terça-feira, 23 de julho de 2019

Freud explica


"Mas então acontece que a pessoa odiada atraia sobre si um desgosto bem merecido devido a alguma transgressão; então posso dar livre curso à minha satisfação por ela ter sido atingida pelo justo castigo, e nisso me exprimo em concordância com muitos outros que são imparciais. Porém, posso observar que minha satisfação é mais intensa do que a dos outros; ela recebeu um reforço oriundo da fonte do meu ódio que até então estava impedido pela censura interior de fornecer afeto, mas que não é mais impedido de fazê-lo nas novas circunstâncias. Isso geralmente ocorre na sociedade quando as pessoas antipáticas ou membros de uma minoria malvista cometem algum delito. Assim, sua punição não corresponde habitualmente à sua falta, e sim à falta acrescida da hostilidade, até então sem efeito, dirigida contra elas. Os punidores sem dúvida cometem uma injustiça nesse caso, mas são impedidos de percebê-la devido à satisfação que lhes proporciona o cancelamento de uma repressão longamente mantida em seus íntimos. Nesses casos, o afeto sem dúvida é justificado segundo sua qualidade, mas não segundo suas proporções; e a autocrítica tranquilizada quanto ao primeiro ponto negligencia com muita facilidade o exame do segundo. Uma vez aberta a porta, facilmente forçam passagem por ela mais pessoas do que de início se pretendia deixar entrar." (Sigmund Freud. in A interpretação dos sonhos)

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