sábado, 29 de junho de 2013

DONA RAIMUNDA


Trancada no quarto escuro, enxugando o líquido purulento que escorria pela perna doente, Dona Raimunda recordava a última visita do seu pretendente garboso. Não acreditava na conversa do povo. O viúvo Tibério acabara de visitá-la. Estivera em sua calçada, escorado na meia-porta, entabulando uma prosa agradável. Não fosse a pressa, teria aceitado o convite para um café. Logo que o eczema crônico sarasse, iria convidar o guapo viúvo para uma nova vida a dois. Com sessenta anos de idade, solteira e amufumbada, ainda nutria alguns sonhos futuros. Tibério não iria casar com a jovem vizinha enfarosa. Era só boato do povo. Ouvia toda manhã a voz dele. Confiava nas suas promessas sinceras. Somente uma parede os separava. A vizinha andava sumida ultimamente de casa. Teria casado com outro viúvo. Ficou somente o irmão caçula aletrado. Havia muita mentira no mundo.
– Eu te desconjuro, excomungada do diabo!

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