domingo, 28 de outubro de 2012

FORTALEZA AMARELOU


A Fortaleza rebelde amarelou. Permitiu uma concentração de poder quiçá somente vista na época da oligarquia Nogueira Accioly, preocupada com questões menores, como se precisasse de um imaginário gerente eficiente muito mais do que de um administrador público comprometido com a redução das desigualdades sociais. 
De um cenário de empate técnico na véspera da votação, eis que as urnas revelaram uma diferença generosa. Muitos rumores de compra de voto, flagrantes abundantes de "boca de urna", contratação em massa de "fiscais"; enfim, expedientes clássicos da enviesada política interiorana. 
Há quase vinte anos acompanhando eleições municipais em Fortaleza nunca havia visto algo parecido. Na prática, a aparência de um retrocesso político histórico de praticamente cem anos. Uma oligarquia tradicional de raiz interiorana, financiada pelo empresariado, dominou Fortaleza, sob os olhos cândidos de uma oposição que não se posiciona e ainda faz campanha por uma quimera chamada voto nulo, esgueirando-se sorrateiramente da responsabilidade num momento crucial que exigia uma decisão séria. 
Assim, num quadro de degeneração e desagregação dos partidos historicamente ditos de esquerda, a elite burguesa reconquista Fortaleza, e não pretende devolvê-la nas próximas décadas.    
A festa, esperada para a Avenida da Universidade, não acontecerá. A comemoração será na Aldeota, na "casa-grande". O povo hoje está convidado, desde que fique do lado de fora do "buffet", sentindo contente o cheiro do salmão grelhado.
Amanhã, e nas próximas décadas, tudo permanecerá como antes, como quase sempre foi, com algumas agravantes. A burguesia conservadora respira aliviada.
Ao menos poderei dizer, para a futura geração que bradar "abaixo a oligarquia!", que, desde o início, eu fui contra. E que aqueles que contribuíram para a instalação do regime, por ação ou omissão, não digam depois que são inocentes porque não foram avisados...

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