Há mais de um ano e três meses atuando como Defensor Público no interior do Ceará, tenho notado que praticamente 90% (noventa por cento) dos crimes apurados pela Justiça estão relacionados direta ou indiretamente com o vício das drogas. Em Nova Russas, Tamboril e Aracati, as Cadeias Públicas andam lotadas de pessoas consumidas pelo uso das drogas, à semelhança quiçá de todas as demais prisões Brasil afora. Entre os próprios usuários ressoa unânime que o advento do "crack" surtiu um efeito devastador, tamanho o potencial de dependência gerado por dita - aliás, maldita - droga.
É inegável que o tráfico vem ganhando com folga a guerra contra o Estado e a sociedade, tendo-se infiltrado nos mais recônditos rincões do País, aliciando uma geração inteira para o mundo sombrio da dependência química. Os jovens excluídos socialmente são as presas mais fáceis, mas mesmo os filhos da elite presunçosa são atraídos pelo chamado cavernoso do vício, visto que, no dantesco teatro das drogas, todos inevitavelmente somos personagens, protagonistas ou figurantes.
Nessa tragédia, lamentavelmente, o Estado e a sociedade são os atores mais perdidos, guiando-se unicamente pelo ódio e pelo medo, num atabalhoado círculo vicioso de culpa e punição. Ora, se a prisão normalmente já não ressocializa ninguém, para o dependente químico, o ócio e o alheamento familiar oferecido no cárcere são um convite para os distúrbios de toda ordem: desde a severa crise de abstinência, nos raros casos em que a droga não se infiltra na prisão, até ao consumo compulsivo tendente à overdose, quando a droga é comercializada à solta nas celas.
O Estado, preocupado em conter o célere proliferar das drogas, torna demasiadamente severa a legislação penal, equiparado a crime hediondo o tráfico e majorando as penas, declarando um tímido estado de guerra, sem aparente preocupação com a principal vítima da tragédia: a juventude viciada, que se converte em refugo carcerário, numa ilusória limpeza social. Tal vítima, no entanto, é aliciada na porta da escola decadente, não dispõe de projetos governamentais sérios tendentes a descortinar horizontes mais sedutores do que o da fuga da realidade oferecido pelo mundo das drogas, não possuindo sequer uma quadra de esporte para preencher o tempo ocioso de maneira salutar...
É inegável que o tráfico vem ganhando com folga a guerra contra o Estado e a sociedade, tendo-se infiltrado nos mais recônditos rincões do País, aliciando uma geração inteira para o mundo sombrio da dependência química. Os jovens excluídos socialmente são as presas mais fáceis, mas mesmo os filhos da elite presunçosa são atraídos pelo chamado cavernoso do vício, visto que, no dantesco teatro das drogas, todos inevitavelmente somos personagens, protagonistas ou figurantes.
Nessa tragédia, lamentavelmente, o Estado e a sociedade são os atores mais perdidos, guiando-se unicamente pelo ódio e pelo medo, num atabalhoado círculo vicioso de culpa e punição. Ora, se a prisão normalmente já não ressocializa ninguém, para o dependente químico, o ócio e o alheamento familiar oferecido no cárcere são um convite para os distúrbios de toda ordem: desde a severa crise de abstinência, nos raros casos em que a droga não se infiltra na prisão, até ao consumo compulsivo tendente à overdose, quando a droga é comercializada à solta nas celas.
O Estado, preocupado em conter o célere proliferar das drogas, torna demasiadamente severa a legislação penal, equiparado a crime hediondo o tráfico e majorando as penas, declarando um tímido estado de guerra, sem aparente preocupação com a principal vítima da tragédia: a juventude viciada, que se converte em refugo carcerário, numa ilusória limpeza social. Tal vítima, no entanto, é aliciada na porta da escola decadente, não dispõe de projetos governamentais sérios tendentes a descortinar horizontes mais sedutores do que o da fuga da realidade oferecido pelo mundo das drogas, não possuindo sequer uma quadra de esporte para preencher o tempo ocioso de maneira salutar...
Em meio ao fogo cruzado, a sociedade somente aplaude eufórica o noticiário sensacionalista dos violentos confrontos policiais e padece silenciosa o descaminho dos filhos viciados.
Em verdade, muito pouco tem sido feito pelo Poder Público e pela sociedade. Combater a violência resultante das drogas somente com mais violência é algo que beira à desvairada paranoia - típica dos viciados. Os investimentos em projetos de reabilitação são quase insignificantes; os poucos que existem são mantidos mais pelo esforço hercúleo de seus altruístas idealizadores do que propriamente por compromissos governamentais.
Algo de mais sério e eficiente há de ser feito, urgentemente. O território das drogas está-se expandindo perigosamente, trazendo consigo um cenário de violência desmedida. É hora de andar de mãos dadas, de reconhecer que estamos em desvantagem, mas que ainda somos franca maioria. É hora de cada um tomar uma atitude, depositando uma semente de esperança, quer na recuperação de quem já mergulhou no poço profundo das drogas, quer na realização de medidas que inibam a debandada da inocência juvenil para as trevas da dependência química.
É tempo de pedir socorro e de socorrer.
Francisco Eliton Meneses
Francisco Eliton Meneses
Um comentário:
As drogas não são um problema em si. O problema está muito mais na forma como o Estado e a sociedade vêm lidando com elas. O consumo de drogas reponta à antiguidade; não é "problema" novo. Agora, um problema e tanto é o tráfico. Através do tráfico, sobretudo, é que as pessoas têm acesso à uma escalada de níveis de drogas. Na mesma boca em que se consome maconha, vende-se crack, cocaína etc. Como confiar no tráfico, sendo uma atividade criminosa? Acredito que a primeira barreira a ser vencida é a da hipocrisia e do preconceito. Só assim podemos enxergar as drogas com um olhar mais maduro e implantar medidas mais prudentes no tratamento aos dependentes e no controle.
Parabéns pelo texto, Etin!
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