domingo, 4 de novembro de 2012

HALLOWEEN



Sempre relutei em participar da festa do dia das bruxas, em sinal de protesto ao imperialismo cultural em nossa terra, que desprestigia tanto o seu próprio folclore. Ainda na faculdade, quando pela primeira vez fui convidado para um Halloween numa residência universitária feminina, recusei peremptoriamente a proposta, em que pese tenha-me arrependido amargamente depois, não necessariamente por não ter prestigiado a tradição anglo-saxã...
Mas a vida sempre nos oferece novas oportunidades. Em Aracati, resolveram realizar o "Halloween da Justiça", para confraternizar toda a gente que trabalha no Fórum da cidade. Todos confirmaram presença, não tive como recusar!
Com a fantasia da rotina de trabalho, em manga de camisa, compareci animado simplesmente pela confraternização em si, não dando a mínima para a história de dia das bruxas. Também, não fora o negrume de um ou outro traje e alguns chapéus de bruxa, não teria sequer suspeitado que estava num Halloween. 
No quintal de um simpático restaurante da cidade, o grupo musical do nosso dia das bruxas tocava MPB, pagode e forró. Depois, numa pista de dança iluminada a caráter, alguns clássicos da música eletrônica e, no final, ainda mais forró.
Como o evento encerrou relativamente cedo, não recusei a proposta de ir até Canoa Quebrada para um tradicional Halloween de uma pousada de um gringo.
Na área de lazer da pousada, por um instante, senti-me finalmente num Halloween. Um magote de gringo trajado em fantasias medonhas, uma música sinistra tocando e, no céu, uma estranha lua cheia. Consegui identificar, pelo vozerio, um grupo de italianos e outro de alemães, alguns ainda em pé claudicantes e outros já sentados na relva na beira da piscina. 
O cenário era efetivamente sombrio, digno de um dia das bruxas. Um lusco-fusco percorrido por fumaça, teias de aranha e morcegos artificiais trazia consigo odores desagradáveis naturais. Nosso grupo acuado não teve como suportar muito tempo. Pouco mais de uma hora depois batíamos em retirada. Mas antes de sairmos, atraiu-me particularmente a atenção um gringo enrolado numa bandeira da Grã-Bretanha percorrendo dançando todo o pátio, ostentando com orgulho a tradição britânica. Aos saltos, requebros e gatimanhos, o sujeito, num certo momento, parou no meio do pátio, abriu os braços empunhando a bandeira aberta e, olhando firme para a lua cheia, com um sotaque fortemente londrino, bradou:
– Arre égua, macho! Diabo é isso?!            

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