No universo do conhecimento, há alguns sujeitos que conseguem promover uma mudança radical de perspetiva que torna obsoleto todo um arcabouço conceitual. Na astronomia, coube à teoria heliocêntrica de Copérnico retirar a Terra do centro do Universo; com a teoria da evolução das espécies, fundada na seleção natural, Darwin aplicou um duro golpe no criacionismo, abrindo um novo horizonte para a biologia. Com o materialismo histórico, baseado na luta de classes decorrente da "exploração do homem pelo homem", Marx lançou luzes novas que mudaram as cores, a um só tempo, da sociologia, da economia e da história. Na filosofia, coube a Heidegger a realização desse giro radical.
Em "Ser e Tempo", Heidegger trata de maneira original de uma das mais antigas e relevantes questões da filosofia: a natureza do ser. A existência é o fenômeno que a filosofia chama de "ser". As coisas que "são" são aquelas que "existem"; as que "não são" são as que "não existem". Mas o que significa existir e não existir?
Heidegger afirma que, desde os gregos, a tradição filosófica sempre identificara o ser como a presença no mundo. Assim, ser era estar presente no mundo e não ser era não estar presente no mundo. No entanto, para ele, incorria-se num equívoco, porque a presença, como possibilidade de ocupar lugar no espaço e no tempo, respondia à questão do ser partindo de um ente em especial, ou seja, os objetos materiais, como mesas e cadeiras, propondo o filósofo que a resposta à questão do ser deveria perscrutar, em primeira mão, aquele ente que é o único que se pergunta sobre o ser, ou seja, o homem. Desse modo, em vez de se partir das coisas para se determinar o ser de todos os entes, inclusive o homem, Heidegger propunha partir do homem para determinar o ser de todos os entes, inclusive as coisas.
O ser do homem não consistiria numa simples presença no mundo, mas num Ser-aí (Dasein), que poderia ser definido como um projeto indefinido, autodirigido e perpetuamente inacabado, sujeito a três condições: (i) o ser-no-mundo, pertinente à facticidade, ou seja, à possibilidade, direcionalidade e limitação que o mundo em volta do homem exerce sobre suas projeções; (ii) o ser-com-os-outros, tocante ao conjunto de imagens e motivos previamente existentes e no qual inexoravelmente ele mergulha ao integrar o mundo social e (iii) o ser-para-a-morte, que parte da compreensão de que a consciência e a certeza de uma morte certa em data incerta é que pressiona todo o período de vida a ser constantemente a realização de um projeto, tendo na angústia, experiência existencialmente libertadora que irrompe de tempos em tempos, a lembrança da condição efêmera do Ser-aí.
Se, na tradição ocidental, desde os gregos, o tempo, como propulsor da mudança, havia sido sempre pensado como aquilo que é contrário ao ser (inspirado no ser dos entes imutáveis que são as coisas), a partir da reflexão de Ser e Tempo, era possível encarar o tempo como a condição sem a qual não existe o ser, a partir do ser do ente que se pergunta sobre o ser, ou seja, a partir do homem. Só no tempo é que o Ser-aí pode se projetar, só no tempo é que pode se enfrentar com o mundo em busca de seu projeto, só no tempo e na consciência do tempo e na certeza da morte, é que o homem pode reencontrar o sentido de Ser-aí para além de toda ilusão ou esquecimento.
Em "Ser e Tempo", Heidegger trata de maneira original de uma das mais antigas e relevantes questões da filosofia: a natureza do ser. A existência é o fenômeno que a filosofia chama de "ser". As coisas que "são" são aquelas que "existem"; as que "não são" são as que "não existem". Mas o que significa existir e não existir?
Heidegger afirma que, desde os gregos, a tradição filosófica sempre identificara o ser como a presença no mundo. Assim, ser era estar presente no mundo e não ser era não estar presente no mundo. No entanto, para ele, incorria-se num equívoco, porque a presença, como possibilidade de ocupar lugar no espaço e no tempo, respondia à questão do ser partindo de um ente em especial, ou seja, os objetos materiais, como mesas e cadeiras, propondo o filósofo que a resposta à questão do ser deveria perscrutar, em primeira mão, aquele ente que é o único que se pergunta sobre o ser, ou seja, o homem. Desse modo, em vez de se partir das coisas para se determinar o ser de todos os entes, inclusive o homem, Heidegger propunha partir do homem para determinar o ser de todos os entes, inclusive as coisas.
O ser do homem não consistiria numa simples presença no mundo, mas num Ser-aí (Dasein), que poderia ser definido como um projeto indefinido, autodirigido e perpetuamente inacabado, sujeito a três condições: (i) o ser-no-mundo, pertinente à facticidade, ou seja, à possibilidade, direcionalidade e limitação que o mundo em volta do homem exerce sobre suas projeções; (ii) o ser-com-os-outros, tocante ao conjunto de imagens e motivos previamente existentes e no qual inexoravelmente ele mergulha ao integrar o mundo social e (iii) o ser-para-a-morte, que parte da compreensão de que a consciência e a certeza de uma morte certa em data incerta é que pressiona todo o período de vida a ser constantemente a realização de um projeto, tendo na angústia, experiência existencialmente libertadora que irrompe de tempos em tempos, a lembrança da condição efêmera do Ser-aí.
Se, na tradição ocidental, desde os gregos, o tempo, como propulsor da mudança, havia sido sempre pensado como aquilo que é contrário ao ser (inspirado no ser dos entes imutáveis que são as coisas), a partir da reflexão de Ser e Tempo, era possível encarar o tempo como a condição sem a qual não existe o ser, a partir do ser do ente que se pergunta sobre o ser, ou seja, a partir do homem. Só no tempo é que o Ser-aí pode se projetar, só no tempo é que pode se enfrentar com o mundo em busca de seu projeto, só no tempo e na consciência do tempo e na certeza da morte, é que o homem pode reencontrar o sentido de Ser-aí para além de toda ilusão ou esquecimento.
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