domingo, 4 de março de 2012

DICA DE PORTUGUÊS - O MESMO


É recomendável evitar o emprego - já banalizado - do pronome demonstrativo mesmo fora de sua função morfossintática. 
A expressão mesmo, etimologicamente, significa próprio, semelhante, exatamente igual, análogo, parecido, etc... Vem do latim vulgar: "metìpsìmus,a,um, sup. de metipse, da partícula met + pronome de ipse,a,um '(próprio), mesmo, mesma; ele mesmo, ela mesma; de si mesmo, de si mesma'; f.hist. 1265 meesma, sXIII mesmo, sXIII menesmo, sXIII meesmo, sXIII mismo", segundo Houaiss. 
O pronome demonstrativo mesmo designa um termo igual a outro que já ocorreu no texto: "A reclamação da população é sempre a mesma". Ou é utilizado como reforço dos pronomes pessoais: "Ele mesmo passou a roupa".
Se, v.g., alguém requer o levantamento do depósito realizado por outrem, em favor do mesmo, não há precisão quanto a quem favorecerá o levantamento. Em favor de alguém ou de outrem? Não dá para saber, ainda que se tolere o emprego vulgarizado do demonstrativo mesmo, fruto de uma certa ojeriza - infundada, gize-se - pelos termos ele, ela, esse, essa, desse, dessa, dele, dela...
O emprego excessivo do mesmo demonstra especialmente pobreza de estilo, como pondera Napoleão Mendes de Almeida. Imaginem Camões declamando: "Mas não servia ao pai, servia a mesma, E a mesma só por prêmio pretendia." (Gramática Metódica).
Houve tempo em que o mesmo tornou-se modismo, mormente em meio ao palavreado policialesco, e até mestres da pena, por descuido, lançaram mão do mesmoMas foi um modismo que não prosperou, por razões etimológicas, sintáticas e estilísticas.  
É preferível, portanto, não complicar, sigamos Camões: "Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prêmio pretendia."