sexta-feira, 28 de setembro de 2012

UMA CRÔNICA AO CRONISTA



Confesso, logo de início, que desde pequeno sempre me considerei diferente do restante das pessoas ao meu redor porque os meus hábitos realmente eram pouco comuns. Depois que a gente cresce, conversa, diversifica e, conhecendo ainda mais pessoas, percebe que não é o único a ser "tão diferente assim".
Confesso que, naquela época, enquanto muita gente gostava basicamente de música e artistas e festas e coisa e tal, eu gostava muito de notícia! Principalmente o noticiário esportivo! Tanto assim que, recentemente, um certo "companheiro de trabalho" resolveu me batizar de "enciclopédia do futebol cearense"! Nem sei se tanto sei, mas hoje eu bem sei que esse "saber que sei" um dia corre o risco de virar folclore!
De fato, eu tinha uma certa afixação por jornal! Conhecia, desde pequeno, emissoras de rádio-jornalismo do eixo Rio-São Paulo, como a CBN, a Jovem Pan AM, Rádio Bandeirantes. Era comum eu sair para o colégio ouvindo o "Jornal da Manhã" da Rádio Jovem Pan/SP, durante tanto tempo retransmitido pela "Rádio O Povo".
Quem me conhece de hoje talvez não estabeleça tal conexão porque, algumas vezes, ando mais conhecido pelas músicas de que gosto do que por estar "antenado" demais, com outras coisas.
Mas tudo tem um certo sentido... Ainda entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000 , meu pai fez a assinatura anual e diária do Jornal O POVO. E ali eu começava a ler o caderno de Esporte até o de Política, Cidade e até Economia... Se existia um "caderno dispensável", era aquele de cultura, o tal Vida & Arte! Nas poucas vezes em que o li, buscava simplesmente a coluna "política-humorística" de José Simão. Contudo, nessas idas esporádicas àquele caderno, me coloquei a ler, nem lembro porque, uma crônica dele... Airton  Monte!
Seria passar por ridículo dizer que lembro o conteúdo, as palavras, o que ele escreveu! Seria tão absurdo que não dá nem pra dizer que é mentira!
Mas, em verdade, tempos depois, me vi indo ao Vida & Arte toda semana para me divertir com as palavras, os trocadilhos, o jeito fácil, os fatos sociais e as "coisas da vida" transformadas em poemas do cotidiano!
Tempos depois, quando os deveres chamavam e o tempo para leitura do jornal diminuiu, me via a ler somente o Esporte, a Política e o... Airton Monte! Quando as provas chegavam e o tempo apertava, então "folheava" o Esporte, a Política e lia o Airton Monte! Por fim, quando pelo vestibular nem tempo tinha, eu simplesmente lia... o Airton Monte!
Sentimento Abrupto? Sinceramente, não sei! Mas, às vezes, é "...besteira querer explicar a vida e as paixões que nos tomam de assalto. Simplesmente, elas acontecem."
E foi mais ou menos assim que o jornal me deixou de ser um mero "retransmissor de notícias"! E que o conhecimento deixou de ser somente aquele "politicamente correto"!
De verdade, a crônica de Airton era cotidiana, sem deixar de exercer uma crítica-política. Era boêmia, sem deixar de ser séria! Era poética, apesar de encerrar inúmeros gols do Fortaleza - tudo num gostoso "trocadilho alvinegro", se me permitem! Às vezes, sua crônica era até "viril", mas nunca sem deixar de cortejar sua "bem amada", afinal.... "me digam, meus senhores do conselho, haverá coisa mais sem graça e sem beleza e sem poesia do que um mundo sem mulher? Nele não desejo viver nem passar perto, decerto."
Êita que falando assim mais parece que eu era amigo pessoal e sempre contínuo de Airton Monte... Mentira! E Tresloucada! Juro que não o conheci pessoalmente! E houve tempo que o deixei de ler, tempo que voltei, enfim. A verdade nisso é que sempre "resta ao escritor, quando dá de cara com um bom filão, explorá-lo até as últimas consequências enquanto render, frutificar. Todo o resto é conversa fiada pra boi insone dormir." – Eu só não imaginei que o meu filão, um dia, seria você, caro cronista!
Por fim, a notícia de seu falecimento me remeteu a uma dúvida assaz curiosa: Até onde nós perdemos um "amigo antigo" que nem conhecíamos? Será possível ter um amigo que sequer conhecemos?
Quem lia Airton Monte sabe, como ninguém, que é "Inútil buscar respostas, pois não há respostas. O encontro é o grande fim da humana jornada!"
Vá em paz, amigo!

Raphael Esmeraldo Nogueira
Cronista

Um comentário:

Eliton Meneses disse...

O blog se ressentia de uma homenagem a um maiores cronistas cearenses de todos os tempos. Não me senti autorizado a escrevê-la, tendo em conta que lamentavelmente não li praticamente nada de Airton Monte. Mas o motivo principal a me desautorizar é que tinha ciência de que ao meu lado contava com um cronista de mancheia e ainda assíduo leitor de Airton Monte. Valeu à pena esperar alguns dias! Eis uma saborosa crônica em homenagem ao cronista. Airton Monte por Raphael Esmeraldo, correlação da crônica de ontem e de hoje!