O estômago rústico de Suco não estava afeito a iguarias refinadas. Depois da entrada com patê de fois gras, a namorada solicitou o prato principal, uma lagosta ao Thermidor, regada com novas taças de vinho Chianti.
Suco não se arriscou na pronúncia francesa da entrada, tampouco fazia ideia do que representara o Thermidor no calendário revolucionário francês. De toda sorte, comeu e bebeu tudo o quanto pôde, tentando debalde dissimular a surpresa de um primeiro almoço num restaurante sofisticado.
Conhecera a pretendente há pouco mais de uma semana. Seduzido pelos dotes financeiros da moça, Suco, no auge dos seus dezenove anos, resolveu conquistá-la, a despeito das quatro décadas a mais na idade dela.
Ao final do regabofe, pago no cartão de crédito da namorada, Suco pediu acanhado ao garçom que embalasse as sobras para levá-las para Thor, seu cachorrinho que estava em casa, louco por cauda de lagosta...
Quando Suco chegou às três da tarde na Casa do Estudante, onde morava, encontrou Alex, seu companheiro de quarto, já pálido e esguio, deitado no beliche, arquejando de fome.
– Fala, macho véi! Já almoçou?!
– Almoçar o quê, macho? Não tem nada!
– Então arrocha esta quentinha, cachorro mortafome!
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