quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

FRASE DO MÊS


"Nuestro hermoso deber es imaginar que hay un laberinto y un hilo." (Borges)

HERENCIA ESPIRITUAL


"Pienso que el signo más sutil de que una sociedad está ya madura para una profunda transformación es que sus revolucionarios se revelen capaces de comprender y recoger la herencia espiritual de la sociedad que termina. Si eso no sucede, la revolución no está madura." (Ernesto Sabato. El escritor y sus fantasmas)

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

(...)


Os amores que temos nesta vida
São aquilo que fica de herança;
O espólio que a traça não alcança;
O que fica depois de uma partida.
Ter a chama no outro refletida,
Não existe na vida coisa igual;
Cada qual se descobre especial,
Como sol invencível no inverno;
A fusão do instante e do eterno;
A beleza que sempre vence o mal.

Eliton Meneses

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

LA PESTE : CAMUS


"Il savait que cette impression était stupide, mais il n’arrivait pas à croire que la peste pût s’installer vraiment dans une ville où l’on pouvait trouver des fonctionnaires modestes qui cultivaient d’honorables manies. Exactement, il n’imaginait pas la place de ces manies au milieu de la peste et il jugeait donc que, pratiquement, la peste était sans avenir parmi nos concitoyens." (Camus)

"Sabia que essa impressão era tola, mas não conseguia acreditar que a peste pudesse se instalar verdadeiramente numa cidade onde podiam encontrar-se funcionários modestos que cultivavam manias respeitáveis. Exatamente. Ele não imaginava um lugar para essas manias no meio da peste e julgava que ela não tinha praticamente futuro entre nossos concidadãos." (Camus)

CAMUS



"No meio de um inverno descobri em mim um verão invencível." (Albert Camus)

sábado, 27 de janeiro de 2018

TRF4


Mataram o preto;
Mataram o pobre;
Mataram a puta;
Mataram o gay;
Mataram o índio;
Mataram a lenda; 
Mataram o mito; 
Mataram o Lula;
Num só julgamento,
Carente de prova,
Com ódio na cara,
A classe de cima,
Que se diz cristã.

Eliton Meneses

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O lirismo de quem precisa reconhecer e dar voz ao outro


O defensor público Eliton Meneses, do Núcleo de Habitação e Moradia (Nuham), lançou neste mês de janeiro o seu segundo livro de poesia “Lira dos Verdes Anos”, pela Editora Becalete. A obra, dividida em duas partes, reúne cem produções, sendo compiladas cinquenta poesias com temas diversos e cinquenta sonetos. “A primeira parte tem aquela coisa do verso livre, mais descompromissado. A segunda parte diz respeito aos cinquenta sonetos”, explica. Segundo o autor, a escrita dos sonetos foi mais desafiadora e chega em uma fase mais madura. “Elaborar um soneto é algo extremamente complexo. O resultado final parece pequenininho, mas você tem que contar os decassílabos, tem que saber a métrica e a rima, além do conteúdo”, considera.

“Sou criatura arretada: Homem-cacto do sertão” é como se apresenta nas últimas linhas do primeiro poema “Homo Cactus”, do livro “Lira dos Verdes Anos”. Para além da atuação na área do Direito Público, Eliton Meneses encontrou também espaço na literatura. Assim, relaciona a poesia com o ofício diário na seara do Direito, muitas vezes árduo, mas com o lirismo de quem precisa reconhecer e dar voz ao outro. “A poesia veio muito por ocasião da Defensoria. Está muito vinculada à atuação na Defensoria, especialmente nesse atendimento do público, na luta pelo direito da população mais carente”, explica. “Esse contato com o outro, com a dor alheia, que vivenciamos muito no Núcleo, saiu impresso em um livro, de certa forma, mais enxuto. A ideia era essa mesmo. Quem começar, eu espero que termine”, brinca.

Tanto que nas primeiras páginas já vem em forma de poema, o relato do cotidiano do Núcleo de Moradia. Em “Ocupação”, a falta básica do direito constitucional de possuir um lar e todas as tantas desocupações acompanhadas pelos defensores, com o sofrimento diário de uma população ficou marcado como a força de quem luta e não desocupa. “A força de um lado / A força do outro / Maria no meio / A lágrima corre / A tábua no chão / Adeus sua casa / Adeus sua cama / Adeus sua mesa / Na rua a cadeira / Na rua o fogão / A máquina velha / A preta e a loira / O pobre do cão / – Agora o que eu faço?” (…).

Além disso, os versos abordam também o cotidiano da cidade e seus personagens, como na homenagem ao poeta Mário Gomes, falecido em 2015. Em “poeta andarilho”, o autor celebra o “fardo do amor” que inunda o corpo envergado do poeta que perambulava pelas ruas de Fortaleza, “És tido por louco; / mas sei que tu és: / poesia que corre, / com água serena, / um sopro de vida, / que rega e alumia / o imenso deserto / do escuro existir”.

O título do livro “Lira dos Verdes Anos” , por sua vez, foi inspirado na ideia da imaturidade, que antecede os quarenta anos. “É lira, porque eu também escrevo prosa. Lira é uma canção, que está muito ligada à poesia. Pra mim, lira é a tradução da poesia. E os verdes anos estão muito ligado a essa ideia. Eu estou às vésperas de completar quarenta anos, então tinha essa ideia de publicar um livro de poesia. Poderia ter sido um livro de prosa, pois tenho mais contos e crônicas escritos. Mas a poesia é, na verdade, mais desafiadora e encantadora”, declara. Além disso, Eliton faz relação a cor da Defensoria, de onde vem parte da inspiração para os versos. “O verde que representa a Defensoria é o verde da esperança. São os anos de Defensoria que, por acaso, se alinham a esse desapontar dos 40 anos”.

Francisco Eliton Albuquerque Meneses é Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e é especialista em Direito Público pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Atuou como Assessor da Justiça Federal e foi Procurador do Estado de Roraima. Atualmente, é Defensor Público do Estado do Ceará. Eliton Meneses é coautor do livro “Veredas Sinuosas” (2009) e autor da obra “Diário de um Navegante” (2009). O defensor também escreve no blog “Diário de um Navegante” e é membro da Academia Palmense de Letras, de Coreaú-CE, seu município.

Serviço

Livro: Lira dos Verdes Anos
Autor: Eliton Meneses
Editora: Becalete
Número de páginas: 126 páginas
Ano de Publicação: 2018

Fonte: Defensoria Pública do Estado do Ceará

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

LULA


Dilma sofreu um "impeachment" (rectius: golpe) e não ficou inelegível... Lula será condenado, em 2.° grau, e não será preso... Quando a decisão é política, preocupa-se apenas com um efeito: o político.

Li a sentença condenatória do Lula. Três vezes. Não considero prova nenhuma das matérias – em verdade, fofocas – do Jornal O Globo a respeito do triplex transcritas pelo Moro... Só a transcrição dessas matérias, depois de tudo que se sabe da relação Globo/Lula, pra mim, já é suficiente pra mitigar sobremaneira a robustez da sentença condenatória... Se a prova fosse suficiente, não precisaria o juiz se valer de fofoca de inimigo...

O julgamento da história virá com o tempo, atento à toda complexidade do caso Lula, que transcende em muito a mera técnica-jurídica, tenha ela sido bem ou má empregada. Nesse julgamento, aqueles que hoje julgam também serão julgados e, embora ainda não se possa prever um resultado, o certo é que, com a mesma medida que julgaram, também serão julgados...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

LIRA DOS VERDES ANOS


  
A ideia de um livro como um filho talvez não encontre tradução melhor do que num livro de poesia, já que toda pessoa é um livro e todo filho é um poema. Lira dos verdes anos é um livro de poesia – só de poesia – que contém praticamente tudo que tenho para dizer, ao menos por ora, em forma de poema. Daí ter sido chamado pretensiosamente de lira. Os verdes anos são por conta da imaturidade que precede os quarenta anos do autor – afinal, a vida começa aos quarenta... – e também por conta da atuação na Defensoria Pública, cuja cor é o verde da esperança e que me proporcionou, no compartilhar da dor alheia, inspiração para a vida e, em consequência, uma certa propensão para a arte. O livro trata do ser e do tempo, do indivíduo que tateia angustiado, mas não derrotado, o labirinto gris do nosso tempo. Ficou a cargo da Editora Becalete, que tem à frente o Luciano Giovani, a quem agradeço pelo esmero editorial. Tem a chancela da Academia Palmense de Letras (APL), de Coreaú/CE; o prefácio do Gilmar Paiva, que, para além de grande amigo, é a pessoa mais culta e inteligente que conheço, e foi dedicado, como não poderia deixar de ser, aos meus amores: Auricélia, João Pedro, Dona Leda, (...).


sábado, 6 de janeiro de 2018

BUENOS AIRES


Percorro novamente a cidade. 
Pouca coisa mudou além de mim. 
Cinco anos e meio depois, pouca coisa mudou além de mim. 
O tango é o mesmo na calle Florida.
O tango é o mesmo no Señor Tango.
As ruas continuam as mesmas, elegantes e eternas.
Um café em cada esquina. Maradora, Evita e Gardel...
Em Caminito acena um novo deus:
Um Papa com cuore de pueblo.
O povo fala apressado. Tem cara de poucos amigos.
Não sabe falar português.
Há poucos mendigos nas ruas.
Restaurante por toda parte. Bife de chorizo, Quilmes, papas fritas...
Não há vinho no verão.
A noite agora vem tarde, depois das nove da noite.
O peso tem pouco valor. É quase vinte por um.
As vendas de livro minguaram. Têm pouco Borges e Sabato.
Cortázar parece na moda. Rayuela foi fácil de achar.
Há frutas e flores nas ruas. Um dia de frio e calor.
Um niño que imita Piazzolla. Um acróbata que apronta em Callao.