quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O CASTANHÃO E A "INDÚSTRIA DA SECA"



A propaganda oficial do Governo do Estado alardeou, no final dos anos 90, a solução definitiva do problema da seca. O açude Castanhão iria molhar todo o solo esturricado do Ceará, garantindo permanentemente água no pote e comida na mesa do homem do campo, mesmo durante longas estiagens. No entanto, bastou um único ano de inverno irregular para o flagelo da seca novamente ganhar as manchetes dos jornais. Carros pipas, gado morrendo, gente passando fome... O mesmo filme secular se repete. Enquanto isso, quase não se escuta falar das águas do Castanhão. A enorme barragem, com potencial para represar impressionantes 6,7 bilhões de m³ de água, está com 70% de sua capacidade total, mas, ainda assim, não tem sequer aliviado, de modo geral, os efeitos da seca de 2012 no Estado. 
À época de sua construção, foi preterida a proposta alternativa da construção de 06 (seis) grandes açudes com capacidade para 1,2 bilhões de m³ cada um, na perspectiva da descentralização das reservas hídricas. A proposta considerava que o Castanhão seria construído relativamente próximo ao Orós e numa altitude baixa em relação ao nível do mar, causando sérios problemas, sobretudo energéticos, para escoar a água para regiões mais elevadas, como os Inhamuns, onde a escassez hídrica é muito mais severa. Com dimensões menores, ademais, não seria preciso inundar Jaguaribara, tampouco construir uma nova cidade... 
O Governo, de toda sorte, preferiu a construção de uma única obra faraônica, na certeza de atrair a simpatia de muitos eleitores incautos, com o reforço de ilusórias propagandas, e, talvez, na vã esperança de intimidar as forças da natureza com a demonstração megalomaníaca do engenho humano, muito embora seja trivial que os fenômenos climáticos inexoráveis como a seca não se resolvem por obra alguma da mão humana, admitindo, quando muito, medidas de convivência harmônica.    

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