Obs.: A Capitania do Ceará, segundo a pesquisa do prof. Jorge Cintra, seria vertical e seus limites iriam da praia do Mucuripe ao rio da Cruz, que, segundo Aníbal Barreto, é o atual rio Coreaú (cf. Wikipédia).
sábado, 31 de outubro de 2015
ALTOS E BAIXOS
EM ALTA
Os 69 (sessenta e nove) anos do grande Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, maior compositor latino-americano, nascido em Sobral/CE, mas com raízes familiares em Coreaú/CE, minha terra natal. Belchior que, como Tolstoi, cansado de suportar o dia a dia, ganhou o mundo para viver de forma mais plena a sua poesia! Salve, Belchior!
EM BAIXA
A campanha sistemática de criminalização do ex-presidente Lula. Nunca antes na história deste país uma pessoa sofreu uma ofensiva tão pesada. Nunca houve um desejo tão grande de que uma pessoa seja corrupta, mesmo sem ser... A razão imediata desse desespero todos sabem qual é: A possibilidade do 'Cara' voltar à Presidência da República em 2018.
EM ALTA
O Senador Eduardo Suplicy, herdeiro da poderosa família Matarazzo, mas um homem comprometido com as causas sociais; um sujeito com sensibilidade para responde a insultos de uma grei reacionária paulista cantando Blowin' in the Wind, do Bob Dylan: "How many roads must a man walk down//Before you can call him a man?//How many seas must a white dove sail//Before she can sleep in the sand?//Yes and how many times must cannonballs fly//Before they're forever banned?//The answer, my friend, is blowin' in the wind//The answer is blowin' in the wind..."
EM BAIXA
A avaliação do ensino público fundamental e médio pelo próprio Poder Público. Não seria mais confiável uma avaliação realizada por agentes externos? Não seria interessante adotar como critério de avaliação o número de aprovados para o ensino superior, o desempenho dos alunos em concursos artísticos e científicos, o índice de encaminhamento para o emprego...?
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
CAPITALISMO
Quanto tempo ainda resta
De sofrer e de lutar
Por um mundo de justiça
E de amor em nosso Lar
– esta Terra que herdamos
E haveremos de deixar?
Há quem diga que não presta
Algo novo em seu lugar
Filhos de raça mestiça
Muito têm a reclamar
Dum passado em que ficamos
Nas galés a soluçar.
Mas as grades que nos prendem
Hoje em dia são discretas
Tão mais fortes que correntes
Prendem as pessoas quietas
Comodismo e egoísmo
Viram vias prediletas.
Veja as flores inda pendem
Em histórias tão secretas
Verdades só aparentes
De cobiças irrequietas
Eis o deus Capitalismo
Com nuances abjetas.
É um deus insaciável
Não importa de onde venha
A comida que o alimenta
E o leite que ordenha
É o suor de quem trabalha
Cujo soldo é a lenha!
Um sistema deplorável
Onde importa o que mais tenha
Ao mujique a ferramenta
Ao senhor o que convenha
Vale menos quem batalha
Nessa lida sem resenha.
A injustiça é a regra
Num sistema deplorável
Que esquece a maioria
Tudo é negociável
O humano se dissipa
É produto descartável.
Mas há pobre que se alegra
Com a ordem implacável
Lhe falta sabedoria
Ou um coração afável
Talvez só lhe reste a tripa
Do banquete imensurável.
E o pior dos oprimidos
É o que escolhe o lado
Do patrão e o defende
Não sabendo o coitado
Que pode a qualquer momento
Ser na rua arremessado.
Humilhados e ofendidos
Trabalhador explorado
Um ou outro que ascende
Deixa de ser revoltado
Mas prossegue o movimento
Que jamais foi derrotado.
(Benedito Gomes Rodrigues e Eliton Meneses)
terça-feira, 27 de outubro de 2015
LULA 70
Na eleição presidencial de 1989, eu tinha 11 anos e, no segundo turno, estava torcendo pela vitória do Lula, até que minha avó me repreendeu severamente, porque ela achava um absurdo um neto torcer para um candidato comunista, pedindo-me depois que eu apanhasse alguns panfletos numa casa-grande, que apoiava o Collor. Naquela eleição não torci mais pelo Lula, mas não tirei da cabeça a palavra comunista. Cinco anos depois, em 1994, votei pela primeira vez, no Lula. Desde então, sempre votei no Lula. Nunca me arrependi de ter votado sempre no melhor presidente que o Brasil já teve. Agora já não pregam mais que o Lula é comunista; agora dizem que ele é corrupto. O problema é que agora já sei quem é o Lula e já estou velho demais para cair nas artimanhas da turma que quer manter as coisas como elas sempre foram. Salve, Lula! Salve os 70 anos do presidente do povo!
domingo, 25 de outubro de 2015
VERÔNICA
Marcus conheceu Verônica pouco antes de anunciarem a apresentação dela no palco. Antes de começar ela pediu ao cliente para observar algo de diferente no seu corpo.
Marcus atentou em cada detalhe no corpo da artista, mas a iluminação precária e a vista embaçada pelos tragos não lhe permitiram notar nada de diferente em Verônica.
Verônica marejou os olhos, apertou as mãos de Marcus e, soluçando, lhe deu um forte abraço.
– Você é um cliente muito incomum. Tome o meu celular. Ligue quando desejar.
Uma semana depois Marcus e Verônica caminhavam na areia da praia da Barra. Ela confidenciou-lhe a decisão de abortar. Era a regra da casa; se engravidar, rua. Não tinha como morar fora da boate. O namorado Júlio lhe dissera que não ia assumir um filho de duzentos pais. O patrão ficara de comprar o remédio no dia seguinte e a vida voltaria ao normal.
– Você não levaria a gravidez adiante, contra tudo e contra todos?
– Aquilo era sentimentalismo de uma personagem bêbada. Na vida real não uso máscara. Sou eu mesma, realista e decidida.
– Então, quem tomou a decisão de não abortar foi a personagem?
– E, então, percebeu?
– O quê?
– Que eu estou grávida!
– Grávida?
– Isso.
– Não!
Verônica pareceu ter uma vertigem e sentou ao lado do cliente. Depois de algum tempo de silêncio, Marcus perguntou-lhe:
– Por que você não sai dessa vida?
– Talvez porque goste. Talvez porque não consiga ser fiel. Talvez porque seja a minha sina. Não sei.
– Infidelidade não é motivo para ser puta.
– Para mim é um bom pretexto.
– Você sabe de quem é o filho?
– Do meu namorado. Um safado que não dá notícias desde que lhe falei da gravidez, mas vou levá-la adiante, contra tudo e contra todos.Verônica marejou os olhos, apertou as mãos de Marcus e, soluçando, lhe deu um forte abraço.
– Você é um cliente muito incomum. Tome o meu celular. Ligue quando desejar.
Uma semana depois Marcus e Verônica caminhavam na areia da praia da Barra. Ela confidenciou-lhe a decisão de abortar. Era a regra da casa; se engravidar, rua. Não tinha como morar fora da boate. O namorado Júlio lhe dissera que não ia assumir um filho de duzentos pais. O patrão ficara de comprar o remédio no dia seguinte e a vida voltaria ao normal.
– Você não levaria a gravidez adiante, contra tudo e contra todos?
– Aquilo era sentimentalismo de uma personagem bêbada. Na vida real não uso máscara. Sou eu mesma, realista e decidida.
– Então, quem tomou a decisão de não abortar foi a personagem?
– Foi.
– A personagem também se chama Verônica?
– A personagem é a Verônica; eu me chamo Maria Clara.
– O aborto vai ser de dia?
– Que diferença faz?
– Se for de noite garanto que a Verônica não irá permiti-lo.
– A Verônica só se manifesta enquanto estou trabalhando. Se for abortar à noite, estarei de folga.
– Você não vai conseguir se livrar tão facilmente da Verônica. Sinto isso no seu olhar.
– Você é um romântico; um religioso, talvez. O que eu tenho na barriga ainda é um girino. Sou dona do meu corpo!
– O que você tem na barriga é uma pessoa em formação, que depende, por enquanto, do seu corpo, mas não se confunde com ele. A Verônica sabe disso.
– A Verônica não sabe nada da vida!
– Acho que ela sabe mais do que a Maria Clara.
– Verônica é uma puta!
– Uma puta com sentimentos.
– Prefiro ser Maria Clara, realista e decidida.
– Verônica e Maria Clara são uma só pessoa. Se a Maria Clara fosse tão realista e decidida não teria dito ao namorado que estava grávida. Teria abortado sem que o dono da boate soubesse; não correria o risco de ser demitida.
– Não sei o que fazer. Estou desesperada. Ou tomo o remédio amanhã ou arrumo as malas. Não tenho para onde ir. Mamãe morreu há dois meses, depois de muitos anos de maus-tratos do meu pai, alcoólatra. Nem pude ir ao enterro, em Sobral.
– Quanto você precisa para largar a boate?
– Muito pouco. Algo para o aluguel de uma quitinete e um pouco mais para o sustento. Mas de onde vou tirar essa grana?
– Primeiro me responda: Com essa grana garantida, você arrumaria as malas?
– Arrumaria.
– Quem está falando é a Maria Clara ou a Verônica?
– Ambas carregam uma criança na barriga.
Terminada a relação, Maria Clara não aceitou o pagamento do encontro, mas dobrou, com cuidado, e pôs na bolsa o cheque de quinze mil reais para as despesas que teria em um ano fora da boate.
sábado, 24 de outubro de 2015
DOSTOIÉVSKI. OS DEMÔNIOS
"– Não, não na futura vida eterna, mas na vida eterna aqui. Há momentos, você chega a esses momentos, em que de repente o tempo para e acontece a eternidade."
"Uma vez Stiepan Trofímovitch me assegurou que os mais elevados talentos artísticos podem ser os mais terríveis canalhas e que uma coisa não impede a outra."
"De modo geral, em toda desgraça do próximo há sempre algo que alegra o olho estranho – não importa de quem seja."
"– Quais são as suas preocupações; não me diga que são essas bobagens?"
"... o que é que entendes de Deus? Ora, foi um estudante que te industriou, mas se tivesse te ensinado a acender lamparinas diante de ícones tu as acenderia."
"– É impossível, Piotr Stiepánovitch. O socialismo é uma ideia grandiosa demais para que Stiepan Trofímovitch não tenha consciência disso – interveio com energia Yúlia Mikháilovna.
– A ideia é grandiosa, mas os que propagam nem sempre são gigantes, et brisons-là, mon cher – concluiu Stiepan Trofímovitch, dirigindo-se ao filho e levantando-se com elegância."
"Esperemos que nos perdoem a nós também. Sim, porque todos e cada um são culpados perante os outros. Todos somos culpados!..."
"O desmedido e o infinito são tão necessários ao homem como o pequeno planeta que ele habita..."
"Seu irmão me dizia que aquele que perde o vínculo com sua terra perde também seus deuses..."
(Fiódor Dostoiévski. in Os Demônios)
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
QUERIAM-ME
Queriam-me um verme, pueril, apático;
Queriam-me qualquer coisa, solitário, anêmico;
Queriam-me um rato, fugidio, miúdo;
Queriam-me ridículo, previsível, um fardo;
Queriam-me conforme, meia-boca, escravo;
Queriam-me sofrido, servidor, dramático;
Queriam-me não mais que um bonus pater;
Queriam-me macambúzio, burocrata, atávico;
Queriam-me hipocondríaco, vendedor, um trauma;
Queriam-me tanta coisa, mas eu não concordei com nada.
Eliton Meneses
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
PT x PSDB
O PSDB e o PT possuem projetos inconciliáveis. O primeiro é liberal; o segundo é social-democrata. Aliás, se houvesse rigor terminológico, o PT deveria denominar-se PSDB e o PSDB, PL (Partido Liberal). No atual cenário (federal, pelo menos), PSDB e PT não se unem porque estariam traindo seus princípios ideológicos fundamentais. Se houvesse essa união, algo muito estranho estaria ocorrendo, decerto a um preço que não seria interessante pagar... Noutro passo, o PMDB não possui princípio ideológico algum; não é nem direita, nem esquerda, nem centro... É o aliado de quem está no poder! Se Hitler, Stalin ou Kim Jong-un fossem guindados a presidente do Brasil, no atual contexto político, seria inevitavelmente sob o beneplácito do PMDB, partido que, por incrível que pareça, com todo esse seu viés tosco, consegue eleger reiteradamente a maioria tanto da Câmara, quanto do Senado. Ou seja, melhor do que torcer pela improvável aliança entre PSDB e PT, deveríamos torcer pela evolução do nosso eleitor, que confere legitimidade a um partido espúrio para barganhar, com quem quer que seja, seus próprios interesses, beneficiando-se de situações, como a que vivemos, em que todos são seus reféns, situação, oposição e o próprio povo brasileiro...
Quando digo que o PMDB não tem ideologia, quero dizer que não possui ideologia política definida. Sua ideologia oscila conforme a ocasião e a conveniência, o que equivale a não ter ideologia alguma. Isso, inclusive, é um reflexo da falta de projeto de país do partido.
Lula e FHC não são, respectivamente, o PT e o PSDB. Não dá pra comparar os partidos apenas comparando os ex-presidentes, porque o legado de cada um não diz totalmente com a questão partidária. FHC, por exemplo, embora eleito por um partido liberal, adotou muitas políticas sociais, por influência de sua própria formação, por influência da sua mulher (Dona Ruth Cardoso), por influência da tradição social do Estado brasileiro... FHC, v.g., adotou uma política de aproximação com os países latino-americanos, inclusive com Cuba (sic), o que é algo absurdo para os (neo)liberais... Há de se considerar, porém, que, além das idiossincrasias do FHC, que contam muito, deve-se contar também que o PSDB nasceu com uma pretensão, ao menos formalmente, social-democrata, que ainda tinha resquícios na era FHC, mas que é algo que se foi perdendo ao longo do tempo e hoje praticamente desapareceu no PSDB, assumindo o partido cada vez mais o viés neoliberal (Aécio Neves é um retrato fiel desse perfil ideológico, e é o presidente do partido...).
A questão ideológica macroestrutural, no modelo vertical de federação que adotamos, torna difícil comparar a política de um governo federal (Dilma) com a de um governo estadual (Alckmin). Os nossos estados-membros não têm como fazer vingar um modelo (neo)liberal sem o beneplácito do centro (Governo Federal). Desse modo, mesmo o mais liberal dos governadores não tem como fugir das amarras sociais que a legislação federal impõe. Por conta disso, o governo Alckmin (estadual) em vários aspectos se assemelha ao governo Dilma (federal), porque é o modelo federal que, entre nós, acaba sempre predominando. Mas só daria pra comparar um governo Dilma com um governo Alckmin, se este um dia fosse presidente da República.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
JÚLIO
O desprezo que Júlio nutria por seu país estava intimamente associado ao seu fascínio pelos Estados Unidos da América. Também admirava a Europa, pelas conquistas, pela revolução industrial, pelas monarquias ainda importantes..., mas o velho continente para ele vinha logo após os Estados Unidos. Em suas duas viagens internacionais tinha ido a Miami e New York, com os minguados recursos do ordenado municipal. Júlio não se afeiçoava à América Latina, para ele um bando de republiqueta indócil com regime populista. No Brasil, admirava a pujança econômica de São Paulo e a influência europeia do Sul, considerando todo o resto um atraso civilizatório.
Na religião, Júlio era devoto de meia dúzia de santos e acreditava num deus com aparência de rei medieval, quase sempre sentado num trono suntuoso, com uma pesada coroa de ouro e um enorme cetro ricamente ornamentado. Esse deus dava ordens, punia severamente os pecados e resolvia, por meio da Igreja, os problemas materiais do seu rebanho.
Júlio se achava um fosso de cultura; fizera precariamente o curso básico de inglês e posava com ares de poliglota. No português jamais acertava a crase e seus textos eram eivados de barbarismos e solecismos. Escutava música clássica e sucessos franceses e italianos, sem compreender nada. Era formado em Sociologia e ensinava em duas escolas de ensino médio. Durante a faculdade Júlio contestou fervorosamente o que considerava doutrinação marxista e recrudesceu sua ojeriza pelos esquerdistas, para ele uns parasitas alienados. No trabalho de conclusão de curso defendeu Israel, com unhas e dentes, em meio à morte de muitos palestinos.
Júlio acreditava piamente na meritocracia e no liberalismo econômico. Todos seriam iguais e poderiam, com esforço e perseverança, conquistar quaisquer objetivos na vida. O Estado não deveria se meter na economia nem fazer caridade com o dinheiro alheio; deveria basicamente cuidar da saúde e da educação e combater o crime. Os programas sociais eram assistencialismo eleitoreiro e as cotas no ensino superior uma violação à isonomia. Júlio também não era afeito aos movimentos sociais. Alguns deles não passariam de grupos criminosos. A única greve legítima era a dos professores. Professor Júlio considerava Che Guevara um facínora; Marx, um vagabundo incendiário; Evo Morales, um maconheiro... Seus ídolos eram Adam Smith e Ludwig von Mises e suas citações prediletas eram de ex-presidentes norte-americanos, de Margaret Thatcher e da imprensa conservadora nacional.
Júlio detestava o governo federal, conquanto, em seu pobre município, silenciasse quanto ao prefeito alinhado com aquele. Toda corrupção que carcomia a pátria estava no partido do governo federal. No Município, no Estado, na oposição ao governo federal, não havia corrupção ou era ela de somenos relevância... Urgia arrancar o mal pela raiz, restabelecer a ordem, banir os privilégios de pobres acomodados.
Não apoiava a intervenção militar, porque a achava contrária à doutrina do Estado mínimo, mas protestava nas ruas de mãos dadas com aqueles que a apoiavam. Júlio, mais que um neoliberal, era um reacionário; contrário à doutrina social da Igreja Católica, considerada comunista; ao casamento homoafetivo; aos direitos humanos, tidos como direito de bandido...
Júlio, professor satisfeito de uma decadente cidade sertaneja, é mais um militante da direita, que prega, na escola e na internet, que o sonho de mudar o mundo acabou e que as coisas devem permanecer como sempre foram...
Júlio acreditava piamente na meritocracia e no liberalismo econômico. Todos seriam iguais e poderiam, com esforço e perseverança, conquistar quaisquer objetivos na vida. O Estado não deveria se meter na economia nem fazer caridade com o dinheiro alheio; deveria basicamente cuidar da saúde e da educação e combater o crime. Os programas sociais eram assistencialismo eleitoreiro e as cotas no ensino superior uma violação à isonomia. Júlio também não era afeito aos movimentos sociais. Alguns deles não passariam de grupos criminosos. A única greve legítima era a dos professores. Professor Júlio considerava Che Guevara um facínora; Marx, um vagabundo incendiário; Evo Morales, um maconheiro... Seus ídolos eram Adam Smith e Ludwig von Mises e suas citações prediletas eram de ex-presidentes norte-americanos, de Margaret Thatcher e da imprensa conservadora nacional.
Júlio detestava o governo federal, conquanto, em seu pobre município, silenciasse quanto ao prefeito alinhado com aquele. Toda corrupção que carcomia a pátria estava no partido do governo federal. No Município, no Estado, na oposição ao governo federal, não havia corrupção ou era ela de somenos relevância... Urgia arrancar o mal pela raiz, restabelecer a ordem, banir os privilégios de pobres acomodados.
Não apoiava a intervenção militar, porque a achava contrária à doutrina do Estado mínimo, mas protestava nas ruas de mãos dadas com aqueles que a apoiavam. Júlio, mais que um neoliberal, era um reacionário; contrário à doutrina social da Igreja Católica, considerada comunista; ao casamento homoafetivo; aos direitos humanos, tidos como direito de bandido...
Júlio, professor satisfeito de uma decadente cidade sertaneja, é mais um militante da direita, que prega, na escola e na internet, que o sonho de mudar o mundo acabou e que as coisas devem permanecer como sempre foram...
domingo, 4 de outubro de 2015
HAICAIS
i.
O leite materno –
Seiva verde de Mãe-Gaia –
Não é dom eterno.
ii.
Erga-se, algum,
Neste marasmo sem jeito,
Com canto incomum.
iii.
Perfil de estudante,
Mas, por pele e nascença,
Julgam: meliante!
iv.
Eterna alegria:
Sorrir como uma criança
Um instante por dia!
v.
Mundo divertido!
Que discursa honestidade...
E esquece, escondido.
vi.
O medo entretém
E enche os bolsos do que
Não ama a ninguém!
vii.
Que gente apressada!
Nem vê o irmão mendigo
Morto na calçada.
viii.
De fato, não sei
Se há mesmo liberdade
Na terra-sem-rei.
ix.
A dor lhe afligia.
Afogou-se em mágoa tola,
Morreu - covardia.
x.
Nasce o batalhão
De pessoas "informadas":
Gritam palavrão!
Benedito Gomes Robrigues
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