O desprezo que Júlio nutria por seu país estava intimamente associado ao seu fascínio pelos Estados Unidos da América. Também admirava a Europa, pelas conquistas, pela revolução industrial, pelas monarquias ainda importantes..., mas o velho continente para ele vinha logo após os Estados Unidos. Em suas duas viagens internacionais tinha ido a Miami e New York, com os minguados recursos do ordenado municipal. Júlio não se afeiçoava à América Latina, para ele um bando de republiqueta indócil com regime populista. No Brasil, admirava a pujança econômica de São Paulo e a influência europeia do Sul, considerando todo o resto um atraso civilizatório.
Na religião, Júlio era devoto de meia dúzia de santos e acreditava num deus com aparência de rei medieval, quase sempre sentado num trono suntuoso, com uma pesada coroa de ouro e um enorme cetro ricamente ornamentado. Esse deus dava ordens, punia severamente os pecados e resolvia, por meio da Igreja, os problemas materiais do seu rebanho.
Júlio se achava um fosso de cultura; fizera precariamente o curso básico de inglês e posava com ares de poliglota. No português jamais acertava a crase e seus textos eram eivados de barbarismos e solecismos. Escutava música clássica e sucessos franceses e italianos, sem compreender nada. Era formado em Sociologia e ensinava em duas escolas de ensino médio. Durante a faculdade Júlio contestou fervorosamente o que considerava doutrinação marxista e recrudesceu sua ojeriza pelos esquerdistas, para ele uns parasitas alienados. No trabalho de conclusão de curso defendeu Israel, com unhas e dentes, em meio à morte de muitos palestinos.
Júlio acreditava piamente na meritocracia e no liberalismo econômico. Todos seriam iguais e poderiam, com esforço e perseverança, conquistar quaisquer objetivos na vida. O Estado não deveria se meter na economia nem fazer caridade com o dinheiro alheio; deveria basicamente cuidar da saúde e da educação e combater o crime. Os programas sociais eram assistencialismo eleitoreiro e as cotas no ensino superior uma violação à isonomia. Júlio também não era afeito aos movimentos sociais. Alguns deles não passariam de grupos criminosos. A única greve legítima era a dos professores. Professor Júlio considerava Che Guevara um facínora; Marx, um vagabundo incendiário; Evo Morales, um maconheiro... Seus ídolos eram Adam Smith e Ludwig von Mises e suas citações prediletas eram de ex-presidentes norte-americanos, de Margaret Thatcher e da imprensa conservadora nacional.
Júlio detestava o governo federal, conquanto, em seu pobre município, silenciasse quanto ao prefeito alinhado com aquele. Toda corrupção que carcomia a pátria estava no partido do governo federal. No Município, no Estado, na oposição ao governo federal, não havia corrupção ou era ela de somenos relevância... Urgia arrancar o mal pela raiz, restabelecer a ordem, banir os privilégios de pobres acomodados.
Não apoiava a intervenção militar, porque a achava contrária à doutrina do Estado mínimo, mas protestava nas ruas de mãos dadas com aqueles que a apoiavam. Júlio, mais que um neoliberal, era um reacionário; contrário à doutrina social da Igreja Católica, considerada comunista; ao casamento homoafetivo; aos direitos humanos, tidos como direito de bandido...
Júlio, professor satisfeito de uma decadente cidade sertaneja, é mais um militante da direita, que prega, na escola e na internet, que o sonho de mudar o mundo acabou e que as coisas devem permanecer como sempre foram...
Júlio acreditava piamente na meritocracia e no liberalismo econômico. Todos seriam iguais e poderiam, com esforço e perseverança, conquistar quaisquer objetivos na vida. O Estado não deveria se meter na economia nem fazer caridade com o dinheiro alheio; deveria basicamente cuidar da saúde e da educação e combater o crime. Os programas sociais eram assistencialismo eleitoreiro e as cotas no ensino superior uma violação à isonomia. Júlio também não era afeito aos movimentos sociais. Alguns deles não passariam de grupos criminosos. A única greve legítima era a dos professores. Professor Júlio considerava Che Guevara um facínora; Marx, um vagabundo incendiário; Evo Morales, um maconheiro... Seus ídolos eram Adam Smith e Ludwig von Mises e suas citações prediletas eram de ex-presidentes norte-americanos, de Margaret Thatcher e da imprensa conservadora nacional.
Júlio detestava o governo federal, conquanto, em seu pobre município, silenciasse quanto ao prefeito alinhado com aquele. Toda corrupção que carcomia a pátria estava no partido do governo federal. No Município, no Estado, na oposição ao governo federal, não havia corrupção ou era ela de somenos relevância... Urgia arrancar o mal pela raiz, restabelecer a ordem, banir os privilégios de pobres acomodados.
Não apoiava a intervenção militar, porque a achava contrária à doutrina do Estado mínimo, mas protestava nas ruas de mãos dadas com aqueles que a apoiavam. Júlio, mais que um neoliberal, era um reacionário; contrário à doutrina social da Igreja Católica, considerada comunista; ao casamento homoafetivo; aos direitos humanos, tidos como direito de bandido...
Júlio, professor satisfeito de uma decadente cidade sertaneja, é mais um militante da direita, que prega, na escola e na internet, que o sonho de mudar o mundo acabou e que as coisas devem permanecer como sempre foram...
Nenhum comentário:
Postar um comentário