Na segunda semana de febre, cefaleia e fadiga, não suportei ir para a aula. Havia na cidade um surto de dengue que me acometera impiedosamente. Estava na república há menos de um mês e já sentia na pele os desafios da vida coletiva.
Bernaldo concluíra o curso, mas, sem ter para onde ir, com a anuência dos colegas, permaneceu nos fundos da casa, numa cama improvisada, quase ao relento, dando aula particular na residência de alguns poucos alunos e estudando desesperado para a aprovação num concurso público qualquer.
Afinara-me com aquele sujeito experiente, oriundo de um sítio isolado da distante Várzea Alegre, mas a falta de perspectiva estava pondo Bernaldo à beira do desequilíbrio emocional. Quando me viu acamado, pálido e sem ânimo, pela porta entreaberta, deu uma gargalhada confusa e arrematou:
– Aguenta, fi duma égua! Aqui é cada um por si e Deus contra todos!
À noite, febril e insone, incomodara-me um barulho estranho vindo do quarto do lado. Curioso, dei uma espiada pela fresta da porta trancada que separava os quartos e vi surpreso, a poucos palmos do nariz, Neilson, ofegante, agarrado com outro homem.
Não ousei interromper as acrobacias eróticas do vizinho. Quando peguei no sono, o dia já começava a clarear.
No meio da manhã, Cabeça chegou, assobiando e estalando os dedos, de mais uma noite de farra e, antes de deitar-se na sua rede armada na sala, ofereceu-me uma cartela de comprimido contra a febre.
Três dias depois consegui, finalmente, restabelecer-me.
Três dias depois consegui, finalmente, restabelecer-me.
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