quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SEGURO-DEFESO DA LAGOSTA



No período de defeso da lagosta, entre 1.º de dezembro e 31 de maio, com o afã de conciliar os interesses sociais, ambientais e econômicos, a Lei n.º 10.779/2003 assegura aos pescadores artesanais do crustáceo o seguro-desemprego. 
Por conta de um termo de cooperação técnica firmado entre a Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público do Trabalho, perguntaram se eu poderia ficar encarregado pelo controle jurídico das habilitações no Município de Aracati. Ora, como neto, filho e irmão de pescador artesanal – não de lagosta, mas de cará, piaba e "suvela", nos açudes miúdos do Coreaú –, não pude resistir ao desafio.    
Com a solidariedade do competente estagiário Carlúcio Germano, na segunda-feira passada, das 8 horas da manhã às 8 horas da noite, recolhemos praticamente todas as habilitações dos cerca de 500 (quinhentos) pescadores artesanais de lagosta de Aracati, ressalvando-se algumas pendências a serem solucionadas paulatinamente. Nunca havia trabalhado tanto num único dia. Depois de intermináveis entrevistas e conferências documentais, saí exausto, mas sobremaneira gratificado pelo enorme alcance socioambiental do seguro-defeso, que garante, a um só tempo, a comida na mesa de centenas de famílias humildes e a reprodução da lagosta já tão escassa nos nossos verdes mares bravios. 
Pena que no semblante trigueiro daqueles lagosteiros sorridentes, marcados pela pesada lida, haja o testemunho de mais um gritante paradoxo do mundo capitalista. A lagosta, iguaria bastante apreciada mundo afora, deixa na sua origem um rastro de pobreza. É triste saber que o saboroso crustáceo, base de alguns dos principais pratos da alta culinária internacional, enriquece os donos de muitos restaurantes famosos; porém, continua deixando aqueles que arduamente o retiram do mar na dependência de um benefício social para sobreviver...  
De toda sorte, a despeito do paradoxo social, em matéria de lagosta, a mão calejada que pesca é mais sublime do que a boca refinada que come!

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