Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.
Flower power! Que conquista!
Mas eis que chegou o florista
Cobrou a conta e sumiu
Amor, coisa de amadores
Vou seguir-te aonde f(l)ores!
Vamos lá, ex-sonhadores,
À mamãe que nos pariu!
Oh! L'age d'or de ma jeunesse!
Rimbaud, "par delicatesse
J'ai perdu (também!) ma vie!"
(Se há vida neste buraco
Tropical, que enche o saco
Ao ser tão vil, tão servil!)
E então? Vencemos o crime?
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!
Dancei no pó dessa estrada...
Mas viva a rapaziada
Que berrava: "Amor e Paz!"
Perdão, que perdi o pique...
Mas se a vida é um piquenique
Basta o herói de butique
Dos chiques profissionais.
I have a dream... My dream is over!
(Guerrilla de latin lover!)
Mire-se o dólar que faz sol
Esplim, susexo e poder,
Vim de banda e podes crer:
"Muito jovem pra morrer
E velho pro rock 'n' roll!
"Os Profissionais" é uma das mais inspiradas composições do Belchior. A música é uma crítica acerba contra os jovens idealistas que findam se rendendo à sedução do sistema. Recordando os ventos revolucionários soprados, em maio de 1968, da França para todo o resto do mundo, Belchior clama pelos adeptos do movimento que, com o tempo, fascinados pelo vil metal, largaram a ideia de mudar o mundo para cuidar unicamente dos seus próprios interesses.
Flower Power (Força das Flores) foi um lema utilizado pelos hippies entre os anos 60 e 70 como símbolo da ideologia da não-violência e do repúdio à Guerra do Vietnã. A revolução, portanto, idealisticamente, tinha como projeto instalar um governo sensível às causas sociais, de viés fortemente poético. No entanto, de repente chegou o florista, o dono da floricultura, e cobrou a conta das flores que os manifestantes carregavam, lembrando que, no sistema capitalista, até flores e sonhos se comercializam, não havendo ensanchas para muita utopia, porque a sensibilidade seria coisa de gente imatura, irresponsável e descompassada com a lógica pragmática do sistema de acúmulo de capital, em que uns seguem os outros aonde forem, de modo autômato, largando pelo caminho as flores dos ideais, quadro que revolta o poeta a ponto de mandá-los para a "mamãe" que os pariu!
Oh! L'age d'or de ma jeunesse! Numa tradução livre do francês: Oh! Tempos dourados da minha juventude! Rimbaud, "par delicatesse; J'ai perdu (também!) ma vie! Numa tradução literal: Rimbaud, por gentileza, eu perdi também minha vida! Rimbaud (pronuncia-se: Rambô) foi um genial poeta simbolista francês, cuja adolescência foi uma profusão de inspiração criadora, que influenciou a literatura, a música e a arte modernas, tendo, aos 20 (vinte) anos, simplesmente desistido de escrever. Belchior insurge-se, ainda na mesma estrofe, contra os rebeldes decaídos que se dizem aborrecidos com a monotonia da vida no País Tropical, envoltos nas últimas tendências americanas e europeias, taxando-os de vis e servis.
Com o abandono dos ideais coletivos e a opção pela busca da felicidade unicamente particular, o ex-sonhador não somente larga a sua ideologia original, mas adquire uma nova toda diferente, carregada de conservadorismo, na qual a única opressão vem dos crimes tradicionais, praticados pelos ladrões clássicos que ameaçam o seu patrimônio burguês. A opressão política, religiosa e familiar desaparecem, porque o novo burguês conservador de vítima converte-se em algoz (opressor), fechando-se na vida privada, controlado pelas idiossincrasias do sistema, como os Yuppies (derivado de YUP: Young Urban Professional), jovens de classe média ou alta, que trabalham em suas profissões de formação universitária e que seguem as últimas tendências da moda, tendo-se convertido, de forma pejorativa, no esteriótipo do jovem burguês conservador.
Belchior diz que também sonhou em 1968 (Dancei no pó dessa estrada...) e ironiza o grupo que brandia o lema hippie de "Paz e Amor", mas que acabou se rendendo aos apelos do consumo, ressaltando que, se a ideia fosse a mera ascensão econômica pessoal, já bastariam os despropósitos dos janotas filhos da aristocracia tradicional, arautos profissionais dos modismos e da ostentação.
O poeta invoca o discurso clássico de Martin Luther King, Jr.: I have a dream (Eu tenho um sonho), contra as desigualdades raciais, e diz ironicamente que: O sonho acabou! (My dream is over!), ao menos para os ex-sonhadores, outrora inspirados nas guerrilhas que vicejavam nos quatro cantos da América Latina e em mártires como Chê Guevara; atualmente hipnotizados pelo vil metal (dólar), que subjuga avassaladoramente o novo burguês, entediado (esplim), mas com sucesso e sexo (susexo) garantidos pela autonomia financeira conquistada. Assim, o conformismo se abate e a verve contestadora arrefece com a meia-idade do cidadão cordato, já muito velho para as rebeldias juvenis, mas muito jovem ainda para desfrutar o sabor baunilha que a estabilidade econômica confere, como na velha provocação punk: "Too Old To Rock 'n' Roll: Too Young To Die", a sugerir que a afoiteza política do rebelde decaído era mero arroubo atribuível aos hormônios e aos enlevos da juventude e não reflexo de uma autêntica sensibilidade social.
Oh! L'age d'or de ma jeunesse! Numa tradução livre do francês: Oh! Tempos dourados da minha juventude! Rimbaud, "par delicatesse; J'ai perdu (também!) ma vie! Numa tradução literal: Rimbaud, por gentileza, eu perdi também minha vida! Rimbaud (pronuncia-se: Rambô) foi um genial poeta simbolista francês, cuja adolescência foi uma profusão de inspiração criadora, que influenciou a literatura, a música e a arte modernas, tendo, aos 20 (vinte) anos, simplesmente desistido de escrever. Belchior insurge-se, ainda na mesma estrofe, contra os rebeldes decaídos que se dizem aborrecidos com a monotonia da vida no País Tropical, envoltos nas últimas tendências americanas e europeias, taxando-os de vis e servis.
Com o abandono dos ideais coletivos e a opção pela busca da felicidade unicamente particular, o ex-sonhador não somente larga a sua ideologia original, mas adquire uma nova toda diferente, carregada de conservadorismo, na qual a única opressão vem dos crimes tradicionais, praticados pelos ladrões clássicos que ameaçam o seu patrimônio burguês. A opressão política, religiosa e familiar desaparecem, porque o novo burguês conservador de vítima converte-se em algoz (opressor), fechando-se na vida privada, controlado pelas idiossincrasias do sistema, como os Yuppies (derivado de YUP: Young Urban Professional), jovens de classe média ou alta, que trabalham em suas profissões de formação universitária e que seguem as últimas tendências da moda, tendo-se convertido, de forma pejorativa, no esteriótipo do jovem burguês conservador.
Belchior diz que também sonhou em 1968 (Dancei no pó dessa estrada...) e ironiza o grupo que brandia o lema hippie de "Paz e Amor", mas que acabou se rendendo aos apelos do consumo, ressaltando que, se a ideia fosse a mera ascensão econômica pessoal, já bastariam os despropósitos dos janotas filhos da aristocracia tradicional, arautos profissionais dos modismos e da ostentação.
O poeta invoca o discurso clássico de Martin Luther King, Jr.: I have a dream (Eu tenho um sonho), contra as desigualdades raciais, e diz ironicamente que: O sonho acabou! (My dream is over!), ao menos para os ex-sonhadores, outrora inspirados nas guerrilhas que vicejavam nos quatro cantos da América Latina e em mártires como Chê Guevara; atualmente hipnotizados pelo vil metal (dólar), que subjuga avassaladoramente o novo burguês, entediado (esplim), mas com sucesso e sexo (susexo) garantidos pela autonomia financeira conquistada. Assim, o conformismo se abate e a verve contestadora arrefece com a meia-idade do cidadão cordato, já muito velho para as rebeldias juvenis, mas muito jovem ainda para desfrutar o sabor baunilha que a estabilidade econômica confere, como na velha provocação punk: "Too Old To Rock 'n' Roll: Too Young To Die", a sugerir que a afoiteza política do rebelde decaído era mero arroubo atribuível aos hormônios e aos enlevos da juventude e não reflexo de uma autêntica sensibilidade social.
18 comentários:
Adorei a explicação, me deu uma aula,obrigada!
Esplendido... Belchior era mesmo sensacional.
Sensacional.
Sem palavras...
Poeta que defendeu seus ideais até os últimos dias de vida. Eternamente, Belchior.
Qual a data da composição?
Obrigado pela "tradução". Sempre gostei desta música, mas por não ter "dançado no pó desta estrada", ficava meio que boiando. Valeu! Reverência ao saudoso Brechior, como dizem nas Minas Gerais.
Cada vez mais, aumenta minha admiração por este incrível poeta.
Belchior era foda.,! Não tem para ninguém... Um eterno coração selvagem. Vivas mil para o grande e inigualável Belchior, se há um rei neste país.... Não há mais... Ele se chamava Belchior e agora é imortal para sempre!
Maravilhosa sua análise, muito obrigado por compartilhar, essa música é incrível, um desabafo a por aquilo que se tornou uma geração que queria mudar o mundo.
1988...
Sensacional!!! Palmas para a letra da música e também para o incrível comentário altamente instrutivo!!
Incluindo a música na playlist!
Bela explicação mas que se encaixa perfeitamente nos nossos tempos de chumbo aqui no Brasil
Gabeira poderia ser muito bem esse bicho afoito de 1968 que queria tomar o poder
E porque Geraldo Vandré nao seria o tal florista com seu pra nao dizer que nao falei das flores
E ja que se trata de country esse muuto jovem pra morrer foi titulo de um filme sobre bill the kid estrelado por nada mais nada menos Bob Dylan
Verdade mano desculpe mas srm querer ofender parece que estou lendo algo que ja escrevi sobre essa musica
Seria coincidencia ou uma feliz comparacao?
O certo que mesmo apesar dessa belissima explanacao fico mais com nossa versao ou o misto das duas
A minha alucinação é suportar o dia a dia
E o meu delírio é a experiência com coisas reais. Belchior: Que sensibilidade. Que profundidade. Escutar Belchior é uma aula de conhecimentos gerais. Não! O cara era poeta , cronista, patriota , psicanalista e um bom vivant. Um artista completo. Posso me arriscar a dizer: Um gênio.
Fantástica análise! E assim afirmo porque vivi esse tempo inesquecível. Só quem respirou os anos 60 é que consegue alcançar por completo a profundidade de seu maravilhoso e instrutivo comentário sobre a letra de nosso Poeta-Cantor-Mor-Belchior... "Depois dele não apareceu mais ninguém!" Muito obrigado.
A musica cabe exatamente na história brasileira.1968 lembra Gabeira revolucionário que hoje só toma aspirina e o florista Geraldo Vandré que não quiz falar das flores .Belchior genial
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