segunda-feira, 12 de novembro de 2018

HINO


Também sou do tempo em que se cantava o hino nacional na escola, mas não nutro nenhum saudosismo dessa pouco espontânea manifestação de patriotismo. Recordo que na Escola de 1.º Grau Vilebaldo Aguiar, em Coreaú/CE, era o momento mais entediante. As aulas normalmente atrasavam pela dificuldade de se formarem as filas. Em meio à balbúrdia, sempre havia aquele retardatário que furava a fila para ficar mais à frente, aquele que ficava empurrando os outros, aquele que não continha a flatulência... Quando se conseguia finalmente organizar a fila, começava-se a cantar o hino com um desinteresse tão medonho e ainda com os atropelos mais hediondos da letra e da melodia que dava era desgosto... Uma passagem me atraía especialmente a atenção: "Ao som do mar (...) do céu profundo." Juro que entendia, quase colando o ouvido na boca do colega da frente, de trás e do lado, "Ao som do mar(aújo) o céu profundo." Ficava intrigado porque a coisa não continha qualquer nexo com nada que fosse compreensível. Maraújo? A única coisa a que me reportava Maraújo era a cidade de Moraújo, vizinha a Coreaú, mas tão inexpressiva geográfica e historicamente que achei pouco provável que fizesse jus a ter o nome no hino nacional e, caso tivesse, eu pensava, por que o hino não fazia menção também a Coreaú? Afinal, eram cidades arquirrivais e ultimamente Coreaú era até mais próspera...
Um dia cheguei em Cezinha, apontado como o melhor aluno do 7.º ano, e procurei tirar a dúvida:
– Cezinha, aquela parte do hino que diz assim: "Ao som do mar(aújo) o céu profundo..." é mar(aújo) mesmo, né?
Cezinha deu uma gargalha e respondeu com bastante convicção:
– Mar(aújo), não, bicho burro! O certo é Moraújo!

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