quinta-feira, 15 de novembro de 2007

La macchina del tempo

Io vorrei tornare indietro nella macchina del tempo fino ao tempo di Gesù. Mi piacerebbe conoscerlo. Soltanto conoscerlo e poi lasciarlo in pace. Ma prima andrei a ringraziarlo per tutte le cose che hanno nel mondo (sopprattutto per mio bambino Giovanni Pietro). E nemmeno slegare un sospiro di lamento per tante altre cose che non posso capire... Non affligerebbe Gesù con richieste. Magari gli porterei un regalo. Un regalo colto nel giardino in cui viviamo. Io gli porterei una rosa colta nel campo dell'humano amore. Una rosa scempia, però con fiato di vita. La più bella che potevo trovare. Io prenderei a Gesù un fiore di regalo, per Lei vedere che ancora c'è fiore nel mondo odierno - le stesse che ha piantado molto tempo fa. Che c'è pure cuore e occhi che lo vedono, nonostante siano scettico gli occhi e gli desideri. Per vedere anche che c'é gente che lo ricerca senza richieste avide. Persone a chi piacciono cose come fiore. Persone che lo ricercano forse perchè non possono reprimere la inquietudine...
Tuttavia, se la macchina non funciorare, cosa farei della rosa?
- La portarei insieme a me, perchè la rosa è mio bambino G. Pietro, che Gesù già me aveva prima regalato.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Perfil do Novo Servidor Público

"Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho."
Camões
Órgãos públicos repletos de apadrinhados do chefe político. Cenário sombrio de uma época não muito remota. Um agrado, um emprego público. Não carecia demorar na repartição. Um relatório para datilografar, um café, só mais um carimbo... Terminava o expediente. O ordenado era minguado, mas quase sempre se pagava, com algum atraso. Difícil outro meio de vida. Ia-se levando, arrastado, no aguardo da merecida aposentadoria, por idade.
Algum novato idealista que ousasse, com denodo, quebrar a serenidade da repartição findava oprimido por sugestões sorrateiras.
– É só começo, caro colega! Faça só a sua parte, o serviço nunca acaba. Ainda podem interpretá-lo mal, considerá-lo uma ameaça às poucas gratificações.
Do outro lado do balcão, a morosidade gerava descontentamento. As pessoas inconformadas nas filas passavam a notar que a burocracia inconseqüente do serviço público lhes saía muito caro. Aviltava demasiado o tributo fielmente recolhido. Parecia implorar-se favor, tamanha a impaciência do atendente.
O quadro de descaso tornou-se insuportável. Urgia mudar a sistemática. Democratizar o acesso ao cargo público, através de concurso. Banir privilégios deletérios, práticas obsoletas. Traçar metas, olhos postos sempre na prestação eficiente do serviço público, enaltecendo-lhe o cunho instrumental, destinado à satisfação do cidadão-usuário. Adotar mecanismos de controle, exigir compromisso.
As mudanças estão vindo, paulatinamente. Tempos de austeridade. Necessário qualificar-se para ocupar um cargo público, qualificar-se para adquirir estabilidade, para progredir na carreira, melhorar o salário. O novo serviço público tem horário a cumprir, satisfação a prestar ao usuário. Não pode hesitar diante de técnicas que conduzam à satisfação eficiente do interesse público.
A demanda crescente não assusta. Nesse passo, o computador é um aliado indispensável. A padronização das rotinas mitiga sobremaneira a repetição inócua. O espírito de equipe, a dedicação e o respeito mútuo também não podem faltar, para tornar palpáveis as metas traçadas, para evitar o dissabor da advertência, para aplacar eventuais desavenças. O ambiente de trabalho ameniza, e até estimula.
A eficiência do servidor público não implica tão-somente a prestação célere de seus misteres, pressupõe também a segurança de seus atos e a oferta solícita do serviço ao cidadão-usuário, que, afinal, é quem mantém a máquina administrativa funcionando, através de uma pesada carga tributária. A urbanidade no atendimento ao público é o mínimo que se pode exigir.
A perspectiva com que acena o novel servidor público é alvissareira, conquanto longa estrada ainda tenha a palmilhar. O esforço há de ser conjunto, Poder Público, servidor e cidadão-usuário, unidos no propósito de debelar anos de descaso, de gerar uma cultura de eficiência, sem perder de vista que o servidor público não é um autômato escravo de resultados a qualquer custo, mas um ser humano em busca de realizações, no trabalho e na vida pessoal, sobretudo.
Chico Eliton

A ignorância é a mãe do preconceito

"Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de tentar arrancar
algum roçado da cinza."
João Cabral de Melo Neto
Quando esteve, a estudo, na Itália, João Pedro (cearense de Coreaú) conheceu uma retirante paulista que buscava seu 'companheiro', grávida e desprezada. Refugiada, não da seca, mas das agruras do amor, era uma jovem 'moça' digna de alguma simpatia, particularmente por seu desprendimento e notória ignorância. Largara os estudos em busca de seu sonho: reencontrar o pai do filho que carregava no ventre, um guapo aventureiro vindo dos pampas.
A jovem hospedou-se na mesma pensão em que João Pedro estava, vindo a tornarem-se amigos. Certa noite, confessou-lhe sua profunda frustração por receber, já na primeira ligação que fizera a seu amado, um lamentável: "Bah, guria, vai te fuder; arreda de mim, tchê!".
João Pedro ficou com um indisfarçável pesar, inerme diante da situação.
No dia seguinte, ouvindo João Pedro conversar – arranhando os idiomas respectivos – com alguns colegas de estudo: alemães, italianos, franceses e ingleses, a jovem paulista afirmou surpresa: "Não sei como vocês cearenses conseguem aprender tanta coisa, naquela terra tão seca, buscando água na cacimba, com aquelas jangadas todas saindo para pescar!".
Ao que, tentando se segurar – eis que nunca buscara água em cacimba ou andara de jangada –, ele lhe respondeu: "Minha filha, é que, entre uma volta e outra na cacimba, entre uma pescaria e outra - na jangada -, nós paramos, pegamos um livro e aprendemos alguma coisa".
Achou que o gaúcho tinha sido muito cruel, ao ferir sentimentos e esperanças, ainda que de alguém que ostentara um pedantismo inconseqüente. Só por isso, a jovem não ouviu pela segunda vez o: "Bah, guria, vai te fuder; arreda de mim, tchê!!".
É sempre salutar ver o lado lúdico dos desaforos que nos lançam.
Se a ignorância é a mãe de todo preconceito; o preconceituoso, antes do nosso ódio, merece nossa complacência e nosso sarcasmo...

domingo, 4 de novembro de 2007



Um crepúsculo desse dispensa qualquer comentário!
Pôr-do-sol em Coreaú/CE, minha terra natal!
VIAGEM
Viagens que nós fazemos,
Mundo além do horizonte,
Não sei quem mais ama a vida,
Nas nossas andanças singelas,
Palmilhando searas infindas,
Da vida e do mundo ideal,
Dois sonhos mui semelhantes,
Um filho, um café e um tango,
Pensamento e alguma poesia,
Asperezas da vida sensível,
Inquietudes do homem cordato,
Mistérios do mundo sempre igual,
Sem ânsia pelos dias, pelo tempo,
Razões opostas ou concordes,
Na mesma estrada e mesma fonte,
A utopia, o socialismo e Dostoiévski...
Prazeres introspectivos e sociais,
Navegantes de um mundo singular,
Nosso mundo universal e particular,
Angústia, Ilíada, oceano de idéias,
Tão vasto quanto o humano coração,
Nem Diógenes tampouco Napoleão,
Iguais a qualquer mujique cosmopolita,
Sem veleidade ignóbil ou ambição,
Artistas da leitura e da reflexão,
Eis, mãe do meu filho, como estamos,
Ainda nutrindo poesias e sonhos,
Com amor casto e profano em demasia,
Nesse mundo de almas vis e geniais...
Tomemos nosso vinho, companheira!
Não permitamos que a mediocridade campeie,
Nem que falsos deuses aflijam nossos ideais,
Brandindo valores nossos inatos,
A passo lento, caminhando sem pressa a vida,
Que o tempo relativo nos permite ser imortais...
Fco. Eliton

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

TRIBUTO A RAIMUNDO DA BARRA

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto
mais vasto é o meu coração.
Drummond


A Palma já não é a mesma sem ti, meu avô. O barulho do chocalho do gado cessou. A brisa agora varre nostálgica a carnaubeira. Nenhum vaqueiro abóia mais. Venderam o seu gado, as terras, as criações e o cavalo cocho. Venderam até as casas da "Rua de Baixo". E o apurado ainda não deu pra muita coisa. Era muito filho, ‘vô. E ao vaqueiro ainda coube um quinhão... Afinal, ele era vaqueiro, veterinário, conselheiro e confidente. O gado na mão dele não prosperou, mas sempre havia algum leite para a venda e para uns queijos aqui e acolá.
Das propriedades, não sobrou nada, 'vô. Cada herdeiro, antes de receber seu quinhão, já o havia negociado. Setenta anos de trabalho árduo e economia rigorosa foram desfeitos em algumas horas de maquinação e balbúrdia.
Ninguém mais contemplará aquelas terras com o mesmo amor. Ninguém mais sonhará todas as noites com centenas de reses confinadas nos currais. O sonho acabou, meu avô. O senhor foi definhando, definhando, até não resistir mais e permitir que se apossassem do que era seu.
A Barra, o Ramalhete, o Pé-do-morro, tudo está triste. Não há nenhum chocalho. Nenhuma cabeça de gado pra quebrar a monotonia do fim de tarde. Há apenas um redemoinho arrastando umas folhas secas. Uma nuvem branca imóvel e uma longa estrada vazia, em cujas margens se erguem uns mameleiros retorquidos. Da casa do Evaristo não se ouve eco algum. O pobre velho também já faleceu. A mulher e os cachorros foram morar na rua. O sol parece dar uma trégua para o que restou do açude-do-meio. Mas logo que o sol esfria vem o vento forte que lambe sempre o que restou de água. Os urubus espreitam a carcaça de uma bezerra moribunda e uns dois campinas retardatários procuram debalde uma poça d’água no regato.
Tenho saudade, meu velho. Saudade do seu cheiro de mato. Do seu olhar vazio. Da sua palavra firme e até da sua avareza jocosa. Temos todos saudade. Não há mais couro de cabra no cabide, cangalha espalhada pelos cantos, um fardo de milho no chão. A casa grande d’outrora minguou. Abandonaram-na. No corredor, sua rede parece inda armada. Sua tosse seca parece ainda ecoar. No quarto do meu meio o tio ‘Di’ planeja dominar o mundo, mas a diabetes é que o está dominando, insaciável. Na cozinha sem vida a vovó parece dar ordem à empregada. É preciso mexer o doce, guardar o soro pra coalhada da noite, ir atrás do Valdemir.
Um cabrito berra no quintal. Não, não berra, é mera impressão. Olho a despensa vazia. Tenho a sensação de estar sendo seguido. Ouço o arrastar de um chinelo de couro. Não me assombro, sigo adiante taciturno.
Fecho o velho portão. De longe, o ‘Rabo-da-gata’ deserto, já nem lembra os velhos tempos. Apenas uma miragem sua. Miragem. Tudo aqui e o senhor tão distante. Num cemitério monótono de uma terra que não lhe agrada. Após um velório apressado, cercado de alguma lamentação e uns inevitáveis planos de partilha, deixaram-no em paz. Numa planície aguada duma manhã de verão. No céu, uma barra acenava com um inverno promissor. Toda a terra iria florir, a vazante seria inundada, a rês leiteira... Mas você não estará aqui. Já terá findado o último capítulo. Fecharam o seu livro e o devolveram à biblioteca da memória.
- Adeus, meu avô!

Etim, Coreaú, julho de 2004

O que falta em Coreaú

Está faltando em Coreaú algumas pontes bem largas,
Que tenham o condão de unir muitas ilhas de vaidade!
Está faltando em Coreaú tantos coreauenses,
Retirantes precoces da falta de oportunidade.

Está faltando quase tudo e nós não fazemos nada,
Reclamando sem coerência da alheia inatividade.
Num pedantismo de diplomas com idéias escassas,
De braços cruzados pregando intensa fraternidade!

Falta resolução pra reclamar ao menos do irrazoável,
Pra debelar velhas amarras que herdamos por verdade.
Estamos cercados, mas não estamos derrotados.
Há uma longa escalada em busca da liberdade!

Falta-nos entender a força a que chamam coletividade!
Sem elitismo pretensioso, sem cavilosa maquinação!
Falta-nos rebelar contra o fantasma da iniquidade!
Compartilhar sonhos – abrir a mente e o coração!

Francisco Eliton Meneses

Para a mãe do João Pedro

Você me inspira mais que o ar que respiro;
Você me inspira mais que a luz da manhã;
Nos momentos felizes, você é meu retiro;
Nas tormentas da vida, o meu terno divã.

Mais que o sol que ilumina o meu dia;
Mais que a lua ou que todo entardecer;
Há mais de dez anos me trazendo alegria...
Quero mais todo o sempre do teu lado viver...

Etim p/ Aury

Insana Guerra

Ouço a voz de tanta coisa, ouço sussurros.
Ouço o brado de padecer de humana gente.
Ouço o grito irado de pais ao céu plangente
E o consolo doce de mães tão ternamente...

Ouço gemidos distantes de inocentes,
De tantas crianças famintas pelo mundo.
Ouço, aterrado, pessoas e lágrimas silentes,
E o olhar inerte do humanismo moribundo.

Ouço uma música repleta de esperança,
E penso na guerra que nutre desilusões,
Em corações humanos empedernidos
E no murmúrio vil de torpes ambições.

Contemplo a queda do orvalho na janela,
O gorjeio de pássaros no céu ainda azul,
A sanha humana varrer rubras campanhas
E o olhar vacilante de deletérios tabus.

Ouço passos em marcha, ditadores,
Continências e tambores irracionais.
Nobres sonhos humanos ofuscados,
E a barbárie sob signos nacionais.

Não basta já de infâmia e veleidade?!
Por onde andam os humanos corações?!
Desvaneceu o espírito humanitário?!
Temeroso da fadiga e da opressão?!

Não! Ouço algumas vozes combativas,
Ouço gritos viris espalhados pela terra,
Ouço uma leve brisa aplacar macromanias,
E todos livres do dissabor da insana guerra...

Francisco Eliton Meneses