domingo, 11 de novembro de 2012

A MÚSICA CONTEMPORÂNEA DO NORDESTE



Acuado pelos defensores ortodoxos do tango argentino tradicional, Astor Piazzolla respondia que sua música, inovadora no ritmo, no timbre e na harmonia, era música contemporânea de Buenos Aires. Atualmente, o tango inovador de Piazzolla é aclamado em todo o mundo, sendo considerado o marco da  nova era do tango.     
Entre nós, a crítica é praticamente uníssona ao acusar o forró eletrônico de uma completa degradação do forró tradicional. Decerto, o forró eletrônico não possui nenhum talento que sequer recorde a silhueta do genial maestro Piazzolla. Também é inegável que houve, grosso modo, uma perda de qualidade musical. Ainda assim, há alguns aspectos do forró eletrônico que a crítica severa simplesmente ignora. Um deles diz com a criação de oportunidades de trabalho para muitos músicos, outro diz com a possibilidade de divertimento para as camadas mais pobres da população. Demais disso, embora "pasteurizado", como apelo de massificação, o forró eletrônico ainda preserva alguns elementos do forró tradicional suficientes para afastar a tese de que seria um outro ritmo completamente diferente. Aliás, nem mesmo Luiz Gonzaga se mostrou intransigente à incorporação de elementos novos ao trio clássico zabumba, triângulo e sanfona...
O forró eletrônico é fruto de uma realidade eminentemente urbana, ao passo que o forró tradicional retrata um Nordeste ainda predominantemente rural. Há espaço para ambos. Fortaleza, berço do forró eletrônico, por exemplo, estava invadida, antes do seu advento, por inúmeros ritmos importados, reservando-se ao forró tradicional uma fatia exígua do mercado musical. Depois, com a massificação do forró eletrônico, o forró tradicional também caiu nas graças do grande público da capital cearense, havendo bandas, como Brasas do Forró, que dividem seus shows entre o forró tradicional e o eletrônico, com bastante sucesso nos dois segmentos.
A proliferação de bandas de forró por todo o Nordeste, com forte apelo comercial, tornou a qualidade musical, de um modo quase generalizado, algo desastroso, muito embora não se possa negar aplausos aos momentos de inspiração de bandas como Mastruz com Leite, quando emplacou sucessos de Rita de Cássia, Luiz Fidélis e Lucas Evangelista; Aviões do Forró, com repertório baseado em composições de Dorgival Dantas; Limão com Mel, em sua primeira fase, e algumas outras.  
O forró eletrônico, além de padecer de certa crise crônica de qualidade, padece também de um enorme preconceito que lhe tenta ofuscar as qualidades que possui. Ao invés de simplesmente criticá-lo, seria preferível conhecê-lo, reconhecê-lo como produto popular da realidade nordestina urbana e procurar aperfeiçoá-lo.
Na contramão da ojeriza acadêmica e intelectual, o pesquisador Felipe Trotta, da Universidade Federal Fluminenses (UFF), defende a tese de que o forró eletrônico renova a tradição do forró, constituindo-se na música contemporânea do Nordeste.
O jornal Diário do Nordeste deste domingo traz, a respeito, uma reportagem que deve ser lida com atenção e sem preconceito.
Confira: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1202298

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