a carta de encaminhamento dos cartões do plano funerário. Tratava-se do último benefício aos associados do sindicato, anunciado com bastante euforia pelo presidente, com votos de feliz natal e próspero ano novo. O plano não geraria qualquer custo para o associado e cobriria cônjuge e filhos, conferindo uma ampla gama de benefícios, do transporte ao cemitério às coroas de flores...     
Pegou com estranheza o cartão com seu nome, leu com certo incômodo o número da funerária para o caso de emergência e não pôde deixar de imaginar com frio na medula uma situação trágica em que as pessoas encontravam aquele cartão na sua carteira. 
Tentou desviar o mau pensamento e passou para o cartão da sua esposa. Estava lá o nome dela completo, sua companheira de tantos anos, ainda tão jovem. A impressão de que a ideia de um plano funerário no Natal não foi uma boa ideia do sindicato ficou-lhe ainda mais notória. Natal é a celebração da vida e não da morte. Julgava consigo que era melhor que a morte envolvesse a imprevisibilidade não só na sua consumação, mas também nos atos dela decorrentes. Pagar por um enterro de alguma forma parecia atrair a morte, torná-la previsível demais, algo espantoso para uma pessoa jovem e saudável. Ora, se sua companheira falecesse, preferia que não houvesse despesas previamente pagas para o velório, ainda que algumas pessoas pudessem vislumbrar nessa previdência a última moda do progresso civilizatório. 
Pensou em jogar fora ambos os cartões, mas hesitou um pouco, julgou-se por um instante antiquado em demasia, e pegou no envelope o terceiro. Nesse estava escrito o nome completo de sua filhinha. Quando leu atrás o número para o caso de emergência, sentiu um nó na garganta. Não. Não ligaria. Não queria que ligassem. Dane-se a funerária, o sindicato, a gente civilizada. Não queria previdência para velório da filha. Preferia evitar esse mau augúrio! Quebrou os três cartões, jogou-os no balde do lixo e seguiu para o banho aliviado.

domingo, 16 de dezembro de 2018

ÉDIPO REI


"Édipo, filho de Laio, rei de Tebas, e de Jocasta, é abandonado quando bebê porque um oráculo anunciou ao pai que o filho ainda não nascido seria seu assassino. Ele é salvo e cresce como filho do rei numa corte estrangeira, até que, incerto quanto à sua origem, também interroga o oráculo e dele recebe o conselho de evitar a pátria, pois se tornaria o assassino de seu pai e o marido de sua mãe. No caminho que o leva para longe de sua suposta pátria, ele encontra o rei Laio e o mata numa luta travada rapidamente. Depois chega a Tebas, onde resolve os enigmas da esfinge que obstrui o caminho e, em gratidão por isso, é escolhido rei pelos tebanos e presenteado com a mão de Jocasta. Ele reina por longo tempo em paz e com dignidade, gerando dois filhos e duas filhas com a mãe que não conhece, até que irrompe uma peste que leva os tebanos a interrogarem o oráculo novamente. É neste ponto que começa a tragédia de Sófocles. Os mensageiros trazem a resposta de que a peste cessará quando o assassino de Laio for expulso do país. Mas onde estará ele?

                                                       Onde acharemos 
                             algum vestígio desse crime muito antigo?


A ação da peça não consiste em outra coisa senão na descoberta gradativa e engenhosamente retardada – comparável ao trabalho de uma psicanálise – de que o próprio Édipo é o assassino de Laio, mas também o filho do assassinado e de Jocasta. Abalado pelo horror que cometera sem saber, Édito cega a si mesmo e deixa a pátria. O oráculo está cumprido."
(Sigmund Freud. in A interpretação dos sonhos, Vol. 1. L&PMPocket. pp. 283/384) 

CHEMISTRY...


"Infatuation alters your brain chemistry, as though you were dousing yourself with opiates and stimulants. The brain scans and mood swings of an infatuated lover, scientists have recently discovered, look remarkably similar to the brain scans and mood swings of a cocaine addiction – and not surprisingly, as it turns out, because infatuation is an addiction, with measurable chemical effects on the brain." (Committed. Liz Gilbert)

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

FRASE DO MÊS


"A experiência sugere que se os homens não podem lutar por uma causa justa porque essa causa justa venceu na geração anterior, lutarão então contra a causa justa." (Francis Fukuyama. O fim da história e o último homem. Ed. Rocco. Rio de Janeiro. 1992. p. 396).

JP EM CENA




RELÍQUIAS



QUOTES


"Un roman est un miroir qui se promène sur une grande route." (Stendhal, Le rouge et le noir)  

"E quando o amor é mais intenso, não necessitam nem sussurrar, apenas se olham, e basta, seus corações se entendem..." (Gandhi)

"Estoy acostumbrado a luchar contra gigantes. Jamás los he derrotado, pero nunca sucumbí."

"No próximo instante da eternidade, não estaremos mais aqui, nem você nem eu!"

"O que seria desse céu enorme sem esse ser minúsculo que o contempla deslumbrado?"

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Sonho


A trupe desfila num palco medonho
Seus trajes grotescos, clarins e bandeiras,
Vistosos tecidos, comprados nas feiras,
Em filas compridas de canto enfadonho.
Talvez fosse mero produto dum sonho,
Quem sabe verdade, melhor nem pensar;
Aplausos havia, mas sem despertar
O riso na cara de quem aplaudia;
O povo debaixo era quem mais sofria,
Em cima verdugos suspensos no ar.


A peça era nova, seu grupo bisonho,
Comédia ou tragédia, pudicas rameiras;
Roteiro não tinha, nem eiras nem beiras,
Aos olhos silentes dum mestre tristonho;
Abutres sedentos, um bispo risonho;
Tamanha incerteza que teima em chegar,
Largada na festa sem saber dançar;
As nuvens pesadas no ocaso do dia
Fizeram que a gente, em meio à agonia,
Sonhasse com a fuga na beira do mar.

Eliton Meneses

sábado, 24 de novembro de 2018

FIM DA HISTÓRIA


"Platão argumentava que embora thymos fosse a base das virtudes, por si só não era bom nem mau, mas precisava ser treinado para servir ao bem comum. Em outras palavras, thymos deveria ser governado pela razão, e transformado num aliado do desejo. A cidade justa seria aquela em que as três partes da alma estivessem satisfeitas e equilibradas sob a direção da razão. O melhor regime era extremamente difícil de ser alcançado porque devia satisfazer todo o homem simultaneamente, sua razão, seu desejo e seu thymos. Porém, mesmo que não fosse possível aos regimes reais satisfazer completamente o homem, o melhor regime constituiria o padrão pelo qual podiam ser medidos todos os regimes existentes. Seria melhor o regime que satisfizesse melhor as três partes da alma simultaneamente." (Francis Fukuyama. O fim da história e o último homem. Ed. Rocco. Rio de Janeiro. 1992. p. 404).

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Soneto LXIII


Entraste por um beco sem saída,
Calçado num chinelo muito gasto;
De dia, te sentias herói basto;
De noite, simples besta decaída.

Contavas não sofrer a recaída;
Querias percorrer caminho vasto;
Amigos? Tão somente um velho casto;
Nas contas, tanta coisa destruída.

Procuravas sentir felicidade
Em matérias fugazes, ofuscado;
Apostavas ser claro o tempo escuro.

Afastado decerto da verdade,
Não sentiras nas portas do mercado
A fragrância das flores de Epicuro.

Eliton Meneses

domingo, 18 de novembro de 2018

Filosofia x Materialismo


"Na Grécia Antiga, existia uma cidade na qual, em todas as paredes do mercado, se havia escrito toda a filosofia da felicidade de Epicuro, procurando conscientizar as pessoas de que comprar e possuir bens materiais não as tornariam mais felizes, como elas então acreditavam." (Wikipédia)

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

HINO


Também sou do tempo em que se cantava o hino nacional na escola, mas não nutro nenhum saudosismo dessa pouco espontânea manifestação de patriotismo. Recordo que na Escola de 1.º Grau Vilebaldo Aguiar, em Coreaú/CE, era o momento mais entediante. As aulas normalmente atrasavam pela dificuldade de se formarem as filas. Em meio à balbúrdia, sempre havia aquele retardatário que furava a fila para ficar mais à frente, aquele que ficava empurrando os outros, aquele que não continha a flatulência... Quando se conseguia finalmente organizar a fila, começava-se a cantar o hino com um desinteresse tão medonho e ainda com os atropelos mais hediondos da letra e da melodia que dava era desgosto... Uma passagem me atraía especialmente a atenção: "Ao som do mar (...) do céu profundo." Juro que entendia, quase colando o ouvido na boca do colega da frente, de trás e do lado, "Ao som do mar(aújo) o céu profundo." Ficava intrigado porque a coisa não continha qualquer nexo com nada que fosse compreensível. Maraújo? A única coisa a que me reportava Maraújo era a cidade de Moraújo, vizinha a Coreaú, mas tão inexpressiva geográfica e historicamente que achei pouco provável que fizesse jus a ter o nome no hino nacional e, caso tivesse, eu pensava, por que o hino não fazia menção também a Coreaú? Afinal, eram cidades arquirrivais e ultimamente Coreaú era até mais próspera...
Um dia cheguei em Cezinha, apontado como o melhor aluno do 7.º ano, e procurei tirar a dúvida:
– Cezinha, aquela parte do hino que diz assim: "Ao som do mar(aújo) o céu profundo..." é mar(aújo) mesmo, né?
Cezinha deu uma gargalha e respondeu com bastante convicção:
– Mar(aújo), não, bicho burro! O certo é Moraújo!

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

THYMOS


"O desejo de reconhecimento é também a sede psicológica de dois sentimentos extremamente poderosos: a religião e o nacionalismo. Com isso não quero dizer que religião e nacionalismo podem ser reduzidos ao desejo de reconhecimento, mas que o fato de terem suas raízes em thymos é o que lhes comunica sua grande força. O crente religioso atribui dignidade a tudo que a religião considera sagrado – um conjunto de leis morais, um modo de vida, ou objetos especiais de adoração. Enfurece-se quando é violada a dignidade daquilo que considera sagrado. O nacionalismo acredita na dignidade do seu grupo nacional ou étnico, e portanto em sua própria dignidade qua membro desse grupo. Procura fazem com que essa dignidade seja reconhecida pelos outros e, como o crente religioso, enfurece-se quando ela é ofendida ou menosprezada. Foi uma emoção timótica, o desejo por parte do senhor aristocrata, que deu origem ao processo histórico e foi a emoção timótica do fanatismo religioso e do nacionalismo que impulsionou esse processo, por meio de guerras e conflitos, através dos séculos. As origens timóticas da religião e do nacionalismo explicam por que os conflitos sobre 'valores' são potencialmente muito mais mortais do que os conflitos sobre bens ou riquezas materiais. Ao contrário do dinheiro, que pode simplesmente ser dividido, a dignidade é algo intrinsecamente intransigível: ou você reconhece a minha dignidade, ou a dignidade do que é sagrado para mim, ou não reconhece. Só o thymos, à procura da 'justiça', é capaz de verdadeiro fanatismo, obsessão e ódio."
(Francis Fukuyama. O fim da história e o último homem. Ed. Rocco. Rio de Janeiro. 1992. pgs. 262/263). 

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Soneto LXII


Quantas vezes deixamos fenecer
As flores que achamos no caminho;
Pensamos desvendar o pergaminho,
Depois de indecorosos nos perder.

Sonhamos com o sol do amanhecer,
Ainda quando o sono foi mesquinho;
Um se vai e o outro, tão sozinho,
Repara todo o quadro emudecer.

Pressentimos o fim do labirinto,
Quando os raios furtivos da aurora
Aquecem a inesperada solidão.

Às vezes nos guiamos por instinto,
Incautos nos lançamos mundo afora,
Ferindo sem querer um coração...

Eliton Meneses

domingo, 28 de outubro de 2018

EXPECTATIVA DO 2.º TURNO



Para um país que lê muito pouco, uma parcela considerável da população votar com um livro na mão já é uma vitória desse 2.º turno! 

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Pensei que fosse apenas força de expressão quando os eleitores do Bolsonaro dizem: Fora PT!
Mas, não, eles realmente acreditam que o PT continua no poder, mesmo sendo o PT oposição ao Governo Temer e o PSL do Bolsonaro da base de apoio do Governo, tendo votado a favor de tudo que o Temer envia!
É um caso mesmo de paranoia coletiva...

***

Joaquim Barbosa (STF) e Rodrigo Janot (PGR), protagonistas da cruzada anti-corrupção, votam em Haddad! Por que será que os antipetistas não votam...?

***

"Me alivia saber que ninguém que admiro intelectualmente votará em Bolsonaro." (autor desconhecido)

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Bella Ciao! Hino da resistência antifascista!

"Uma manhã, eu acordei
Querida, adeus! Querida, adeus! (...)
Uma manhã, eu acordei
E encontrei um invasor..."


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

CIVILIZAÇÃO x BARBÁRIE


Acompanhei todas as eleições presidenciais desde a redemocratização. Em nenhuma delas o eleitorado foi tão bizarro, para dizer o mínimo, quanto o do Bolsonaro. O eleitorado do Collor, apesar de tudo, em nenhum momento fugiu da razoabilidade ou descambou para o fanatismo inconsequente. Em todas elas, o candidato que falasse alguma impropriedade sofria automaticamente uma queda na intenção de votos. Essa é a primeira em que um candidato, quanto mais absurdos fala, mais aumenta a sua chance de ganhar a eleição. Se isso é o novo, sinceramente, prefiro ficar com o velho...


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Assim como Trump não é cria do Obama, Bolsonaro não é cria do PT; Bolsonaro é cria do nosso tempo cheio de tanto ódio...


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Pelo que prega e pelo que faz, acho estranho que um anti-humano como o Bolsonaro não esteja preso;
Pelo que prega e pelo que faz, acho espantoso um sujeito desse estar há 28 anos se reelegendo como deputado federal para não fazer outra coisa que não disseminar o ódio;
Pelo que prega e pelo que faz, ainda acho inacreditável que um sujeito desse tenha a pretensão de se lançar candidato a Presidente da República;
Pelo que prega e pelo que faz, causa-me perplexidade um sujeito desse ter tirado mais de 46% dos votos válidos do primeiro turno, tendo os eleitores outras 12 opções de voto;
Mas, pelo que prega e pelo que faz, considero o cúmulo do absurdo (não tenho mesmo vocação para naturalizar o mal) um sujeito desse estar na iminência de se tornar Presidente da República, com o voto da maioria dos brasileiros...

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

CURTAS


Há mil e uma razões para eu não votar em Bolsonaro. Cada uma suficiente per se para eu não votar nele. Uma delas é a homenagem que ele fez, no dia da votação do impeachment, ao maior torturador da ditadura militar, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Quem faz apologia à tortura não tem meu voto, em nenhuma circunstância.

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– Por que o PT ainda tem tanto voto, mesmo depois de tanto desgaste?
– Porque o PT, ao menos num aspecto, nos dá uma garantia: o PT não vota contra o trabalhador...

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Na eleição de 1989, vovó Ritinha já dizia que Lula ia implantar a ditadura comunista no país. Se em 2018 ainda tem eleitor com esse papo furado, fica difícil culpar os políticos pelos problemas do Brasil...

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Saiam do delírio! Todos os Presidentes eleitos da Nova República, de Collor a Dilma, participaram de debate de 2.° turno. Quem foge ao debate mostra quem é: anti-democrático, arrogante e mal-intencionado.

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Esperando os Bolsominions protestarem contra o Caixa 2...


domingo, 14 de outubro de 2018

ANTI-CANDIDATO


A maior dificuldade de ataque ao Bolsonaro é que ele não é um candidato; ele é um anti-candidato. Nessa condição, ele tem uma certa imunidade. Qualquer problema que se revele a seu respeito (vida parlamentar inexpressiva, discurso de intolerância, desempenho pífio em debate, etc.), que seria naturalmente considerado pelo eleitor em relação a qualquer outro candidato, parece não afetá-lo.
Collor em 1989 suou a camisa para ganhar do Lula. Alguns atribuem a sua vitória (apertada) ao desempenho no último debate na Globo...
Mas o que fazer diante de um anti-candidato? O que fazer diante de um candidato que, por pior que fosse o seu desempenho num debate, possivelmente mais expressiva seria sua votação? O que fazer diante da tendência, motivada pelo ódio, do quanto pior melhor? O que fazer diante da naturalização do absurdo? O que fazer diante da aparente ânsia de se agarrar numa alternativa qualquer por uma exaustão da experiência da alternativa anterior oposta?
Ninguém ainda achou a resposta, sobretudo porque o anti-candidato veio a reboque de novidades – como as fake news – contra as quais o sistema ainda não tem defesa, e só tem mais 15 (quinze) dias para encontrá-la...
O tempo é curto, mas a dialética, de Heráclito a Hegel, traz sempre como resposta o tempo. Afinal, ora se caminha mais à direita, ora se caminha mais à esquerda, numa alternância que ocorre no tempo, às vezes um tempo longo, às vezes um tempo breve. Dia 28 de outubro, saberemos dimensionar o tempo...

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

2.º TURNO



Não há duvida de que Bolsonaro continua favorito! A onda patrocinada pela mineração, pela bancada da bala e pela bancada da Bíblia não vai arrefecer da noite pro dia, com sua rede viral de 'fake news' na internet! Bolsonaro hoje não é o mesmo Bolsonaro de uma semana e meia atrás, que seria derrotado por qualquer um. Bolsonaro surpreendeu na última semana e transcendeu seus próprios limites. Esse Bolsonaro de hoje, cuja maldade, de certa forma, tem sido naturalizada, como diria Hannah Arendt, é um Bolsonaro apto a vencer qualquer candidato no segundo turno. Se houvesse mais três dias de campanha de primeiro turno, acredito que Bolsonaro liquidaria logo a fatura. Eles mergulharam na última semana para ganhar no primeiro turno. Daí a decepção de ontem. Apesar da votação muito expressiva, havia entre eles um toque de desânimo, ninguém soltou fogos na cidade, os grupos de Whatsapp em que os Bolsominions pululavam eufóricos à noite silenciaram. Noblat chegou a anunciar que a boca de urna do Ibope anunciaria a vitória no primeiro turno. Eles sentiram na boca o gosto de vitória. No entanto, logo em seguida, foi anunciada a verdadeira pesquisa boca de urna, e depois ainda vieram as urnas confirmando o segundo turno, com um candidato do PT com quase 30% dos votos válidos. Um tanto mais forte do que se esperava. Haverá segundo turno. Para quem sentiu o gosto da vitória, operando no máximo de suas forças na reta final da campanha do primeiro turno já para liquidar logo a fatura, isso não deixa de ser um tanto desolador. Reorganizar todas essas forças não é fácil num segundo turno que é longo. Não é fácil, com um candidato cheio de contradições e debilidades como Bolsonaro, ter que entrar na campanha, participar do debate, manter o nível de empolgação que antecedeu o primeiro turno, tendo curtido a sensação de vitória no primeiro turno, algo que seria humilhante para todos os partidos, mas que seria especialmente uma vitória cabal e incontestável em cima do Lulopetismo. Haverá segundo turno e o adversário continua vivo. É o PT, de novo, o adversário do segundo turno. Um adversário que está combalido, não há dúvida, mas que é um adversário que esteve presente no segundo turno das últimas 5 (cinco) eleições presidenciais (incluindo a atual) e ganhou as 4 (quatro) últimas... Não houve nenhum entusiasmo da campanha do Bolsonaro depois da votação do primeiro turno; afinal, houve uma notória frustração. Depois daquela sensação do nirvana anunciada pelo Noblat, apareceu a dura realidade, na forma de uma mensagem que ecoou das urnas: – Queremos lhe conhecer melhor! Disse a voz das urnas. Queremos lhe conhecer melhor no segundo turno! Para um candidato que se escondeu no primeiro turno e achou que assim venceria por W.O., essa mensagem não deixa de causar um certo espanto... A faixa presidencial de repente fugiu dos dedos do sonho e, já desperto, Bolsonaro olhou para frente e viu a necessidade de percorrer um nebuloso segundo turno, e olhou para trás e viu o PT, de novo ele, chegando como quem não quer nada... Um PT que foi quase a nocaute sob a máquina de desconstrução oriunda da própria política, da mídia e do judiciário. Mas um PT que também sabe muito bem, quando precisa, desconstruir adversários. Um PT, enfim, que na arte da guerra político-eleitoral, é um adversário experimentado. Um PT que, diante desse novo Bolsonaro que despontou na última semana como uma ideia que havia encontrado o seu tempo, é o único capaz de impor não apenas respeito, mas medo...

HERÁCLITO


"Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontram as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários." (Heráclito)

domingo, 7 de outubro de 2018

JOÃO CAVOQUEIRO


Sob o sol do meio dia, João Cavoqueiro aprontava a massa da obra. Era servente e ajudava na reforma da casa do vizinho. Na noite anterior havia participado da reunião da CEB's no Sumaré. João não fazia mal a uma mosca. Era querido em toda Sobral. Vivia num casebre humilde da Betânia, sem saber ler ou escrever. Os padres o haviam convencido a participar do movimento social da igreja. Naquele ano de 1971, João tinha 26 anos, uma mulher de 24 e dois filhos. 
Quem estava na rua estranhou quando o caminhão do Exército parou perto da casa do servente; estranhou mais ainda quando desceu um batalhão de soldados enfileirados como numa operação de guerra e o cercaram. Um oficial se dirigiu a João, apontou o dedo em riste em sua direção e gritou:
– Subversivo! 
Uma multidão de curiosos se aproximou perplexa para testemunhar a prisão do até então pacato e irrepreensível João Cavoqueiro. Sem mais nenhuma explicação, algemaram-no e levaram-no não se sabe para onde.
Oito meses depois, a mulher e os filhos já estavam sem esperança de reencontrá-lo. No entanto, novamente no mormaço do meio dia, um caminhão do Exército parou perto da casa de João e o soltou na rua para o espanto de poucos curiosos. 
João estava de pé, mas tremia dos pés à cabeça. Depois de um instante parado, dirigiu-se lento e trôpego à sua casa, apoiando com dificuldade no chão cada passo, até chegar à porta, sem ninguém atrever-se a socorrê-lo. Não conseguiu explicar o que lhe fizeram, não conseguiu mais falar, não conseguiu mais trabalhar, nunca mais voltou a sorrir. João Cavoqueiro morreu três anos depois. Devolveram-no apenas como prova de como o regime tratava as pessoas subversivas.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Pós-verdade


Soube de uma juíza que afirma estar em dúvida acerca da condição de torturador do Brilhante Ustra, apontado pela História como o maior torturador da Ditatura Militar de 64/85, uma vez que ela estaria investigando os fatos e, segunda ela, era preciso ouvir não apenas a versão dos guerrilheiros torturados, mas também a versão do torturador, no caso, contada num blog da mulher do Brilhante Ustra...
A juíza parece querer dar uma sentença sobre a condição do torturador a partir de um contraditório empírico extemporâneo, tentando reescrever a história sem qualquer preocupação com o método histórico-científico, mas com uma convicção típica do nosso tempo de pós-verdade, em que o senso comum busca a todo custo subverter a ciência.
A juíza parece esquecer que não foram apenas os guerrilheiros as vítimas da tortura praticada pela Ditadura Militar, eis que muita gente não-guerrilheira e inclusive muita gente sem qualquer envolvimento político foi parar nos porões do DOI/CODI.
A juíza parece esquecer que a oitiva da versão do torturador, por mais perfeita que fosse, jamais justificaria a barbárie que representa a tortura praticada pelo Estado.
A juíza parece esquecer que, embora, em regra, o Judiciário julgue, é a história o juiz final do Direito. Nas palavras do poeta alemão Schiller: "Die Weltgeschichte ist das Weltgericht."
É natural que essa juíza se julgue imparcial para julgar o passado e o presente, dos fatos mais prosaicos aos mais relevantes para o futuro do País; é natural também que ela repute mais certa a sua sentença do que a sentença da história e é natural, por fim, e nem precisaria dizer, que ela apoie para a Presidência da República um candidato cujo nome é melhor nem mencionar...

domingo, 30 de setembro de 2018

FRASE DO MÊS


"Depois de completado o trabalho de interpretação, o sonho se revela como uma realização de desejo." (Freud)

DEMOCRACIA x MECANISMO


O Mecanismo que gestou o golpe está chocando o ovo do fascismo!
O exame de DNA vai provar que Moro é pai do Bozo...
A Democracia responderá #ElesNão

MARRIAGE


"Of course, social conservatives may still believe that homosexual marriage is wrong because the purpose of matrimony is to create children, but infertile and childless and postmenopausal heterosexual couples get married all the time and nobody protests." (Elizabeth Gilbert. Committed, A Love Story)

#EleNão



HISTÓRIA DIRECIONAL


O melhor virá sim, sempre vem, como apostaria Kant, mas não como algo necessário, decorrente de uma força natural inexorável, e sim como uma possibilidade que nasce a partir da construção do homem... Não fiquemos de braços cruzados à espera do melhor. O caminhar rumo ao melhor é uma construção humana e não uma lei da natureza.  

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Soneto LXI


Aferrados ao caos de certa insônia,
Esquecemos dos sonhos genuínos;
Não passamos sequer de peregrinos,
Sem amor, sem saber, sem parcimônia. 

Traspassamos umbrais sem cerimônia,
Copiamos tacanhos figurinos;
Perfilados cantamos falsos hinos,
Presunçosos perdidos na colônia.

Eis um tempo incomum de resistência;
Mesmo em face do óbvio duvidamos,
Testemunhos passivos da maldade.

Apesar de afogados na ausência,
Desde os gregos antigos procuramos:
A beleza, a justiça e a verdade.

Eliton Meneses

sábado, 15 de setembro de 2018

Ballade des dames du temps jadis


Dictes moy où, n'en quel pays,
Est Flora, la belle Romaine;
Archipiada, ne Thaïs,
Qui fut sa cousine germaine;
Echo, parlant quand bruyt on maine
Dessus rivière ou sus estan,
Qui beaulté ot trop plus qu'humaine?
Mais où sont les neiges d'antan?
Où est la très sage Helloïs,
Pour qui fut chastré et puis moyne
Pierre Esbaillart à Saint-Denis?
Pour son amour ot cest essoyne.
Semblablement, où est la royne
Qui commanda que Buridan
Fust gecté en ung sac en Saine?
Mais où sont les neiges d'antan?
La royne Blanche comme un lis,
Qui chantoit à voix de seraine;
Berte au grant pié, Bietris, Allis;
Harembourges qui tint le Maine,
Et Jehanne, la bonne Lorraine,
Qu'Englois brulerent à Rouan;
Où sont elles, Vierge souvraine?
Mais où sont les neiges d'antan?
Prince, n'enquerez de sepmaine
Où elles sont, ne de cest an,
Qu'à ce reffrain ne vous remaine:
Mais où sont les neiges d'antan?

(François Villon)

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Soneto LX


Corre o sol pelo céu azul-marinho;
Varre a barca na praia a ventania;
Vem de longe, suave, a melodia;
Nem se escuta do mar o burburinho.

Bate as asas na tarde um passarinho;
Uma flor faz completa a harmonia;
No ameno esplendor do fim do dia,
Dois coqueiros se abraçam com carinho.

Da cabana suspira com saudade;
Não sacia a beleza o seu desejo,
Mais queria era tê-la em suas mãos.

Seja sonho, loucura ou realidade,
Cedo ou tarde haveria algum ensejo,
Pois desejos de amor nunca são vãos.

Eliton Meneses

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O NOVO SEMPRE VEM?


É muito estranho ver jovens, na flor da idade, flertando com o que há de pior e mais velho na política. Jovens que, naturalmente, ao menos por toda uma ebulição hormonal, deveriam estar pensando em mudar o mundo, estejam justamente pensando em resgatar o pior da experiência humana, encarando o outro com intolerância, tratando-o como inimigo, desejando destruí-lo pela força. Jovens – inclusive o sobrinho, o primo segundo, o estagiário de Direito (sic), todos com menos de vinte anos – que votam em Bolsonaro, uma excrescência política que incorpora como ninguém a intolerância, o preconceito, a violência como uma panaceia para todos os males, a ignorância travestida de senso comum, tudo isso em um sujeito (minha nossa!) que não emenda com coerência três frases de um discurso. Do Hitler pode-se dizer que era um gênio do mal, um orador, um estrategista político e militar habilidoso, mas o que dizer do Bolsonaro? Bolsonaro é apenas um idiota, um sujeito muito limitado intelectualmente, extremamente insensível, além de arrogante, truculento e desagregador; enfim, um ser humano ridículo. O que faria as pessoas se agarrarem a Bolsonaro como a uma tábua de salvação? Não precisa ser psicólogo para saber que há algo relacionado ao medo e à desilusão, mas o medo e a desilusão é até natural que façam de pessoas de mais idade sujeitos mais acomodados e distantes do outro; no entanto, o jovem, por natureza, mesmo com medo e desiludido, não deveria cair na desesperança e na tentação do ódio, não deveria abraçar o primeiro sem-noção que promete a solução fácil dos problemas complexos atuais com fórmulas já fracassadas sistematicamente ao longo da história. Os jovens tendem naturalmente à tolerância, à sensibilidade e à inteligência. É com essas forças que normalmente constroem o novo... Aliás, em que novidade está pensando a nossa juventude? Que norte pretende adotar? Quem são atualmente os seus referenciais e as suas fontes de inspiração? Houve épocas em que os jovens se inspiravam em Cristo, em Gandhi, num filósofo qualquer ou até mesmo num cantor de rock que pregava a paz... Em quem a juventude atual se espelha? Onde está sendo plantado o novo? Em quem se inspira o jovem que vota no Bolsonaro? Bolsonaro é o retorno à barbárie, à lei do mais forte, do olho por olho, da violência e da intolerância, o que há, enfim, de mais velho e tosco da experiência humana. Bolsonaro é o nosso inconsciente primitivo sem domesticação. Bolsonaro é uma caverna empoeirada e coberta de teia de aranha que deveria gerar repulsa no jovem. Bolsonaro é o velho (mais velho) e não o novo! O novo ainda não apareceu e cabe aos jovens construi-lo, mesmo com medo e desilusão! 

sábado, 1 de setembro de 2018

RERUM NOVARUM

"Todo o conjunto de representações, conceitos e elos que mantinham unido o nosso mundo estão se dissolvendo e entrando em colapso como um quadro de sonho. Prepara-se uma nova fase do espírito. Especialmente a filosofia deve dar as boas-vindas a essa nova fase e reconhecê-la, enquanto outros, que inutilmente se opõem a ela, agarram-se ao passado." (Hegel)

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

FRASE DO MÊS


"Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis." (Drummond)

AMISTAD x AMOR


"Es que la amistad no necesita frecuencia. El amor sí. (...) El amor está lleno de ansiedades, un día ausente puede ser terrible, pero yo tengo tres o cuatro amigos a los que veo una o dos veces al año. (...) La amistad puede prescindir de la confidencia, pero el amor no. Si en el amor no hay confidencia, uno ya lo siente como una traición." (Borges)

ELEIÇÕES 2018


Haddad Presidente 13
Camilo Governador 13
Anna Karina Senadora 505
Pastor Simões Senador 500
Luizianne Deputada Federal 1313
Renato Roseno Deputado Estadual 50500

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Soneto LIX


Era ainda carente de amparo;
Relutava fitar além do muro;
Persistia com medo do escuro,
Apesar de julgar-se muito raro.

Confundia desdém com despreparo;
Espantava no sonho o falso auguro,
Quase nunca sentia-se seguro;
Precisava era mesmo de reparo.

Sua fala loquaz era canhestra;
Lucubrava a esmo pela destra,
Desatando a pior das suas feras.

Preferia espojar-se em plena lama;
Ruminar noite e dia amarga grama,
À espera quicá do fim das eras.

Eliton Meneses

sábado, 25 de agosto de 2018

PULCRO



– Que linda criancinha! 
– Ontem postei um belo pôr-do-sol e você não deu a mínima...
– O que é o sol diante de uma criança?
– Sem o sol não haveria nenhuma criança...
– A beleza não precisa criar; a beleza precisa simplesmente estar...

domingo, 19 de agosto de 2018

JANDAÍRA


Quando estava sóbrio, Jandaíra era tímido e acabrunhado. Andava calado, esquivo, um tanto sisudo. O difícil era encontrá-lo sóbrio... Seu último porre durou dois meses ininterruptos. Era torcedor do Botafogo, um dos únicos torcedores do alvinegro carioca na pacata vila da Palma; o Botafogo havia se sagrado campeão depois de vinte anos de jejum e não haveria pretexto melhor para cair na cachaça! Rodou então todos os bares da cidade numa euforia contagiante. 
– Dá-lhe, dá-lhe, Fogão!! É Botafogo ou num é??
Com a mesma roupa, a camisa alvinegra desbotada, o calção rasgado, a chinela com um prego, seguia pelas ruas feito um louco para desespero de sua pobre mãe idosa. Dona Hilda procurava em vão acompanhá-lo. Pedia aos bodegueiros para não vender cachaça para o filho; nada obstante, nunca faltava cana no mercado.
Às vezes o alcançava e tentava convencê-lo a ir para casa, mas ele a cobria de ofensas.
–  Sai daqui, Caninana! Vai-te embora, Satanás! 
Dona Hilda voltava triste e preocupada para casa. O que faria com a pequena mercearia do filho? Fechada, as coisas vencendo, sem receber e sem pagar... O filho estava perdido no alcoolismo. 
No final da segunda semana de embriaguez, Dona Hilda conseguiu finalmente levar o filho para casa. Ao chegar em casa, porém, Jandaíra foi recepcionado pela irmã na janela: 
– Vai dormir, Papudim!!
Ferido nos seus brios etílicos, Jandaíra retrucou a ofensa: 
– Vai-te embora, Santanás! Da fruta que eu gosto tu chupa até o caroço!!
A irmã não se conteve e bateu-lhe a porta na cara. Diante disso, Jandaíra deu meia volta e encontrou mais uma motivação para seguir sua cruzada etílica. 
Jandaíra estava decrépito, magro, pálido, não dizia coisa com coisa. Dona Hilda continuava atrás dele, não desistia do filho, mesmo com as ofensas que sofria.
– Vai-te embora, Caninana! Tu quer é frescar! 
Era tempo de eleição e um dos candidatos a prefeito viu em Jandaíra o entusiasmo que faltava ao seu eleitorado e fez dele um dos símbolos da sua campanha vitoriosa.
– Dá-lhe, dá-lhe Chico Bão!! É Chico Bão ou num é??  
Passada a eleição, sem mais um tostão furado no bolso, Jandaíra começou a recobrar a sobriedade, não porque o quisesse, mas porque o político sumiu e os bares já não mais lhe vendiam fiado. Dona Hilda então o convenceu a voltar para casa e, como a irmã não estava, conseguiu entrar sem problema e deitar na rede já previamente armada para um sono profundo sem prazo determinado para despertar.

domingo, 12 de agosto de 2018

DIÁLOGO


Eleumar Vaz: Doutor, o comunismo para que funcione é necessário que todos pensem de forma igual, ou sejam forçados a aceitar a vontade estatal, e isso só se consegue com forte repressão, cerceamento das vontades individuais, da liberdade de pensamento e associação, e com muita violência simbólica e em alguns casos, física. Diga me se não é assim, e se assim sendo, seria esse um sistema que pode viabilizar a felicidade e ser considerado justo?

Eliton Meneses: O comunismo é uma utopia, amigo! As utopias não são feitas para que as alcancemos, mas para que continuemos a caminhar. Não considero que vivamos no melhor dos mundos possíveis nem que a história tenha terminado. A busca por um mundo melhor continua, seja para alcançar a utopia do comunismo, para aqueles que acreditam na natureza humana, seja para alcançar uma outra possibilidade, para aqueles que não acreditam na bondade natural. Só espero que o amigo não esteja conformado e satisfeito com o capitalismo avançado mercadológico dos nossos tempos, crente de que ele é a página final da história... Tudo bem que vc não concorde com o caminho do comunismo, mas nesse caso teria duas opções: ou achar que já vivemos no melhor dos mundos ou pensar numa alternativa um pouco melhor e colaborar para a construção dela... Abraço!

Eleumar Vaz: Doutor. Obrigado pela resposta esclarecedora de seu pensamento e pela consideração em responder me. Quando vier a Coreaú, gostaria de ter um dedo de prosa com você, sem dúvida será esclarecedor para mim. Pessoalmente acredito ser mais fácil corrigir os erros do capitalismo do que os do consumismo, mas de fato o que acho que seria o mais próximo do ideal é o estado de bem estar social, ideia vigorante até a década de 80 e destruída por Regan e Thatcher, quando propuseram o neoliberalismo. O estado de bem estar social é o capitalismo com medidas compensatórias, é a ideia bem sucedida aplicada em alguns países europeus e asiáticos. É isso que eu almejo para o Brasil.

Eliton Meneses Ótimo, amigo! Em setembro vamos combinar uma prosa!!

Via Facebook

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

FIM DA HISTÓRIA?


"A mim parece que as democracias perderam, e perderam muito. Não obstante todos os excessos e os horrores, o comunismo sempre representa uma espera. Espera de poder corrigir os equívocos e as injustiças cometidas contra os mais fracos, espera de uma sociedade mais justa. Não digo que os comunistas tivessem pronta a solução, nem que a estivessem preparando. Longe disso. Mas havia a ideia de que a história teria um certo sentido. Que viver não seria um viver insensato. É uma ideia que os ocidentais tiveram no século XVIII e que Marx enraizou no pensamento do século XX. Não creio que perder essa ideia para sempre seja uma grande conquista espiritual. Até ontem, pelo menos, sabíamos para onde ia a história e que valor dar ao tempo. Agora vagamos perdidos, perguntando-nos a todo instante: 'Que horas são?'. Fatalistamente, um pouco como costumam perguntar os russos. Que horas são? Ninguém sabe." (Emmanuel Levinas, filósofo francês)   

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

LVIII


O vento frio adentra na janela;
A hora é tarda mas não vem o sono;
De nada importa estarmos no outono,
Se dentro em mim habita uma procela.

Os pensamentos inda seguem nela;
Quisera ser na vida um cão sem dono;
Poder curar pra sempre o abandono;
Compor com ela a dois uma novela.

A vida às vezes prega cada peça; 
Sutil nos embriaga em puro vinho,
Deixando-nos em meio à encruzilhada.

Devemos ser austeros na promessa;
Voltar de corpo e alma ao nosso ninho,
Enquanto ainda há luz no fim da estrada.

Eliton Meneses

terça-feira, 31 de julho de 2018

FRASE DO MÊS


"O ideal está no futuro não como objeto de desejo, mas como referência de direção." (Kant)

SÍMBOLO


A vida e a arte andam entrelaçadas. Quando as circunstâncias parecem inconciliáveis, uma serve de refúgio para a outra. Os símbolos escondem às vezes na arte o que a vida não permite ostentar. O amor interdito pode ser depositado em duas caixinhas decoradas cada uma com um coração, como uma aliança simbólica talvez mais representativa do que uma clássica aliança de ouro. Essas duas caixinhas, onde quer que elas estejam, devem ser muito bem cuidadas, pois são elas que simbolizam o amor que realmente existe mas que não pode ser ainda desenvolvido em sua plenitude; são elas que colmatam o vazio da vida e asseguram a plenitude no plano ideal; são elas, enfim, que afiançam a existência da cumplicidade do amor e a coragem de exercê-lo, ainda que na medida limitada do possível. A retirada das caixinhas representa a morte de um plano, significa o rompimento do elo do amor e é o mais notório sinal de que a vida venceu a arte e de que o sonho acabou.   

AFORISMOS: SOBRE O AMOR


O amor vence (quase) tudo.

O amor é uma via de mão dupla. 

A coragem é da essência do amor.

Não finja amizade diante do amor.

O amor e o tempo são os dois grandes mistérios.

BORGES


"— ¿Considera que somos un país culturalmente atrasado?
— Sí; creo que sí. Estamos padeciendo todavía en lo intelectual y en lo moral, las consecuencias de la época de la dictadura.
— ¿Cómo se manifiesta ese atraso?
— Entre otras formas, por una incapacidad para desarrollar esfuerzos desinteresados. Todo se hace con propósitos materiales, especialmente pecuniarios. (...)"
(Jorge Luis Borges, em entrevista sobre a Argentina, mas que poderia ser sobre o Brasil...)

domingo, 29 de julho de 2018

UM BREVE OLHAR SOBRE O MUNDO HODIERNO


Vivenciamos ontem um fenômeno astronômico interessante. Fosse num passado mais distante, ficaríamos estupefatos e assombrados. Mas não. De antemão a ciência cuidou de explicar. Como tem explicado tantos outros fenômenos. Estamos vivendo uma época de ouro. Várias tecnologias, aperfeiçoamento em diversos campos (Medicina, Matemática, Engenharias, etc). Também destaque para as proezas da rede mundial de computadores. Tudo mais fácil, mormente na seara da comunicação.  Alguns desinformados acham que o fim do mundo. Nada disso. Estamos caminhando, conquanto ser humano. Até nosso pensamento evoluiu. Tudo mudou. Como sempre vai mudando. Aceitar e compreender as mudanças, torna-nos mais aptos para a convivência. Por detrás disso há um SER no comando. Somos eternas criaturas, dotadas de corpo e espírito. O que é transcendental foge ao nosso raciocínio, à razão humana. Há muito MISTÉRIO nesse sentido. A Ciência, a Filosofia e a Religião buscam em vão respostas. Muito embora a Filosofia afirme que muito mais faz perguntas, mais indaga do que responde. A zona do MISTÉRIO sempre foi e será um campo de segredos (secreto). Não nos cabe desvendar. Cabe-nos viver, cada mimento da vida, em sua plenitude, com responsabilidade, como "se não houvesse amanhã". A vida é um dom belíssimo. O futuro ninguém sabe. E para terminar, coloquemos sempre uma dose de AMOR em tudo à nossa frente.

Fé em DEUS, fé na VIDA.

Fernando Albuquerque

quarta-feira, 25 de julho de 2018

ELA

Poeta sou e não nego;
Escrevo, canto e suspiro;
Talvez a dor que carrego
Já vem no ar que respiro. 

A flor menina que rego,
É nela em que me inspiro.
A outra face do ego,
Por quem no mundo deliro.

Bem sei ao certo o que quero:
Seguir com quem eu venero
Por cada passo da vida.

Com ela sou todo afeto,
Me sinto eu mesmo, completo;
Sem ela, barca perdida.

Eliton Meneses

quinta-feira, 12 de julho de 2018

SAUDADE





"Saudade mata, é verdade;
Mas dessa morte eu me esquivo.
Como morrer de saudade,
Se é de saudade que eu vivo?"
  
                   (Antônio Pereira)

Saudade sentia de noite;
Saudade sentia de dia;
Não sei se morreu de saudade
Ou se de saudade vivia.

(Eliton Meneses)

segunda-feira, 9 de julho de 2018

PONDÉ


Em entrevista à Globonews, Luiz Felipe Pondé, um dos principais pensadores nacionais da atualidade, acaba de dizer que não se incomoda de ser chamado de direita, porque, dentre outras coisas, segundo ele, invocando Margaret Thatcher (sic), debaixo de tudo que o comunismo pisa não nasce grama... Ou seja, um dos nossos principais pensadores não sabe a diferença entre esquerda e comunismo (...), demonstrando que, nesse aspecto, está no mesmo nível intelectual de um Alexandre Frota e de um Bolsonaro.
Foi-se o tempo em que me mortificava com a eliminação da seleção nacional de futebol numa Copa do Mundo. Hoje, trocaria facilmente uma Copa do Mundo por um Prêmio Nobel, mesmo considerando ambos igualmente contestáveis.
Hoje, o que me incomoda, por exemplo, é países como a Argentina, o Chile, a Colômbia, o México, o Peru (...) terem vencido o Nobel e o Brasil jamais ter chegado sequer perto de ganhar um, em mais de 100 (cem) anos de premiação...

sábado, 7 de julho de 2018

LVII


Por onde andarás, amada minha?
Por onde andarás, por esta hora?
Talvez a andar em meio à flora;
Talvez a sonhar em meio à vinha.

Queria saber onde caminhas;
Queria te ter comigo agora;
Sairmos nós dois no mundo afora;
Perdermos nós dois as mesmas linhas.

A barca no mar ainda espera,
Saudosa na noite, à luz da lua,
Que chegues sorrindo, forte e bela.

Quem sabe amanhã a primavera
Trará uma flor, só minha e tua,
Num vento que sopre a nossa vela.

Eliton Meneses

sexta-feira, 6 de julho de 2018

ELIMINAÇÃO


Na primeira Copa do Mundo de que tenho lembrança (Copa de 86), depois da eliminação para a França, mamãe flagrou papai chorando num canto e, com a sutileza de um elefante numa loja de vidros, tentou reconfortá-lo:
– Deixa de ser besta, cabra besta! Esses caboco não vão te dar nem um prato de comida pra comer...!!

P.S.: Ao fim e ao cabo, é apenas um jogo; ganhar ou perder faz parte... A vida é muito maior!

sábado, 30 de junho de 2018

FRASE DO MÊS


"(...) et nous errions, nourris du vin des cavernes et du biscuit de la route, moi pressé de trouver le lieu et la formule. (Arthur Rimbaud)

COPA DO MUNDO


Nasci quatro meses antes da Copa do Mundo de 78. Não tenho qualquer recordação da Copa de 82. Na Copa de 86, lembro vagamente de alguns jogos, dos gols do Josimar e sobretudo do último jogo do Brasil contra a França. Estava tão seguro que, durante a partida, fui com uma turma ver o circo que havia chegado há poucos dias no Alto, quando a partida já estava 1x0 para o Brasil. Na volta, a França de Michel Platini havia empatado e vi meu pai chorar depois das disputas nos pênaltis. Em 90, lembro de cada jogo da Copa, sobretudo do último contra a Argentina. Depois do lance do Maradona e do gol de Canigglia, saí pelas ruas da Palma meio perplexo, parando vez por outra nas casas pra ver se o Brasil já havia empatado. O empate não veio. A tristeza foi enorme. Os Bréus diziam que o Brasil só tinha sido campeão quando a bola era quadrada. Depois da derrota precoce em 90, a sensação era de que não seríamos nunca mais campeões. Pedão, depois da Copa de 86, passou quatro anos usando a camisa da Argentina... Em 1994, já em Fortaleza, não aguentei ver a disputa de pênaltis na final. Somente quando vi a comemoração na cobrança do pênalti do Baggio, voltei da rua pra também comemorar. Em 98, assisti à derrota na final na casa da irmã. Só ela e eu. Ela muito grata por eu consolá-la da derrota inusitada por 3x0 para a França. O Brasil foi à final, já era alguma coisa. A França era dona da casa e nunca havia conquistado uma Copa. Em 2002, consegui assistir à final contra a Alemanha, mas em pé e caminhando de um lado pra outro, naquela inesquecível manhã de domingo. Depois da vitória, fomos à praia com o Gilmar. Em 2006, vi em casa a França novamente ser o algoz do Brasil com o gol de Tierry Henry. Em seguida fomos passear na Praça da Gentilândia. Ah, o Brasil já era penta, não se ganha sempre... Em 2010, foi a vez da Holanda ser nosso algoz. Morava em Roraima, mas passava férias em Fortaleza. Assisti ao primeiro tempo no estacionamento do Condomínio Marly. 1x0 pro Brasil, jogando muito. Depois veio o segundo tempo, as coisas desandaram e a Holanda virou com Sneijder. Foi bem frustrante. Depois de três finais seguidas em 94, 98 e 2002, estávamos mal acostumados. Cair pelo caminho nas duas Copas seguintes demonstrava que o Brasil já não tinha a hegemonia do futebol. Em 2014, tudo andou bem até o jogo contra a Alemanha. A Copa era em casa e mesmo sabendo que o Brasil não era a melhor equipe, o fator casa e o peso da camisa poderiam ajudar, sobretudo numa semifinal e numa final. Nada disso importou para a Alemanha, que friamente, aproveitando-se, claro, da ausência de Neymar e de Thiago Silva, além do descontrole emocional da Seleção, aplicou-nos o histórico 7x1. A derrota para a Holanda por 3x0 na disputa do terceiro lugar acabou sendo um detalhe. Agora em 2018, sem Alemanha e Argentina, já eliminadas, e sem a Itália, que nem chegou a se classificar para a Copa, o Brasil teria chance, se não viesse jogando um futebol tão precário e se não tivesse ainda pela frente, por exemplo, seleções como a Espanha e a França... Ih, de novo a França... De qualquer modo, como ninguém mais pode ser penta nesta Copa e o Brasil ainda pode até ser hexa, estamos aqui para torcer... Vamos, Brasil!

ALTOS E BAIXOS : ESPECIAL COPA DO MUNDO


EM ALTA

O Uruguai, que tem um time inteiro muito bom, começando pelo goleiro Muslera e terminando com Soaréz e Cavani, que, além de craques, jogam cada partida da Copa do Mundo como se fosse a última de suas vidas.  

EM BAIXA 

As atuais campeã e vice, Alemanha e Argentina. A Alemanha, por um certo salto alto, acabou eliminada na primeira fase. A Argentina tinha Messi, Di María e Mascherano, mas, para além desses, era um time bem ordinário, sobretudo na defesa, e foi eliminado, com justiça, nas oitivas.

EM ALTA 

A reafirmação de que o futebol é um esporte coletivo. Ninguém ganha sozinho uma competição como a Copa do Mundo. É preciso ter uma grande equipe para além de um craque fora de série. Por isso, Messi e Cristiano Ronaldo se despediram no mesmo dia da Copa da Rússia. A Argentina e Portugal nesta Copa passaram longe de serem boas equipes. Quando isso acontece, não há Messi, nem Cristiano Ronaldo, nem Pelé, nem Maradona que resolva... 

EM BAIXA 

O futebol africano, cujas seleções foram todas eliminadas na primeira fase da Copa do Mundo.

CHOICE TO MARRY


"(...) the person whom you choose to marry is perhaps the single most vivid representation of your own personality. Your spouse becomes the most gleaming possible mirror through which your emotional individualism is reflected back to the world. There is no choice more intensely personal, after all, than whom you choice to marry; that choice tells us, to a large extent, whom you are." (Elizabeth Gilbert)  

segunda-feira, 25 de junho de 2018

ENIGMA


Latifúndio, beijo, toque...
Nem traiu e nem amou...
A quimera do escravo...
Era vidro e se quebrou.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

LVI


Todos querem pagar as suas contas;
Falta tempo pra ter qualquer deleite;
Segue o junho de Copa sem enfeite
De pessoas que nem baratas tontas.

Ninguém sabe juntar as duas pontas;
Uns reclamam da nota sem aceite;
Outros querem pra si todinho o leite,
Nesta era de coisas todas prontas.
  
O consumo se faz a meta humana;
O prazer se resume ao que emana
Do produto que compra o vil metal.

Cada vez as pessoas mais amargas,
Percorrendo apressadas ruas largas,
Vão perdendo o que há de essencial. 

Eliton Meneses

domingo, 17 de junho de 2018

FUTEBOL




O futebol. Ah, o futebol...
O futebol que inebria, que contagia, que, às vezes, faz poesia com os pés.
Muito mais que um esporte: uma seita, uma catarse coletiva...
O encontro dos povos em torno de uma bola.
Uma guerra sem armas; um choro sem lágrima.
A conquista do mundo sem destruir ninguém.
Algo demasiado estranho na linha frágil do racional.

Há forças ignotas que nos regem:
Bandeiras, mapas, nomes, símbolos...
Há forças contra as quais não adianta resistir.

Dizem que é o ópio do povo;
Ora, mas quem disse que o alimento do corpo vale mais que o alimento da alma...?

Eliton Meneses

sábado, 16 de junho de 2018

domingo, 10 de junho de 2018

ÁRVORE



Um menino espiava ao longe uma árvore. Mergulhado até o nariz no rio, mirava distante uma árvore que se destacava em meio às demais. Uma árvore na serra ao longe. Perto dela, as outras pareciam grama. No alto da serra, uma árvore se destacava das outras. Grande, imponente, feminina... Até parecia acenar para o menino. Fala-se que toda pessoa deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Aquele menino não precisou plantar a árvore. Ainda pequeno adotou uma. Uma árvore distante, da qual nunca se aproximou. Mas uma árvore que era sua, mesmo sem nunca tê-la tocado. Durante os anos em que morou na Palma, pensou em subir a serra, ir ao encontro dela, tocá-la, saber de que espécie era. Nunca foi. Passaram-se os anos e, morando distante, toda vez que volta à terra, para na estrada antes da cidade para contemplar sua árvore, ainda altiva no topo da serra depois de tantos anos, cada vez mais forte, cada vez mais bela. Quem sabe um dia ainda suba a serra, para vê-la de perto, para tocá-la. De todo modo, a árvore e o menino são íntimos mesmo sem se tocarem, mesmo sem se verem de perto. A árvore permanece parada no topo da serra enquanto o menino caminha pelo mundo. De alguma forma, o menino carrega consigo a árvore e a árvore mantém consigo o menino no topo da serra. Desde aquela longínqua manhã de verão no rio que o menino carrega consigo aquela árvore. Os dois se gostam e necessitam um do outro. A árvore, para que o menino a carregue pelo mundo; o menino, para que a árvore mantenha fincadas as raízes dele no chão da sua terra...

domingo, 3 de junho de 2018

LV


Anoitece e ainda escuto a lira;
O amor é um símbolo sagrado;
Não devemos deixá-lo magoado,
Mesmo quando vencidos pela ira.

Solitário, um corpo inda delira,
Com os olhos no céu enluarado;
Tão distante agora o ser amado
Dum poeta soturno que suspira.

Corre a flor amarela pelo vento;
A saudade é a dor que mais consome
A rotina cruel dos dias meus.

O amor é de Deus maior invento;
É difícil matar a minha fome,
Sem a chama da luz dos olhos teus.

Eliton Meneses

quinta-feira, 31 de maio de 2018

FRASE DO MÊS


"O homem é aquilo que ele ama." (Bhagavad Gîta)
 
"Quem ama quer formar um com quem ama. (...) O ser humano torna-se o que ele ama: aquele que ama a terra, torna-se terra; aquele que ama o Deus eterno irá compartilhar da eternidade com Deus”. (Sto. Agostinho. in A Cidade de Deus, vol. 2, XIV, 28). 

domingo, 27 de maio de 2018

GALOPE À BEIRA-MAR


Sonhaste que um dia serias um sábio,
Pras coisas do mundo sentir as entranhas;
Num cavalo alado por sobre as montanhas,
Com todo o roteiro num velho alfarrábio.
Da virgem mais pura terias o lábio,
Na noite mais fria sem mesmo cismar.
Terias de tudo — de sol a luar;
Seriam só tuas as flores mais lindas;
A vida teria belezas infindas;
Agora rastejas na beira do mar. 

Eliton Meneses

sexta-feira, 25 de maio de 2018

PEDRA ANGULAR DA FILOSOFIA E RELIGIÃO


"(...) a Realidade Infinita e Transcendente é finitamente imanente em todos os seus efeitos nas criaturas do Universo. Para encontrar essa suprema Realidade (Deus) não é necessário que o homem saia do mundo dos fenômenos transitórios, como pensam os dualistas, mas que penetre mais profundamente no último reduto desse mundo e descubra o Invisível  nos visíveis, o Eterno nos temporários, a Realidade no meio das aparências, o Criador em todas as criaturas. É esta a gloriosa conquista dos místicos e videntes, como Francisco de Assis e outros: viam a Deus em todas as suas obras." (Huberto Rohden. in Comentário ao Bhagavad Gita)

LIV


 A vida nos prepara cada espanto,
 A cada curva surge mais segredo;
Do nada, eis que troca de enredo,
Fazendo-nos perder o velho encanto. 

Sonhamos tanta coisa e, no entanto,
 A noite chega escura e traz o medo;
Suprime do poeta em seu degredo:
A vela, a lua, o mar, um certo canto.

Depois de ter a mente povoada
Do lúdico presságio de um verso,
Caímos no sol quente do deserto.

Sentados numa barca abandonada,
Sentimos quanto é duro o universo,  
Seguindo à deriva em mar aberto. 
 
Eliton Meneses

quarta-feira, 23 de maio de 2018

OS IRMÃOS KARAMAZOV :: DOSTOIÉVSKI


1) "O demônio luta com Deus e o campo de batalha são os corações humanos.";
2) "Na maioria dos casos, os homens, mesmo os mais perversos, são muito mais ingênuos e simples do que julgamos. E nós próprios também.";
3) "Sabeis que cada um de nós é culpado por todos os pecados que acontecem sobre a terra e também por todos os homens e por cada um deles individualmente.";
4) "É preciso cuidar das pessoas como se elas fossem crianças, e de algumas como de doentes nos hospitais.";
5) "Eu conheço os seus pensamentos. O seu coração é melhor que a sua cabeça.";
6) "Tratam das questões universais, nem mais, nem menos: existe Deus? A alma é imortal? Os que não acreditam em Deus, falam de socialismo e anarquismo e da organização de toda a humanidade numa ordem nova; são as mesmas questões, vistas por outro prisma.";
7) "Porque estamos diante de um temperamento contraditório capaz de reunir todos os contrastes e de contemplar ao mesmo tempo dois abismos, o de cima – o ideal dos ideais sublimes, e o de baixo – o abismo da mais ignóbil degradação.";
8) "A humanidade achará força em si mesma, viverá para a virtude mesmo que não creia na imortalidade da alma! Achará esta força no amor à liberdade, à igualdade, à fraternidade.";
9) "Não podemos tirar amor do nada; somente Deus cria no vazio."
10) "Em nosso século, todos se dividiram em unidades. Cada um se isola em sua toca e esconde-se junto com os seus pertences; desse modo, afasta-se dos seus semelhantes e afasta-os de si. Acumula sua riqueza completamente só, pensando: 'Como sou forte agora e como estou garantido!'. Ignora o insensato que, quanto mais acumula, tanto mais se abisma numa impotência fatal. Ele se habituou a confiar unicamente em si, apartou-se da coletividade, acostumou sua alma a não crer no auxílio dos homens nem na humanidade e treme só com a ideia de perder o seu dinheiro e os direitos conseguidos. Por toda parte, atualmente, o espírito humano começa a esquecer ridiculamente que a verdadeira garantia do indivíduo não consiste no seu esforço pessoal e isolado, mas na solidariedade humana."

domingo, 13 de maio de 2018

TIO CALANCHO


Tio Calancho me esperava com sua pachorra característica desde cedo. Umas sete da noite já estava sentado na calçada, esperando o menino da Leda para dormir. Eu chegava sem pressa, estranhando bastante aquele horário do tio-avô. Tio Calancho era casado com tia Mementa, irmã de vovó Ritinha. Tia Mementa e mamãe estavam em Fortaleza, passando um mês para cuidar da saúde. Tive que me despedir antes da hora dos meninos que brincavam de macaca na calçada do oitão de casa. João me assegurou que a pronúncia correta era: – Pre-da... e não pe-dra, como eu havia pronunciado. 
Tio Calancho me recebeu com um sorriso. Pronunciou alguma coisa que não consegui entender. Em verdade, não conseguia entender quase nada do que ele falava. Era alto, velho e bonachão. Um sujeito que não fazia mal a uma mosca. A primeira mulher havia morrido e ele resolveu casar com Mementa, já coroa. Sentei um instante, olhei os meninos brincando na rua, tio Calancho percebeu meu interesse e me convidou para entrar. Ofereceu-me chá, peta, uma xícara de leite... Recusei. Tinha acabado de jantar.   
A casa tinha poucos pertences. Umas cadeiras, uns retratos na parede, uma mesinha... Não tinha televisão. Entramos pelo corredor, passamos o quarto sem porta, na cozinha ainda fumegava uma panela no fogão à lenha. O quintal estava escuro, escutava-se apenas um leve cacarejo das galinhas. A Coluna da Hora bateu uma única chamada. Era 7h30min. Tio Calancho já queria dormir. Armou sua rede, armou minha rede do lado da dele, me deu um lençol e se deitou.  
Caiu como uma pedra na rede. Em instantes começou a roncar. Um ronco leve, que não incomodava. Queria conhecer melhor tio Calancho, perguntar sobre sua vida, mas não adiantaria, a comunicação era difícil. Quando ele ferrou no sono me levantei e fui ver pela brecha da porta os meninos brincando na rua. Não podia sair. Quando eles foram embora voltei para a rede. Tio Calancho pronunciava umas palavras sonhando. Tentei entender, não adiantou. Peguei no sono por volta da meia-noite.
O dia nem havia ainda clareado, umas quatro e meia da manhã, e tio Calancho já estava de pé. O cheiro agradável do café tomava de conta da casa. Permaneci deitado, ouvindo o galo cantar. O galo do tio e todos os outros dos quintais vizinhos. Uma verdadeira sinfonia de galos. Logo que a luz do dia penetrou na casa, ele veio me chamar para tomar café. Jogou um farelo para as galinhas no terreiro e sentou-se na mesa. Café, leite, tapioca feita na hora, queijo, ovos... Bem melhor do que eu poderia esperar.
Tio Calancho já acordava sorridente. Balbuciou alguma coisa, acho que sobre vovô, e caiu numa gargalhada. Óbvio que não entendi nada, mas por simpatia também sorri. Continuou comendo e falando e entendi que estava com saudade de tia Mementa. Não gostava de ficar só. Depois foi no quarto, veio com um cavalinho de carnaúba e me deu de presente. Foi ainda no galinheiro, pegou uns ovos e também me deu. Tio Calancho era um amor de pessoa. Às seis horas, voltei para casa.
Quando me dirigi à casa dele na noite anterior, era como se estivesse caminhando para o calvário. Agora, de volta para casa, ia até com uma certa saudade do bom velhinho e sem nenhum medo de que uma nova noite chegasse...

domingo, 6 de maio de 2018

AUFKLÄRUNG




"Aufklärung ist der Ausgang des Menschen aus seiner selbstverschuldeten Unmündigkeit. Unmündigkeit ist das Unvermögen, sich seines Verstandes ohne Leitung eines anderen zu bedienen. Selbstverschuldet ist diese Unmündigkeit, wenn die Ursache derselben nicht am Mangel des Verstandes, sondern der Entschließung und des Muthes liegt, sich seiner ohne Leitung eines anderen zu bedienen. Sapere aude! Habe Muth, dich deines eigenen Verstandes zu bedienen! ist also der Wahlspruch der Aufklärung." (Immanuel Kant)

"O Iluminismo é a saída do homem do estado de tutela, pelo qual ele próprio é responsável. O estado de tutela é a incapacidade de utilizar o próprio entendimento sem a condução de outrem. Cada um é responsável por esse estado de tutela quando a causa se refere não a uma insuficiência do entendimento, mas à insuficiência da resolução e da coragem para usá-lo sem ser conduzido por outrem. Sapere aude! Tenha a coragem de usar seu próprio entendimento. Essa é a divisa do Iluminismo." (Immanuel Kant)

sábado, 5 de maio de 2018

DA AUSÊNCIA DO DIREITO...


Acho que hoje vivi um pouco do que é o espírito de Antígona de Sofócles no plantão de hoje da Defensoria Pública.
Um homem, junto com sua mãe, esperavam desde às 9:00 da manhã um atendimento para conseguir autorização judicial para poder inumar (enterrar) sua filha recém-nascida. Meio-dia comecei a atendê-los. O homem vivia em união estável com sua companheira há 2 anos e meio. Na última terça-feira, 1.º de maio, ela começou o trabalho de parto e infelizmente veio a falecer. A criança sobreviveu, mas hoje, por volta das 3h da manhã, teve a terrível notícia que sua filha também falecera. Como vivia em união estável e não eram casados, não tinha como registrar sua filha para que depois de registrada pudesse receber a certidão de óbito para poder inumar sua filha e fazer a certidão de óbito. Os pais da mãe da criança também era falecidos, tendo como único parente uma tia que ali não se encontrava!!
Após ligação para cartório plantonista do Sisob, tive a informação de que se autorizaria fazer o registro de nascimento sem nome do suposto pai pela tia, desde que com uma simples autorização judicial. Realmente não vi na lei do Registro Público a possibilidade de se fazer o registro público da criança falecida pela tia da mãe também falecida.
Consegui falar com a equipe do plantão judicial no inicio da tarde, informando que ajuizaria a demanda assim que a tia da mãe falecida chegasse, com o intuito de fazer um pedido judicial de autorização para que a tia pedisse uma autorização para, no mínimo, vendo aquelas pessoas arrasadas, dar o mínimo de dignidade com a inumação da criança o quanto antes.
A tia se deslocou do Montese até o Fórum Clóvis Beviláqua, ante a lentidão do transporte público. Nesse intervalo, ainda atendi um pedido de UTI de um senhor que se encontrava em uma UPA e não conseguia vaga de transferência.
A tia da mãe chegou por volta das 16:30 e, ante a seleção de papeladas, confecção de peça inédita, mencionei toda a situação exposta e, finalmente, ao consegui protocolar a petição, o sistema indicou 18:05.
Após se deslocar à secretaria, o homem chorando afirmou que não iriam apreciar o pedido porque havia passado 5 minutos. O plantão é apenas até 6 horas.
Sei que se pode dizer: passaram-se 5 minutos!!! A regra é clara!!!
Mas vendo toda essa situação me indaguei: Ganhamos bem comparando com a maior parte dos brasileiros para nessas horas termos essa postura!?
Mesmo sem se render ao fraco argumento financeiro, um possível ativismo pró-humano (já que ultimamente tem-se destacado o contra) diante desse caso iria provocar uma sanção gravíssima a quem tivesse sensibilidade com a situação!?
O formalismo de 5 minutos e a vontade de ir pra casa no plantão, usufruir o sábado à noite, estão acima da dignidade dessa pessoa que ainda terá que esperar mais tempo para inumar uma criança recém-nascida!?
Acho que às vezes temos que ser um pouco Antígona, porque a burocracia e o distanciamento da realidade fazem virarmos desumanos!!!
Vou acompanhar a situação e espero que a sensibilidade humana que independe de classe social, nível intelectual, religião, ideologia, prevaleça e essa criança possa ser inumada o quanto antes, um mínimo de conforto ante as duas perdas de quem sofreu um revés da realidade ante os sonhos!!!

Vagner de Farias
Defensor Público

LIII


Passa-se o tempo e não muda o retrato;
Chamas devoram os móveis do quarto;
Gritos ecoam, atrozes, um parto;
Corre quem pode pro páramo ingrato. 
 
Chegam distante notícias do fato;
Negam as causas, do que estou farto;
Nada traduz essa dor que comparto;
Segue existindo entre nós um hiato.

Sempre sujeitos aos mesmos percalços,
Pobres sem casa, desnudos, descalços,
Vagam sem rumo nas ruas sem fim.

Seres humanos, com frio, com fome;
Mortos ou vivos, pervagam sem nome; 
Dores que sentem também doem em mim.

Eliton Meneses

segunda-feira, 30 de abril de 2018

FRASE DO MÊS


"The mind is its own place, and in itself can make a heaven of hell, a hell of heaven." ― John Milton, Paradise Lost

DEUTSCHER DIALOG


P. – Hallo, F.! Wie geht's?
F. – Sehr gut. Ich habe Hunger.
P. – Ich auch. Möchtest du etwas essen?
F. – Ja!

In der Gaststätte

F. – Ich möchte Salat, Brot und Wasser.
P. – Hast du jetzt keinen Hunger?
F. – Doch, ich habe großen Hunger. Was bekommst du?
P. – Ich wollte eine Suppe und ein Eisbecher.
F. – Warum das? Du sollst eine Wurst nehmen.
P. – Nein, ich bin zufrieden. Ich habe keinen großen Hunger.
F. – Ach so, dann ist das genug.

Nach zwanzig Minuten

F. – Diese Gaststätte ist schrecklich! Ich möchte etwas zu essen!
P. – Wir gehen!

AÇÃO CIVIL PÚBLICA : RÉPLICA


domingo, 29 de abril de 2018

HUMANITAS


La dignité de la personne humaine: "(...) est une perpétuelle quête dans le droit qui provient du droit romain et traverse toute l'histoire de notre savoir, ayant subi de multiples vicissitudes, qui n'ont jamais pu occulter la permanente demande réciproque: le droit réclame toujours, tout simplement parce que le savoir juridique n'est pas plus qu'un instrument pour la réalisation de l'être humain et, en tant que tel, il n'a pas de boussole quand il s'éloigne de l'anthropologie basique qui fait de lui une chose parmi d'autres choses." (Eugenio Raúl Zafarroni)

ESTÁTUA DE SÃO FRANCISCO : CANINDÉ/CE



Estátua de 30,25m, do escultor Mestre Bibi, inaugurada em 04.10.2005.

DONA RAIMUNDA


Morava sozinha naquela casa estreita. O tempo havia passado. A idade avançada impunha limitações. Pedia um menino para comprar o gás. Não se acostumara à luz elétrica. Preferia a lamparina durante a noite. Sentava na calçada no fim da tarde e somente se levantava para dormir. Não casara. Não tivera filho. A vida passara depressa. Ainda ontem, menina, corria livre na fazenda. Hoje vivia do aposento, já quase aos oitenta. Ensinou muitas gerações da cidade. Chegou pequena na rua. Aos quinze um amigo lhe propôs casamento. Era muito cedo. Precisava estudar. Não falou mais com ele depois da proposta. O tempo passou e não vieram novas propostas. Não queria ser como a mãe. Queria ser independente. Acabou sendo. Fora uma professora respeitada. Ocupara muitos cargos. Não se arrependia de nada. Cada um segue seu caminho. Não se sentia solitária. Tinha seus gatos, a vizinha amiga, uma prima que vinha visitá-la. Gostava de ver o retrato de formatura na parede. Os certificados emoldurados ao redor. Nunca pensou viver sob as asas de um homem. Durante um tempo pensou em criar um filho, mas o tempo era pouco e foi protelando a ideia. Quando a idade foi chegando, os problemas de saúde foram aparecendo e a ideia de adotar uma criança foi esquecida. Vivia feliz. Todo sábado ia à missa. Ouvia rádio na madrugada. Fazia a própria comida. Precisava de muito pouco. Não fossem os remédios sobraria dinheiro. Gostava de varrer a casa ouvindo música do seu tempo; varria a calçada, o quintal e a rua. Às cinco, já estava desperta para receber o padeiro... 

sábado, 28 de abril de 2018

ULISSES x BLOOM


"Você não acha a busca por heroísmo uma baita vulgaridade? [...] Tenho certeza, no entanto, de que toda a estrutura do heroísmo é, e sempre foi, uma baita mentira e de que não há substituto para a paixão individual como força motriz de tudo." (James Joyce) 

Contexto: Odisseia (Homero) x Ulysses (Joyce)

sexta-feira, 27 de abril de 2018

MOLINOS DE VIENTO




— ¿Qué gigantes? —dijo Sancho Panza.
— Aquellos que allí ves — respondió su amo —, de los brazos largos, que los suelen tener algunos de casi dos leguas.
— Mire vuestra merced — respondió Sancho — que aquellos que allí se parecen no son gigantes, sino molinos de viento, y lo que en ellos parecen brazos son las aspas, que, volteadas del viento, hacen andar la piedra del molino.
— Bien parece — respondió don Quijote — que no estás cursado en esto de las aventuras: ellos son gigantes; y si tienes miedo quítate de ahí, y ponte en oración en el espacio que yo voy a entrar con ellos en fiera y desigual batalla.
(Don Quijote de La Mancha)

sábado, 21 de abril de 2018

LII


Somos seres que vagam num deserto,
À procura de ver qualquer miragem:
Um oásis que seja longe ou perto;
Uma tenda que sirva de paragem.

Quando é noite se dorme a céu aberto;
Temos sonhos despidos de coragem;
Quase todos pensando descoberto
O segredo que rege esta viagem.

Sob os raios do sol renasce a chama;
Há um mito distante que inda clama;
Um amor que nos faz sentir eternos.

Quando estamos à beira do delírio,
É preciso lembrar que há um Lírio,
A livrar-nos dos males dos infernos.

Eliton Meneses

quinta-feira, 19 de abril de 2018

SOBRE HÉROES Y TUMBAS : SABATO




– Creo que la verdad está bien en las matemáticas, en la química, en la filosofía. No en la vida. En la vida es más importante la ilusión, la imaginación, el deseo, la esperanza.

¿Qué, quieren una originalidad total y absoluta? No existe, en el arte ni en nada. Todo se construye sobre lo anterior. No hay pureza en nada humano.

(...) a medida que nos acercamos a la muerte también nos acercamos a la tierra, y no a la tierra en general, sino a aquel pedazo, aquel ínfimo (¡pero tan querido, tan añorado!) pedazo de tierra en que transcurrió nuestra infancia, en que tuvimos nuestros juegos y nuestra magia, la irrecuperable magia de la irrecuperable niñez.

(...) la memoria es lo que resiste ao tiempo y a sus poderes de destrucción, y es algo así como la forma que la eternidad puede asumir en ese incessante tránsito.

Siempre – decía – llevamos una máscara, una máscara que nunca es la misma sino que cambia para cada uno de los papeles que tenemos asignados en la vida: la del profesor, la del amante, la del intelectual, la del marido engañado, la del héroe, la del hermano cariñoso.

(...) quedamos así durante esos instantes que no forman parte del tiempo sino que dan acceso a la eternidad.

(...) no se puede luchar durante años contra un poderoso enemigo sin terminar por parecerse a él (...)

Eran como dos universos opuestos, y, sin embargo, de algún modo estaban entrañablemente unidos por un vínculo ininteligible pero poderoso.

(...) no hay casualidades sino destinos. No se encuentra sino lo que se busca, y se busca lo que en cierto modo está escondido en lo más profundo y oscuro de nuestro corazón.

Todavía no había llegado la época en que uno sabe que nada de los seres humanos debe asombrarnos.

(Ernesto Sabato. in Sobre héroes y tumbas. )