Não recordo precisamente quando me iniciei no ofício. Num inverno promissor de meados dos anos 80, suponho. Dedé não deu conta de um dos cambos de curimatã. Deram-lhe as contas na primeira venda. Prossegui solitário vendendo peixes pelas ruas calmas da Palma pelos longos anos seguintes. A meninada, mesmo necessitada, considerava indigno o ofício de vender peixe. À época, peixe era comida de pobre.
A timidez e a falta de vocação não me permitiram aprimorar ao longo do tempo técnica comercial alguma. Caminhando cabisbaixo pelas calçadas, com os peixes fustigando as pernas, oferecia-os nas portas dos poucos fregueses mais frequentes.
– Quer comprar peixe?
Geralmente a resposta era o silêncio. Um ou outro dava uma espiada, perguntava a origem do peixe, pedia desconto, reclamava do cheiro forte, quase sempre numa mera curiosidade maçante; ao final, recusava a oferta. Eu escutava resignado os praguejos irritantes do sapateiro Cordeiro, aguardava paciente a escolha demorada de Dona Evani e de Dona Fransquinha, depois dobrava o dinheiro e o guardava no cós do calção surrado e voltava para casa saltitante, sem atinar na relevância do apurado do dia para a debilitada economia familiar.
(...)
A timidez e a falta de vocação não me permitiram aprimorar ao longo do tempo técnica comercial alguma. Caminhando cabisbaixo pelas calçadas, com os peixes fustigando as pernas, oferecia-os nas portas dos poucos fregueses mais frequentes.
– Quer comprar peixe?
Geralmente a resposta era o silêncio. Um ou outro dava uma espiada, perguntava a origem do peixe, pedia desconto, reclamava do cheiro forte, quase sempre numa mera curiosidade maçante; ao final, recusava a oferta. Eu escutava resignado os praguejos irritantes do sapateiro Cordeiro, aguardava paciente a escolha demorada de Dona Evani e de Dona Fransquinha, depois dobrava o dinheiro e o guardava no cós do calção surrado e voltava para casa saltitante, sem atinar na relevância do apurado do dia para a debilitada economia familiar.
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