"Pode-se atribuir à influência israelita muito do mercantilismo no caráter e nas tendências do português: mas também é justo que lhe atribuamos o excesso oposto: o bacharelismo. O legalismo. O misticismo jurídico. O próprio anel no dedo, com rubi ou esmeralda, do bacharel ou do doutor brasileiro, parece-nos reminiscência oriental, de sabor israelita. Outra reminiscência sefardínica: a mania dos óculos e do pincenê – usados também como sinal de sabedoria ou de requinte intelectual e científico. O abade de la Caille, que esteve no Rio de Janeiro em 1751, diz ter visto tudo o que era doutor ou bacharel em teologia, direito ou medicina de óculos no nariz 'pour se faire respecter des passants'. E a mania de sermos todos doutores em Portugal e sobretudo no Brasil – até os guarda-livros bacharéis em comércio, os agrônomos, os engenheiros, os veterinários – não será outra reminiscência sefardínica?" (Gilberto Freyre. Casa-Grande & Senzala)
A mania de sermos todos doutores ainda grassa entre nós como um mau vezo aristocrático absolutamente antiquado. Somos herdeiros do costume bacharelesco e formalístico de tratar por doutores os formados em Direito e em Medicina. É bem de ver, porém, que, em nossos dias, via de regra, o termo doutor não configura forma de tratamento, mas título acadêmico atribuído àqueles que alcançam o grau de doutorado. Numa época em que o ensino jurídico padece de notória banalização, urge que o tratamento de doutor aos bacharéis, para os que insistem em se agarrar à obsoleta tradição, ao menos seja empregado com comedimento, reservado a situação pertinente ao exercício profissional. No mais, especialmente no cotidiano, basta o tratamento de você ou senhor.
O anel de formatura é outra tradição já bastante esmaecida. Na lida jurídica, o anel não é mais praticamente observado, ressalvados casos raros de apego à ostentação.
A mania dos óculos – o pincenê se converteu em artigo de museu – como sinal de sabedoria ou de requinte intelectual e científico foi absolutamente ultrapassada pelo emprego dos óculos como artigo de saúde, de uso generalizado da população.
No Brasil moderno, ainda repleto de injustas contradições, mas assumidamente democrático, não deve haver brecha para vaidades discriminatórias, pessoais ou sociais. É preciso que deixemos de coisas – vanitas vanitatum, et omnia vanitas – e cuidemos da vida, granjeando respeito não pela ostentação cavilosa de títulos, anéis e óculos, mas pela efetiva valia do exercício dos nossos misteres.
A mania de sermos todos doutores ainda grassa entre nós como um mau vezo aristocrático absolutamente antiquado. Somos herdeiros do costume bacharelesco e formalístico de tratar por doutores os formados em Direito e em Medicina. É bem de ver, porém, que, em nossos dias, via de regra, o termo doutor não configura forma de tratamento, mas título acadêmico atribuído àqueles que alcançam o grau de doutorado. Numa época em que o ensino jurídico padece de notória banalização, urge que o tratamento de doutor aos bacharéis, para os que insistem em se agarrar à obsoleta tradição, ao menos seja empregado com comedimento, reservado a situação pertinente ao exercício profissional. No mais, especialmente no cotidiano, basta o tratamento de você ou senhor.
O anel de formatura é outra tradição já bastante esmaecida. Na lida jurídica, o anel não é mais praticamente observado, ressalvados casos raros de apego à ostentação.
A mania dos óculos – o pincenê se converteu em artigo de museu – como sinal de sabedoria ou de requinte intelectual e científico foi absolutamente ultrapassada pelo emprego dos óculos como artigo de saúde, de uso generalizado da população.
No Brasil moderno, ainda repleto de injustas contradições, mas assumidamente democrático, não deve haver brecha para vaidades discriminatórias, pessoais ou sociais. É preciso que deixemos de coisas – vanitas vanitatum, et omnia vanitas – e cuidemos da vida, granjeando respeito não pela ostentação cavilosa de títulos, anéis e óculos, mas pela efetiva valia do exercício dos nossos misteres.
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