Na Gata da Turma, espécie de esconde-esconde coletivo muito comum no Coreaú dos meus tempos de menino, um grupo se escondia do outro até que um dos integrantes fosse encontrado, invertendo-se a ordem da procura. A turma que iria procurar se concentrava na Coluna da Hora e contava até cem, enquanto a turma a ser procurada embrenhava em diferentes esconderijos da cidades e dos arredores. Alguns ficavam por perto da Praça da Matriz, na copa dos benjamins e flamboyants do centro da cidade. Outros, mais afoitos, chegavam a se esconder na outra margem do rio, atravessando-o a nado; nos terrenos baldios do Alto, nas moitas do Poço do Carro ou nas do Socavão. Cada grupo contava com dez a vinte meninos, formando-se subgrupos de três a quatro, cada qual tomando paradeiro diferente.
Quase sempre sugeria aos camaradas o esconderijo do Socavão; não precisamente pela admirável beleza do lugar, mas pela vizinhança simultânea de um casarão inacabado e de um cemitério antigo e abandonado, ambos sombrios e com fama de mal-assombrados, suficientes quase sempre para resguardar aqueles que tivessem a coragem de se esconder por aquelas bandas.
Uma única vez fomos surpreendidos no Socavão. Quando ouvimos o barulho dos meninos dobrando a curva do casarão, pulamos a cerca do cemitério e ficamos detrás de uma catacumba. No céu havia algumas nuvens que por alguns momentos encobriam a lua clara. A turma se aproximava. Correr não adiantava. Pela regra, bastava dizer, com o adversário em vista: "– Peguei!" O jeito era se esconder. As moitas em volta estavam ressequidas, esgueiramo-nos por detrás dos túmulos. Haviam escutado nosso sussurro, só não sabiam precisamente onde estávamos. Ou, se soubessem, não reuniam coragem bastante para penetrar no cemitério. Ficaram hesitantes na manga de cerca durante muito tempo, falando baixo.
Depois de algum tempo – com uma hora e meia a ordem da procura era automaticamente invertida, caso um grupo não encontrasse o outro –, resolvemos atrair a atenção dos meninos à nossa espreita. Um camarada prevenido havia trazido no bolso uma máscara carnavalesca em forma de caveira. Seguramos o riso. Combinamos silenciosamente o plano terrível.
Balançamos detrás do túmulo uma moita seca. Balançamos novamente, mais forte. Ouvimos um deles dizer: "– Acolá!" Pularam a cerca. Aproximaram-se sorrateiros. Com a máscara na cara e uns molambos brancos penduradas nos braços, nosso camarada preparou-se para a recepção medonha. A lua abria-se lentamente, atravessando uma nuvem escura. Quando avistamos a sombra dos meninos, a uns dois metros de nós, nossa assombração apareceu-lhes repentina e pavorosamente, com as vestes tremulando ao vento e com gritos cavernosos de:
– Uhhhhh!
Tamanho foi o desespero que um dos meninos saltou a cerca do cemitério num único pulo e partiu em disparada para a rua aos gritos de: "– Meu Deus!", sem nem olhar para trás para dar conta de que o outro companheiro havia se enganchado na cerca de arame e depois caído no chão, aos berros, sem poder levantar-se com as pernas bambas.
Quase sempre sugeria aos camaradas o esconderijo do Socavão; não precisamente pela admirável beleza do lugar, mas pela vizinhança simultânea de um casarão inacabado e de um cemitério antigo e abandonado, ambos sombrios e com fama de mal-assombrados, suficientes quase sempre para resguardar aqueles que tivessem a coragem de se esconder por aquelas bandas.
Uma única vez fomos surpreendidos no Socavão. Quando ouvimos o barulho dos meninos dobrando a curva do casarão, pulamos a cerca do cemitério e ficamos detrás de uma catacumba. No céu havia algumas nuvens que por alguns momentos encobriam a lua clara. A turma se aproximava. Correr não adiantava. Pela regra, bastava dizer, com o adversário em vista: "– Peguei!" O jeito era se esconder. As moitas em volta estavam ressequidas, esgueiramo-nos por detrás dos túmulos. Haviam escutado nosso sussurro, só não sabiam precisamente onde estávamos. Ou, se soubessem, não reuniam coragem bastante para penetrar no cemitério. Ficaram hesitantes na manga de cerca durante muito tempo, falando baixo.
Depois de algum tempo – com uma hora e meia a ordem da procura era automaticamente invertida, caso um grupo não encontrasse o outro –, resolvemos atrair a atenção dos meninos à nossa espreita. Um camarada prevenido havia trazido no bolso uma máscara carnavalesca em forma de caveira. Seguramos o riso. Combinamos silenciosamente o plano terrível.
Balançamos detrás do túmulo uma moita seca. Balançamos novamente, mais forte. Ouvimos um deles dizer: "– Acolá!" Pularam a cerca. Aproximaram-se sorrateiros. Com a máscara na cara e uns molambos brancos penduradas nos braços, nosso camarada preparou-se para a recepção medonha. A lua abria-se lentamente, atravessando uma nuvem escura. Quando avistamos a sombra dos meninos, a uns dois metros de nós, nossa assombração apareceu-lhes repentina e pavorosamente, com as vestes tremulando ao vento e com gritos cavernosos de:
– Uhhhhh!
Tamanho foi o desespero que um dos meninos saltou a cerca do cemitério num único pulo e partiu em disparada para a rua aos gritos de: "– Meu Deus!", sem nem olhar para trás para dar conta de que o outro companheiro havia se enganchado na cerca de arame e depois caído no chão, aos berros, sem poder levantar-se com as pernas bambas.
Um comentário:
Belo texto! Parabéns pelo blog.
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