segunda-feira, 29 de julho de 2019
Cotidiano
Acorda insone.
O sol já anda alto.
A água do banho não aquece.
Gravata, para quê gravata?
Onde estará a camisa passada?
Esqueceram de passar a camisa.
O aroma do café já não traz recordação.
A música, melhor fechar o rádio.
O leite frio não adoça o café morno.
O carro não pega, deve ser bateria de novo.
Tudo tão caro, o custo de vida, tanta conta...
O transporte púbico, que droga, tanta gente amontoada.
Todos tão pacientes, sem pressa em meio à cidade com pressa.
— O troco, senhor! — Que troco? Paguei no cartão.
— Não aceitamos cartão...
O trabalho, que tédio!
O chefe tem cara de poucos amigos.
Sim, senhor. É essa mesma. Três meses de garantia.
Quanto tempo falta para o almoço?
Alguém no telefone, de novo o telemarketing.
Comida sofrível, a sobremesa por favor.
Era preciso trocar a escova.
Que palidez! Esse espelho emagrece ou engorda?
Oi! Não. Encontro, hoje à noite?
Não posso. Estou fechado para balanço...
Passava a roupa tão bem...
Que cliente chato!
Que horas é o café?
O colega relata sua vida.
A filha vai ao médico.
O filho vai mal na escola.
Tudo parece tão distante.
A mulher ao menos ainda passa a roupa.
Fim de expediente. Graças a Deus!
De novo o coletivo.
Um cego pede esmola.
Para quê tanta parada?
A rua está escura.
Um cachorro late solitário.
Onde estará a chave?
Antes era tudo tão mais simples.
O jornal, a novela... As mesmas notícias de sempre.
O que fazer para o jantar?
Sardinha, miojo, um resto de vinho...
Amanhã começaria tudo de novo.
Sábado será a visita.
Os meninos hão de ficar bem.
Dessa vez não haverá retorno.
A pensão, metade das férias...
Tinha que aprender a viver só.
Eliton Meneses
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