Atentem para o depoimento a partir dos 3min32s.:
Luiz Gonzaga: "Quando me candidatei pro rádio, só queria cantar bolero, valsa vienense, tango argentino... Era nota 1, nota 2, nota 3... Aí, um dia encontrei um grupo de cearense, no mangue, onde eu tocava no mangue, ganhava dinheiro no mangue. Aí já era década de 40 – início da década de 40 – já tinha marinheiro do mundo inteiro, só se falava em guerra. Então, corri o pires ali e apareceu um grupo de cearense e me censurou!
– Você, com essa cabeça chata, rapaz, tocando música de gringo?! Por que cê não toca um negócio daqueles pé-de-serra, lá? Você é de onde?
– Sou de Exu, perto do Crato.
– Ah, somos cearenses, somos vizinhos. Então faz um negócio: Você não disse que aprendeu com seu pai? Por que você não toca um negócio daquele, que ele tocava com você?
– Eu digo: É porque não dá, aqui. Esse acordeon é um instrumento lorde...
– Não dá o quê, rapaz? Se no oito baixos tu tocava o forró... Como é que aqui, no acordeon desse... Se você procurar você acha!
- Batata! Aí pronto! Choveu na minha roça!
(...)"
Eis a força de uma ideia, uma ideia simples, sugerida por um grupo de cearense. Uma ideia de autenticidade e de valorização das próprias raízes, de ousar na criatividade, mas preservando a tradição. Mal sabia esse grupo de cearense que a sua ideia, a partir daquele momento singular, estava mudando o curso da música e da cultura de um povo, despertando aquele que seria o maior ícone das tradições populares nordestinas.
Antes disso, em 1930, Luiz Gonzaga havia sentado praça no Exército, em Fortaleza/CE; depois disso, encontrou em Humberto Teixeira, natural de Iguatu/CE, seu principal parceiro. Nascido em Exu/PE, pertinho do Crato/CE, Luiz Gonzaga tinha mais de um motivo para se considerar – e realmente se considerava – metade cearense e metade pernambucano.
A ideia do grupo de cearense foi incorporada pelo jovem sanfoneiro – às voltas com o bolero, a valsa vienense e o tango argentino –, e, do mangue, Luiz Gonzaga partiu para se tornar o "Rei do Baião".
O que seria da cultura nordestina sem a ideia do desconhecido grupo de cearense? É preferível nem imaginar!
Um comentário:
Onde encontrar esse video, hein? Teu link não funciona mais...
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