quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O MERCADO DO VOTO



Venerando os tempos idos; 
No engenhoso afã eleitoral;
Os votos não eram vendidos
Por um punhado de vil metal.

Meu pai disse: no seu tempo,
Não se rateava a corrupção,
Prefeito prometia o emprego,
Sem prestar sinal ou caução.

Olvidando a promessa feita,
Na véspera da nova eleição,
Desafiava possível despeita,
Acorria solícito ao cidadão.

Inda que a porta não abrisse,
Indignada, co'a tranca na mão,
Abrandava a ilusão contrafeita,
O vislumbre da prata pelo vão.

 Um reles emprego, compadre,
Não lhe suprimiria a precisão,
Lhe afastaria da peleja da lida,
Mas não traria real redenção.

 Preferi oferecer quantia robusta,
Que a paciência lhe fez merecer,
Também sei quanto a vida custa,
Nossa amizade não irá perecer.

  Aceita, homem besta, o agrado!
Atalha a comadre pressurosa.
Lobrigando o roçado parado,
Exulta co'a oferta miraculosa.

Vetusta prática carcomida,
Torpe viés de degradação,
De consciências prostituídas,
A compradores de arribação.

Grassa a mercancia do voto,
Inflacionada e sem vedação,
Herança de um tempo ignoto,
De onde nasceu a alienação.

O vicioso círculo persiste,
Sem esperança de solução.
Quisera que um dia o inibisse
A força da lei e da educação.

Eliton Meneses

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