Desta feita a conversa foi coerente e demorada. Mário Gomes, depois de um aceno à distância, aproximou-se sorridente e aceitou, algo surpreso, o convite para sentar-se à mesa. Pedi dois chopes ao garçom e sugeri um brinde. As pessoas das mesas vizinhas espiaram no início de esguelha, com surpresa e desconforto, aquele que deviam considerar um simples mendigo perturbado, mas com a evolução da prosa findaram cuidando de suas próprias vidas.
Apesar do aspecto físico um tanto combalido, o poeta mostrou-se com excelente disposição. Lembrou-se do Galba Gomes, do Benedito Gomes, de detalhes da última conversa que travamos... Disse que considerava bastante oportuno o convite para compartilharmos um chope... Depois, contou-me que seu pai era natural de Canindé e sua mãe de Caucaia, falou de alguns parentes, de sua idade e definiu-se simplesmente como um poeta independente.
Ergueu-se, num arroubo eufórico. Questionou se iríamos beber ou só conversar... Sentou-se novamente, cedendo ao meu apelo, e, já calmo e afável, resolveu presentear-me. Passou-me uma folha de papel ofício, um pouco amassada, com um breve texto em sua homenagem assinado pelo poeta e historiador Juarez Leitão, com um desenho abaixo de um Mário Gomes jovem e robusto, feito pelo poeta e ilustrador Aldifax Rios.
Na sexta animada do Chopp do Bixiga, tentei convencê-lo a procurar um médico para cuidar da sua coluna, que aparentava tão envergada quanto a de Frei Damião. Mário Gomes assegurou que não precisava de médico. Considerava sua saúde impecável... Em seguida, ergueu-se mais uma vez, elogiou a beleza da Auri, disse que não gostava de segurar vela e pediu apenas um real para uma dose de cachaça... Com a moeda no bolso, fez um leve aceno sorridente e seguiu seu passo trôpego na noite fortalezense.
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