quinta-feira, 8 de novembro de 2018

THYMOS


"O desejo de reconhecimento é também a sede psicológica de dois sentimentos extremamente poderosos: a religião e o nacionalismo. Com isso não quero dizer que religião e nacionalismo podem ser reduzidos ao desejo de reconhecimento, mas que o fato de terem suas raízes em thymos é o que lhes comunica sua grande força. O crente religioso atribui dignidade a tudo que a religião considera sagrado – um conjunto de leis morais, um modo de vida, ou objetos especiais de adoração. Enfurece-se quando é violada a dignidade daquilo que considera sagrado. O nacionalismo acredita na dignidade do seu grupo nacional ou étnico, e portanto em sua própria dignidade qua membro desse grupo. Procura fazem com que essa dignidade seja reconhecida pelos outros e, como o crente religioso, enfurece-se quando ela é ofendida ou menosprezada. Foi uma emoção timótica, o desejo por parte do senhor aristocrata, que deu origem ao processo histórico e foi a emoção timótica do fanatismo religioso e do nacionalismo que impulsionou esse processo, por meio de guerras e conflitos, através dos séculos. As origens timóticas da religião e do nacionalismo explicam por que os conflitos sobre 'valores' são potencialmente muito mais mortais do que os conflitos sobre bens ou riquezas materiais. Ao contrário do dinheiro, que pode simplesmente ser dividido, a dignidade é algo intrinsecamente intransigível: ou você reconhece a minha dignidade, ou a dignidade do que é sagrado para mim, ou não reconhece. Só o thymos, à procura da 'justiça', é capaz de verdadeiro fanatismo, obsessão e ódio."
(Francis Fukuyama. O fim da história e o último homem. Ed. Rocco. Rio de Janeiro. 1992. pgs. 262/263). 

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