domingo, 10 de junho de 2018

ÁRVORE



Um menino espiava ao longe uma árvore. Mergulhado até o nariz no rio, mirava distante uma árvore que se destacava em meio às demais. Uma árvore na serra ao longe. Perto dela, as outras pareciam grama. No alto da serra, uma árvore se destacava das outras. Grande, imponente, feminina... Até parecia acenar para o menino. Fala-se que toda pessoa deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Aquele menino não precisou plantar a árvore. Ainda pequeno adotou uma. Uma árvore distante, da qual nunca se aproximou. Mas uma árvore que era sua, mesmo sem nunca tê-la tocado. Durante os anos em que morou na Palma, pensou em subir a serra, ir ao encontro dela, tocá-la, saber de que espécie era. Nunca foi. Passaram-se os anos e, morando distante, toda vez que volta à terra, para na estrada antes da cidade para contemplar sua árvore, ainda altiva no topo da serra depois de tantos anos, cada vez mais forte, cada vez mais bela. Quem sabe um dia ainda suba a serra, para vê-la de perto, para tocá-la. De todo modo, a árvore e o menino são íntimos mesmo sem se tocarem, mesmo sem se verem de perto. A árvore permanece parada no topo da serra enquanto o menino caminha pelo mundo. De alguma forma, o menino carrega consigo a árvore e a árvore mantém consigo o menino no topo da serra. Desde aquela longínqua manhã de verão no rio que o menino carrega consigo aquela árvore. Os dois se gostam e necessitam um do outro. A árvore, para que o menino a carregue pelo mundo; o menino, para que a árvore mantenha fincadas as raízes dele no chão da sua terra...

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