"Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um só tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela..."
Para o imortal Olavo Bilac, a nossa Língua Portuguesa é digna de louvor! Tendo sua origem no latim vulgar, falado pelo povo da região do Lácio (região central da Itália), adquiriu formas mais livres e sem a precisão de regras gramaticais. No confronto com outros idiomas passou a integrar as línguas românicas, dentre elas, o espanhol, o francês e o italiano.
Nossa língua sofreu a influência do latim nos aspectos fonéticos, morfológicos e sintáticos, fato comprovado nos vários vocábulos de uso culto e inculto do nosso idioma – claro, com algumas modificações diacrônicas, como é o caso de pater ter originado pai; causam-cousa-coisa; domus-domicílio-casa; equus-caballus-equino-cavalo; gradous-passos; primuns-primeiro; mensa-mesa; mensal-mensalidade-mesada...
O latim ainda é a língua oficial da Igreja Católica, sendo os seus documentos, tais como as encíclicas papais, escritos na língua latina.
Nota-se, portanto, o quão necessário é o conhecimento ou pelo menos uma ligeira noção do idioma que deu origem à nossa língua, sobretudo para os professores de língua portuguesa, dado que o profissional em educação poderá deparar com perguntas as demais diversas acerca dos significados de alguns vocábulos que, como resposta, necessita do conhecimento etimológico e diacrônico da língua romana.
Atualmente não mais vemos nas escolas de ensino fundamental e médio o estudo do latim, cuja obrigatoriedade perdurou no Brasil até por volta do ano de 1961. Do mesmo modo, atualmente os cursos de Letras, Direito, Filosofia e outros que outrora abrangiam três semestres do estudo da língua latina agora estão reduzindo-se a somente um semestre ou mesmo estão desaparecendo, dado a carência de mestres disponíveis para o ensino da língua. Assim, lamenta-se a retirada das raízes do português dos nossos cursos de licenciatura, bacharelado, (...), tendo como resultado o declínio da qualidade do ensino da língua pátria em todos os níveis escolares.
Anedótico é o caso da professora que, interpelada por um aluno sobre o porquê de o feminino de cavalo ser égua, respondeu: – Pergunte pra ela! Como a professora poderia responder, se não tinha conhecimento da diacronia para dar uma resposta correta ao aluno? Por outro lado, seria mais sensato dizer que égua é feminino de cavalo pois tem sua origem no vocábulo latino equus. É importante frisar que saber latim não é condição indispensável para saber português, mas sim auxílio para a percepção da língua pátria como fenômeno social e histórico, portanto, submetida às transformações que se consolidaram através do tempo.
Auricélia Fontenele
Da Pós-Graduação em Português/Literatura
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