quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O lirismo de quem precisa reconhecer e dar voz ao outro


O defensor público Eliton Meneses, do Núcleo de Habitação e Moradia (Nuham), lançou neste mês de janeiro o seu segundo livro de poesia “Lira dos Verdes Anos”, pela Editora Becalete. A obra, dividida em duas partes, reúne cem produções, sendo compiladas cinquenta poesias com temas diversos e cinquenta sonetos. “A primeira parte tem aquela coisa do verso livre, mais descompromissado. A segunda parte diz respeito aos cinquenta sonetos”, explica. Segundo o autor, a escrita dos sonetos foi mais desafiadora e chega em uma fase mais madura. “Elaborar um soneto é algo extremamente complexo. O resultado final parece pequenininho, mas você tem que contar os decassílabos, tem que saber a métrica e a rima, além do conteúdo”, considera.

“Sou criatura arretada: Homem-cacto do sertão” é como se apresenta nas últimas linhas do primeiro poema “Homo Cactus”, do livro “Lira dos Verdes Anos”. Para além da atuação na área do Direito Público, Eliton Meneses encontrou também espaço na literatura. Assim, relaciona a poesia com o ofício diário na seara do Direito, muitas vezes árduo, mas com o lirismo de quem precisa reconhecer e dar voz ao outro. “A poesia veio muito por ocasião da Defensoria. Está muito vinculada à atuação na Defensoria, especialmente nesse atendimento do público, na luta pelo direito da população mais carente”, explica. “Esse contato com o outro, com a dor alheia, que vivenciamos muito no Núcleo, saiu impresso em um livro, de certa forma, mais enxuto. A ideia era essa mesmo. Quem começar, eu espero que termine”, brinca.

Tanto que nas primeiras páginas já vem em forma de poema, o relato do cotidiano do Núcleo de Moradia. Em “Ocupação”, a falta básica do direito constitucional de possuir um lar e todas as tantas desocupações acompanhadas pelos defensores, com o sofrimento diário de uma população ficou marcado como a força de quem luta e não desocupa. “A força de um lado / A força do outro / Maria no meio / A lágrima corre / A tábua no chão / Adeus sua casa / Adeus sua cama / Adeus sua mesa / Na rua a cadeira / Na rua o fogão / A máquina velha / A preta e a loira / O pobre do cão / – Agora o que eu faço?” (…).

Além disso, os versos abordam também o cotidiano da cidade e seus personagens, como na homenagem ao poeta Mário Gomes, falecido em 2015. Em “poeta andarilho”, o autor celebra o “fardo do amor” que inunda o corpo envergado do poeta que perambulava pelas ruas de Fortaleza, “És tido por louco; / mas sei que tu és: / poesia que corre, / com água serena, / um sopro de vida, / que rega e alumia / o imenso deserto / do escuro existir”.

O título do livro “Lira dos Verdes Anos” , por sua vez, foi inspirado na ideia da imaturidade, que antecede os quarenta anos. “É lira, porque eu também escrevo prosa. Lira é uma canção, que está muito ligada à poesia. Pra mim, lira é a tradução da poesia. E os verdes anos estão muito ligado a essa ideia. Eu estou às vésperas de completar quarenta anos, então tinha essa ideia de publicar um livro de poesia. Poderia ter sido um livro de prosa, pois tenho mais contos e crônicas escritos. Mas a poesia é, na verdade, mais desafiadora e encantadora”, declara. Além disso, Eliton faz relação a cor da Defensoria, de onde vem parte da inspiração para os versos. “O verde que representa a Defensoria é o verde da esperança. São os anos de Defensoria que, por acaso, se alinham a esse desapontar dos 40 anos”.

Francisco Eliton Albuquerque Meneses é Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e é especialista em Direito Público pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Atuou como Assessor da Justiça Federal e foi Procurador do Estado de Roraima. Atualmente, é Defensor Público do Estado do Ceará. Eliton Meneses é coautor do livro “Veredas Sinuosas” (2009) e autor da obra “Diário de um Navegante” (2009). O defensor também escreve no blog “Diário de um Navegante” e é membro da Academia Palmense de Letras, de Coreaú-CE, seu município.

Serviço

Livro: Lira dos Verdes Anos
Autor: Eliton Meneses
Editora: Becalete
Número de páginas: 126 páginas
Ano de Publicação: 2018

Fonte: Defensoria Pública do Estado do Ceará

Nenhum comentário: