terça-feira, 29 de outubro de 2019

Humano, demasiado humano : Nietzsche


"Mas tudo o que é essencial na evolução humana se realizou em tempos primitivos, antes desses quatro mil anos que conhecemos aproximadamente; nestes o homem já não deve ter se alterado muito."

"A filosofia se divorciou da ciência ao indagar com qual conhecimento da vida e do mundo o homem vive mais feliz. Isso aconteceu nas escolas socráticas: tomando o ponto de vista da felicidade, pôs-se uma ligadura nas veias da investigação científica — o que se faz até hoje."

"No sonho continua a agir em nós esse antiquíssimo quê de humanidade, pois ele é o fundamento sobre o qual evolui a razão superior, e ainda evolui em cada homem: o sonho nos reconduz a estados longínquos da cultura humana e fornece um meio de compreendê-los melhor."

"O pensamento profundo pode estar muito longe da verdade, como, por exemplo, todo pensamento metafísico; (...) A crença forte prova apenas a sua força, não a verdade daquilo em que se crê."

"De antemão somos seres ilógicos e por isso injustos, e capazes de reconhecer isto: eis uma das maiores e mais insolúveis desarmonias da existência."

"No conjunto a humanidade não tem objetivo nenhum, e por isso, considerando todo o seu percurso, o homem não pode nela encontrar consolo e apoio, mas sim desespero."

"O homem se torna o que ele quer ser, seu querer precede sua existência."

"Se alguém quer parecer algo, por muito tempo e obstinadamente, afinal lhe será difícil ser outra coisa."

"A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos."

"Sem prazer não há vida; a luta pelo prazer é a luta pela vida."

"Toda a moral do Sermão da Montanha está relacionada a isto: o homem tem autêntica volúpia em se violentar por meio de exigências excessivas, e depois endeusar em sua alma esse algo tirânico."

"O que uma vez se moveu está encerrado e eternizado na cadeia total do que existe, como um inseto no âmbar."

"Quando se é alguma coisa, não é preciso fazer nada — e contudo se faz muito."

"O que há de melhor em nós é talvez legado de sentimentos de outros tempos, os quais já não alcançamos por via direta; o sol já se pôs, mas o céu de nossa vida ainda arde e se ilumina com ele, embora não mais o vejamos."

"Habituar-se a princípios intelectuais sem razão é algo que chamamos de fé."

"Aquele que não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito."

"Ao iniciar um casamento, o homem deve se colocar a seguinte pergunta: você acredita que gostará de conversar com esta mulher até na velhice? Tudo o mais no casamento é transitório, mas a maior parte de tempo é dedicada à conversa."

"O amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta."

"Convicção é a crença de estar, em algum ponto do conhecimento, de posse da verdade absoluta."

"Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a Terra  — e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Mas ele observará e terá olhos para tudo quanto realmente sucede no mundo; por isso não pode atrelar o coração com muita firmeza a nada em particular; nele deve existir algo de errante, que tenha alegria na mudança e na passagem."

(Friedrich Nietzsche. in Humano, demasiado humano)

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