Quintino Cunha (1875-1943), poeta e advogado criminalista, foi uma figura
folclórica cearense. Eis algumas de suas anedotas.
DESCONCERTANDO O ADVERSÁRIO
Conta-se que, numa audiência em Fortaleza,
um professor de hipnose era acusado de furto.
A certa altura, disse este, em sua defesa:
– Se eu quisesse fugir, poderia fazer todos aqui dormirem!
O advogado Quintino Cunha, que
acompanhava a audiência, interveio:
– Não é preciso, deixe isso a cargo do seu advogado!
Noutra
feita, corria uma audiência quando o juiz advertiu o causídico, dizendo:
– Doutor Quintino, eu estou montado na lei!
– Pois mal faz Vossa Excelência em montar um animal que não
conhece!
LEGÍTIMA DEFESA DA PACIÊNCIA
Certa feita, Quintino foi contratado para defender um bêbado
acusado de assassinar um cidadão rico que sempre o insultava na rua.
No tribunal do júri, dirigiu-se ao Juiz
da seguinte forma:
– Meritíssimo Senhor Doutor Juiz de
Direito. Meritíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito. Meritíssimo Senhor Doutor
Juiz de Direito. Meritíssimo Senhor Doutor Juiz…
A estas alturas, o juiz, já impaciente,
interrompe:
– Um momento, doutor! O senhor vai
fazer a sua sustentação oral ou não?
E então o advogado responde:
– Pois então, Excelência… Eu lhe chamei
quatro vezes de um título que honrosamente lhe pertence e o senhor me
interrompeu, visivelmente irritado… Imagine se eu passasse todos os dias em sua
frente, durante vários anos, e lhe chamasse de "Cara de tabaco"… O
senhor não me daria um tiro?
TRAPAÇA NO JÚRI
Certa vez, no tribunal
do júri, Quintino levou até o promotor à comoção ao dizer que o acusado era arrimo de
família e cuidava sozinho de sua mãezinha cega de mais de oitenta anos:
– Não olhem para o crime deste infeliz!
Orem pela sua pobre mãe, velhinha, doente, alquebrada pelos anos e pela
tristeza, implorando a misericórdia dos homens, genuflexa diante da justiça, se
desfazendo em lágrimas, pedindo liberdade para o seu filho querido!
O réu foi inocentado. Na saída do
tribunal, um dos presentes, sensibilizado, aproximou-se do causídico:
– Doutor Quintino, quero fazer uma
visita à mãe daquele infeliz, pois quero ajudá-la!
– Ora! Eu sei lá se esse filho de uma
égua algum dia teve mãe!
(Adaptado do
livro "Anedotas do Quintino", de Plautus Cunha)