quinta-feira, 6 de setembro de 2012

PARA REFLETIR

Fui convidado a prestar alguns esclarecimentos à comunidade do Bairro Pedregal, nos arredores de Aracati, sobre a situação de uma Ação Civil Pública proposta pela Defensoria Pública e o Ministério Público para a regularização fundiária do bairro, atualmente o mais populoso da cidade. 
Trata-se de uma luta antiga dos moradores e dos movimentos populares para o reconhecimento do direito à moradia de uma população estabelecida no bairro já há algumas décadas. Anteriormente um mero descampado, o bairro, próximo à margem esquerda da foz do Rio Jaguaribe, é tangenciado pela BR 304, no entroncamento com a CE-040, e ainda conta com a vizinhança da Faculdade Vale do Jaguaribe e do recém-inaugurado Aeroporto Dragão do Mar, reunindo, portanto, todos os atrativos para a especulação imobiliária.   
Combinei com as representantes da Organização Popular de Aracati (OPA) o encontro para a terça-feira (04.09) à noite, na igreja do bairro, na crença de que encontraria meia dúzia de interessados na regularização da situação jurídica de suas casas. No entanto, quando cheguei ao local, encontrei uma igreja lotada de gente, entoando cânticos e palavras de ordem tocantes à luta popular por direitos. Imaginei que estivesse havendo missa. Fiquei surpreso e desconcertado quando disseram que estavam todos somente à minha espera.  
O acanhamento inicial logo cedeu espaço ao entusiasmo; afinal, estava numa comunidade carente para esclarecer a luta que a Defensoria Pública vinha travando para que cada uma daquelas pessoas tivesse reconhecido o seu direito à moradia. Estava, enfim, no meu elemento, fazendo o que mais gosto de fazer, atuando como Defensor Público no combate às injustiças sociais. Dei razoavelmente meu recado. 
Chamou-me, porém, especialmente a atenção a ênfase que a líder comunitária deu ao falar do caráter apartidário dos movimentos populares da cidade, ressaltando que, independentemente de quem tem ocupado o Poder, a luta das comunidades pelo reconhecimento de seus direitos tem sido historicamente a mesma.  
Saí exultante do encontro, não sem antes agradecer a atenção de tanta gente do Bairro Pedregal e parabenizar o  empenho e a dedicação da Organização Popular de Aracati na luta em favor especialmente das comunidades mais carentes.
Na volta fui pensando numa ideia que há muito me inquieta, a de que não se faz revolução com o voto. Deveras, com um arranjo político-administrativo repleto de limitações, tais como orçamento apertado, folha de pagamento extensa e pressões de toda natureza, notadamente as decorrentes dos financiadores das campanhas demasiadamente onerosas, não há muito o que esperar dos nossos políticos, mesmo dos mais competentes, honestos e bem intencionados. 
É preciso sermos mais céticos em relação à política. Não que deixemos de votar ou mesmo de participar ativamente das eleições. O sujeito indiferente à eleição finda se convertendo no analfabeto político de que fala Bertold Brecht; no entanto, quem muito espera das eleições invariavelmente tem padecido frustrantes desilusões. 
É preciso, portanto, que cada um contribua para a construção de um mundo melhor, inclusive escolhendo os melhores candidatos para ocupar os cargos políticos e fiscalizando a sua atuação, sem esquecer, porém, que há muitas cobranças que costumamos fazer aos políticos que, em verdade, são decorrências dos deveres que nós, como cidadãos, negligenciamos. Nesse aspecto, as líderes comunitárias da Organização Popular de Aracati têm muito a nos ensinar.         

Um comentário:

Midas disse...

Parabens "cabôcô". Belo texto e mais bela ainda a causa do mesmo... Vou lincar para a Tribuna de Jambom.