quinta-feira, 20 de junho de 2013

PRIMAVERA BRASILEIRA



É inegável que há uma corriola reacionária infiltrada nas manifestações sociais que varrem o País (não há, lamentavelmente, como se livrar dela por completo, em lugar algum do mundo); no entanto, querer rotular, por devoção partidária, todo o movimento com a pecha de golpismo contra a presidenta Dilma é algo que beira à desvairada loucura! Isso porque as bandeiras dos protestos são basicamente as mesmas bandeiras progressistas que as esquerdas sempre empunharam, ao menos no discurso. As manifestações são contra a imprensa manipuladora, especialmente a Globo; contra a corrupção que campeia generalizada diante dos olhos atônitos de todos, com ênfase na rejeição da PEC 37; contra um sistema político falido, que seduziu e degenerou inclusive a própria esquerda brasileira; contra as inversões de prioridades de todo gênero, a começar pela crônica falta de dinheiro para saúde e educação, ao passo que há dinheiro de sobra para três megaeventos consecutivos como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas do Rio-2016; contra governos de toda ordem e de todas as esferas, municipal, estadual e federal, de partidos A, B, C, D, E e Z... Enfim, o momento (para os nossos políticos e seus asseclas) é de escutar atentamente o clamor que vem das ruas e de fazer um "mea culpa" e não de promover ataques enviesados e enraivecidos contra as multidões que protestam por um País mais justo, ético e solidário. 
Muito embora os dez anos do PT no Governo Federal tenham rendido muitos avanços para o País, ainda há muito a conquistar, ainda há muito sonho dormitando na burocracia caduca das nossas repartições, ainda há muita grana nas cuecas medonhas de muitos políticos safados. É preciso lembrar que a reforma agrária, apesar dos dez anos de PT, ainda se mantém como um tabu entre nós (sequer cogitada nos últimos anos). É preciso lembrar que a camarada Dilma é a presidenta da República, mas que em sua volta há uma base aliada voraz que reúne elementos da pior escória da política nacional. É preciso lembrar que o Congresso Nacional aprovou recentemente, a duras penas, um projeto de lei conferindo autonomia financeira à Defensoria Pública, para que as pessoas mais pobres tivessem acesso à Justiça, e a presidenta Dilma vetou o projeto por inteiro, sem pestanejar, a pedido de meia dúzia de governadores de partidos políticos pouco identificados com as causas populares...
A luta das ruas, portanto, é por avanços e não por retrocessos. O momento é de o povo ir para as ruas e processar uma depuração radical que está entalada há muito tempo na garganta. Os melindres partidários e as simpatias ideológicas não podem amesquinhar o debate a ponto de reduzi-lo a uma ojeriza pura e simples pela mais expressiva demonstração democrática que este País já conseguiu produzir. É em momentos de crise que cada um verdadeiramente mostra sua face, algumas vezes surpreendentemente sincera, outras vezes terrivelmente sombria. O que for podre haverá de quebrar e quem realmente estiver do lado do povo, na luta real (porque não basta se autoproclamar popular), será preservado, mesmo alguns políticos do atual regime, mas desde que estejam entoando, na rua, de mãos dadas com o povo, o hino que será cantado no dia da vitória final.      

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