quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Sonho


A trupe desfila num palco medonho
Seus trajes grotescos, clarins e bandeiras,
Vistosos tecidos, comprados nas feiras,
Em filas compridas de canto enfadonho.
Talvez fosse mero produto dum sonho,
Quem sabe verdade, melhor nem pensar;
Aplausos havia, mas sem despertar
O riso na cara de quem aplaudia;
O povo debaixo era quem mais sofria,
Em cima verdugos suspensos no ar.


A peça era nova, seu grupo bisonho,
Comédia ou tragédia, pudicas rameiras;
Roteiro não tinha, nem eiras nem beiras,
Aos olhos silentes dum mestre tristonho;
Abutres sedentos, um bispo risonho;
Tamanha incerteza que teima em chegar,
Largada na festa sem saber dançar;
As nuvens pesadas no ocaso do dia
Fizeram que a gente, em meio à agonia,
Sonhasse com a fuga na beira do mar.

Eliton Meneses

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