A leitura, na acepção dos estudiosos da língua, é bem mais abrangente do que simplesmente uma decodificação de signos (significante e significado). Também é possível a leitura através de sinais não linguísticos: a leitura dos semáforos, das charges nos jornais, de uma nuvem carregada como sinal de chuva; pode-se ler também a tristeza nos olhos de alguém. Não se lê, portanto, apenas a palavra escrita, mas também o próprio mundo que nos cerca. Para haver o "feedback" (ler e entender) é necessária a utilização, pelo leitor, de conhecimentos prévios, de outras leituras, do seu conhecimento de mundo... São as chamadas inferências, ou seja, os dados previamente existentes na memória do leitor. A imagem de uma casa, por exemplo, poderá oferecer várias interpretações, dependendo do enfoque e das inferências de quem a observa. O arquiteto fará uma leitura arquitetônica, o sociólogo uma leitura sociológica, o larápio uma leitura estratégica...
Geralmente costuma-se definir o processo de leitura em três definições restritas que são: a) ler é extrair significado do texto; b) ler é atribuir significado ao texto e c) ler é interagir com o texto.
Na primeira definição, o leitor assume o papel de minerador, ou seja, será considerado como leitor-minerador, alguém que extrairá do texto o significado preciso, exato e completo, através de uma leitura minuciosa e cuidadosa. O texto já traz por si só o significado, não necessitando, portanto, dos conhecimentos prévios do leitor para a compreensão da sua mensagem. Cada palavra é de fundamental importância; caso apareça uma palavra desconhecida é necessário o uso do dicionário, pois não se utiliza a contextualização para o entendimento do vocábulo. Já na segunda definição, o leitor atribuirá significado ao texto, tendo como base a bagagem de experiências prévias que ele trará para a leitura. Aqui a leitura é interpretada como um procedimento de levantamento de hipóteses. Os textos literários constituem bons exemplos. Para melhor compreender a mensagem implícita em um poema simbolista, por exemplo, é necessário que o leitor utilize seus conhecimentos prévios sobre a escola, momento histórico em que a produção foi escrita, biografia do autor, que conheça algumas figuras de linguagem, tenha sensibilidade, dentre outras questões. Na terceira definição, ler é interagir com o texto, havendo a necessidade intrínseca que faz com que o leitor, além das competências fundamentais para a leitura, tenha também o prazer de ler um texto. Como exemplo, um leitor que sente necessidade de ler uma bula de remédio para conhecer os efeitos e reações destes no organismo. Um texto literário como o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, será bem mais produtivo e prazeroso, em regra, para um acadêmico do curso de Letras do que para um estudante de ciências exatas, por exemplo.
Sendo assim, pode-se dizer que, para uma leitura mais aprofundada e completa, é necessário passar por múltiplos processos, tendo-se que considerar o papel do leitor, do texto e a interação entre ambos.
Auricélia Fontenele
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