domingo, 20 de janeiro de 2013

COMO OS NOSSOS PAIS



Em uma aula de pós-graduação, estávamos a divagar sobre a importância da escrita como ferramenta de comunicação entre uma geração e outra, que muitos povos ao longo da história, lamentavelmente, não utilizaram.
A bela e significativa letra da música "Como os Nossos Pais", de Belchior, na voz de Elis Regina, representa uma das relevantes missões da escrita: O despertar das inquietações humanas. Não fora ela (escrita), possivelmente novas gerações não tomariam conhecimento de tão bela e significativa canção.
Belchior vivenciava a ditadura dos anos 60 quando escreveu a letra dessa música; no entanto, sua mensagem ainda preserva uma enorme atualidade. Trata de consciência política, repensar de valores, além de reação, transformação e mudanças. Na canção, há uma frase que revela a importância da atitude: "Viver é melhor do que sonhar"; como também outras de fundamental valia: "(...) Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais", ou seja, não basta ensaiar arroubos críticos na juventude se depois se acaba, quase sempre, refém, na idade adulta, dos interesses pessoais e familiares, com o abandono de quaisquer ideais coletivos e sociais.
A atualidade da canção está no perfil da nossa sociedade: capitalista, autoritária, preconceituosa, com padrões estéticos e de consumo inconsequentes, pelos quais, muitas vezes, consciente ou inconscientemente, nos deixamos guiar.
Infelizmente, em meio à crise de valores, a família e a escola parecem pouco preocupadas com a formação de jovens críticos e atuantes. As tendências pedagógicas adotadas nas escolas quase sempre são liberais tradicionais e tecnicistas, voltadas predominantemente a formar jovens preocupados tão somente com a realização de anseios individuais, no vir a ter em detrimento do ser, individual e coletivamente.
Enfim, como alertado pelo sociólogo português Boaventura Sousa Santos: "Temos formado conformistas incompetentes e precisamos de rebeldes competentes".

Auricélia Fontenele

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