Estimado Leonardo Pildas,
Recordo de, ainda criança, ter lido um belo texto de sua lavra e de, curioso, ter indagado a minha mãe sobre quem seria Leonardo Pildas. As palavras dela foram as mais elogiosas, tendo ressaltado com especial carinho que a sua saudosa genitora havia sido professora dela.
Daí, guardei o seu nome, pelo talento estampado no texto e pela coincidência materno-escolar. Aliás, meu "Menezes" é gravado com "s", por um lamentável lapso cartorário, mas deveria ser com "z", tal como o seu, porque sou "Menezes" pela linha materna e paterna; de modo que, se formos perscrutar nossas ascendências, seria provável encontrar entre nós algum parentesco não tão remoto.
Depois daquele primeiro texto, já li muita coisa sua, crônicas, contos, poemas, memórias (...). Tudo sempre escrito com refinada erudição, com notável valor na forma e no conteúdo. Posso confessar que sou um seu leitor voraz. E como um razoável leitor que me considero, reconheço-lhe como um grande mestre da pena – e da cultura em geral –, cuja envergadura transcendente em muito os limites palmenses.
Certa feita, nas minhas andanças pelos sebos da capital alencarina, há um lustro aproximadamente, dei com você n'O Geraldo, acorrendo-me um enorme desejo de entabular um colóquio. Lamentavelmente, o meu irritante acanhamento não o permitiu, permanecendo ainda hodiernamente a frustração pelo desencontro.
Saiba, portanto, de antemão, que lhe devoto toda a minha reverência, reconhecendo em você um enorme talento que enobrece sobremaneira a cultura palmense.
Tirante o apreço intelecto-cultural, que já nutria por você há tempos, agora lhe tenho outro, para mim ainda mais relevante, relacionado à nobreza do caráter, à solicitude no trato e à humildade de reconhecer as próprias limitações.
Confesso que fiquei meio apreensivo antes de abrir o seu texto enviado por e-mail, por recear ter eu revelado porventura um viés de ingratidão por tudo quanto você tem feito ao longo de décadas em prol do engrandecimento cultural da nossa terra. Mas eis que tive a grata surpresa de deparar com uma gentil aceitação da crítica, com a humildade inerente aos grandes de reconhecer os próprios deslizes, em meio a uma emocionante confissão de apaixonada dedicação e dos percalços que envolveram o preparo da grandiosa obra sobre nossa terra e nossa gente.
Tais palavras soaram-me qual um poema, por refletirem, além da grandeza do escritor, a grandeza do homem – somente não descoberta antes decerto por não conhecê-lo pessoalmente.
Os seus 18 (dezoito) anos dedicados à "História de Coreaú", Pildas, nos renderam uma obra grandiosa. Uma obra digna de muitos encômios, que dignifica demasiadamente a cultura palmense. Uma obra notoriamente produzida com amor, talento e dedicação.
No entanto, como toda obra humana, é natural que carregue algumas omissões. E a benção de tê-lo ainda jovem e saudável nos dá a confiança de que eventuais lacunas serão colmatadas em edições vindouras.
A crítica no tocante à maior ênfase que esperávamos no enfoque da questão agrária que vitimou o Benedito Tonho é uma ressalva pontual que em nada ofusca a grandeza da sua obra. Imagino o quão difícil para você, à época na Bahia, tenha sido colher informações sobre o episódio que vitimou o Benedito Tonho, mormente numa época ainda distante das comodidades proporcionadas pelo internet...
Outro aspecto não tão pontual, mas necessário, caso a obra proponha-se a manter fidelidade ao título de "História de Coreaú", diz com a adoção, em edições vindouras, de elementos críticos do processo de formação e de evolução econômica, política e social da nossa terra. Talvez se trate de sugestão despropositada, de quem tomou conhecimento ao menos da história do Brasil unicamente pela leitura de Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e Celso Furtado. De toda sorte, é sugestão de quem espera o melhor para a sua gente e de quem confia, independentemente de formação acadêmica em História, na inteligência e no talento do genial autor da "História de Coreaú".
Noutro passo, ainda que tardiamente, apresento meus sinceros agradecimentos pelas elogiosas palavras no seu artigo "Letras palmenses", publicado no RM no Foco. Acho sinceramente que minha contribuição para a grandeza das letras coreauenses é praticamente nenhuma, mas, dada a singeleza do "Leruá da Palma", fico deveras agradecido pela generosidade das palavras.
Demais disso, retornando à "História de Coreaú", há no volume que adquiri – e que mantenho em destaque no meu modesto acervo – uma omissão enorme, que me deixa intrigado há longas datas, uma omissão que não diz propriamente com a historia nem com a geografia de Coreaú. Tal omissão, gritante, diz com a ausência do autógrafo do autor da obra – há muito desejado – e quiçá uma breve dedicatória. Tal relevante omissão continua a me inquietar na obra. Mas mantenho a esperança de que ela seja solucionada em breve...
Com nosso respeito e nossa admiração...
Fortaleza, 30 de abril de 2012.
Francisco Eliton A Meneses
P.S.1: Pode, sim, imprimir o texto do Benedito Tonho para o Arquivo Memória de Coreaú, não pela qualidade do poema, mas pela relevância do grande conterrâneo vítima das injustiças sociais.
P.S.2: Não sou Defensor Público em Fortaleza; na verdade, atualmente estou lotado em Aracati. Talvez daqui a um ano retorne à capital.