sexta-feira, 27 de abril de 2012

ANEDOTAS DO QUINTINO



Quintino Cunha (1875-1943), poeta e advogado criminalista, foi uma figura folclórica cearense. Eis algumas de suas anedotas.

DESCONCERTANDO O ADVERSÁRIO

Conta-se que, numa audiência em Fortaleza, um professor de hipnose era acusado de furto.
A certa altura, disse este, em sua defesa:
– Se eu quisesse fugir, poderia fazer todos aqui dormirem!
O advogado Quintino Cunha, que acompanhava a audiência, interveio:
– Não é preciso, deixe isso a cargo do seu advogado!

Noutra feita, corria uma audiência quando o juiz advertiu o causídico, dizendo:
– Doutor Quintino, eu estou montado na lei!
– Pois mal faz Vossa Excelência em montar um animal que não conhece!

LEGÍTIMA DEFESA DA PACIÊNCIA

Certa feita, Quintino foi contratado para defender um bêbado acusado de assassinar um cidadão rico que sempre o insultava na rua.
No tribunal do júri, dirigiu-se ao Juiz da seguinte forma:
– Meritíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito. Meritíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito. Meritíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito. Meritíssimo Senhor Doutor Juiz…
A estas alturas, o juiz, já impaciente, interrompe:
– Um momento, doutor! O senhor vai fazer a sua sustentação oral ou não?
E então o advogado responde:
– Pois então, Excelência… Eu lhe chamei quatro vezes de um título que honrosamente lhe pertence e o senhor me interrompeu, visivelmente irritado… Imagine se eu passasse todos os dias em sua frente, durante vários anos, e lhe chamasse de "Cara de tabaco"… O senhor não me daria um tiro?

TRAPAÇA NO JÚRI

Certa vez, no tribunal do júri, Quintino levou até o promotor à comoção ao dizer que o acusado era arrimo de família e cuidava sozinho de sua mãezinha cega de mais de oitenta anos:
– Não olhem para o crime deste infeliz! Orem pela sua pobre mãe, velhinha, doente, alquebrada pelos anos e pela tristeza, implorando a misericórdia dos homens, genuflexa diante da justiça, se desfazendo em lágrimas, pedindo liberdade para o seu filho querido!
O réu foi inocentado. Na saída do tribunal, um dos presentes, sensibilizado, aproximou-se do causídico:
– Doutor Quintino, quero fazer uma visita à mãe daquele infeliz, pois quero ajudá-la!
– Ora! Eu sei lá se esse filho de uma égua algum dia teve mãe!

(Adaptado do livro "Anedotas do Quintino", de Plautus Cunha)