Sob o sol do meio dia, João Cavoqueiro aprontava a massa da obra. Era servente e ajudava na reforma da casa do vizinho. Na noite anterior havia participado da reunião da CEB's no Sumaré. João não fazia mal a uma mosca. Era querido em toda Sobral. Vivia num casebre humilde da Betânia, sem saber ler ou escrever. Os padres o haviam convencido a participar do movimento social da igreja. Naquele ano de 1971, João tinha 26 anos, uma mulher de 24 e dois filhos.
Quem estava na rua estranhou quando o caminhão do Exército parou perto da casa do servente; estranhou mais ainda quando desceu um batalhão de soldados enfileirados como numa operação de guerra e o cercaram. Um oficial se dirigiu a João, apontou o dedo em riste em sua direção e gritou:
– Subversivo!
Uma multidão de curiosos se aproximou perplexa para testemunhar a prisão do até então pacato e irrepreensível João Cavoqueiro. Sem mais nenhuma explicação, algemaram-no e levaram-no não se sabe para onde.
Oito meses depois, a mulher e os filhos já estavam sem esperança de reencontrá-lo. No entanto, novamente no mormaço do meio dia, um caminhão do Exército parou perto da casa de João e o soltou na rua para o espanto de poucos curiosos.
Oito meses depois, a mulher e os filhos já estavam sem esperança de reencontrá-lo. No entanto, novamente no mormaço do meio dia, um caminhão do Exército parou perto da casa de João e o soltou na rua para o espanto de poucos curiosos.
João estava de pé, mas tremia dos pés à cabeça. Depois de um instante parado, dirigiu-se lento e trôpego à sua casa, apoiando com dificuldade no chão cada passo, até chegar à porta, sem ninguém atrever-se a socorrê-lo. Não conseguiu explicar o que lhe fizeram, não conseguiu mais falar, não conseguiu mais trabalhar, nunca mais voltou a sorrir. João Cavoqueiro morreu três anos depois. Devolveram-no apenas como prova de como o regime tratava as pessoas subversivas.
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