terça-feira, 6 de novembro de 2007

Perfil do Novo Servidor Público

"Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho."
Camões
Órgãos públicos repletos de apadrinhados do chefe político. Cenário sombrio de uma época não muito remota. Um agrado, um emprego público. Não carecia demorar na repartição. Um relatório para datilografar, um café, só mais um carimbo... Terminava o expediente. O ordenado era minguado, mas quase sempre se pagava, com algum atraso. Difícil outro meio de vida. Ia-se levando, arrastado, no aguardo da merecida aposentadoria, por idade.
Algum novato idealista que ousasse, com denodo, quebrar a serenidade da repartição findava oprimido por sugestões sorrateiras.
– É só começo, caro colega! Faça só a sua parte, o serviço nunca acaba. Ainda podem interpretá-lo mal, considerá-lo uma ameaça às poucas gratificações.
Do outro lado do balcão, a morosidade gerava descontentamento. As pessoas inconformadas nas filas passavam a notar que a burocracia inconseqüente do serviço público lhes saía muito caro. Aviltava demasiado o tributo fielmente recolhido. Parecia implorar-se favor, tamanha a impaciência do atendente.
O quadro de descaso tornou-se insuportável. Urgia mudar a sistemática. Democratizar o acesso ao cargo público, através de concurso. Banir privilégios deletérios, práticas obsoletas. Traçar metas, olhos postos sempre na prestação eficiente do serviço público, enaltecendo-lhe o cunho instrumental, destinado à satisfação do cidadão-usuário. Adotar mecanismos de controle, exigir compromisso.
As mudanças estão vindo, paulatinamente. Tempos de austeridade. Necessário qualificar-se para ocupar um cargo público, qualificar-se para adquirir estabilidade, para progredir na carreira, melhorar o salário. O novo serviço público tem horário a cumprir, satisfação a prestar ao usuário. Não pode hesitar diante de técnicas que conduzam à satisfação eficiente do interesse público.
A demanda crescente não assusta. Nesse passo, o computador é um aliado indispensável. A padronização das rotinas mitiga sobremaneira a repetição inócua. O espírito de equipe, a dedicação e o respeito mútuo também não podem faltar, para tornar palpáveis as metas traçadas, para evitar o dissabor da advertência, para aplacar eventuais desavenças. O ambiente de trabalho ameniza, e até estimula.
A eficiência do servidor público não implica tão-somente a prestação célere de seus misteres, pressupõe também a segurança de seus atos e a oferta solícita do serviço ao cidadão-usuário, que, afinal, é quem mantém a máquina administrativa funcionando, através de uma pesada carga tributária. A urbanidade no atendimento ao público é o mínimo que se pode exigir.
A perspectiva com que acena o novel servidor público é alvissareira, conquanto longa estrada ainda tenha a palmilhar. O esforço há de ser conjunto, Poder Público, servidor e cidadão-usuário, unidos no propósito de debelar anos de descaso, de gerar uma cultura de eficiência, sem perder de vista que o servidor público não é um autômato escravo de resultados a qualquer custo, mas um ser humano em busca de realizações, no trabalho e na vida pessoal, sobretudo.
Chico Eliton

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