"O Cumbe, comunidade do Município de Aracati-CE, tão rico em cultura, como rico em violações. As sociedades cearense e brasileira devem olhar para esta pequena comunidade do litoral cearense. Nela poderão ver as suas origens, poderão ver os seus descasos, os seus desmandos, os caminhos escolhidos para o desenvolvimento de poucos e a invisibilidade ou aniquilação de muitos.
Comecemos pelo nome que é de origem africana e que pode dar luz a sua identidade. O Professor de História da Comunidade, João do Cumbe, também fala da expedição científica de Dom Pedro II, que passou pela localidade e registrou com admiração os cata-ventos, os moinhos de vento em grande quantidade, para irrigar os canaviais dos diversos engenhos que havia na região. Cumbe terra que mantém o Sebastianismo, em relatos de lavadeiras nas lagoas entre as dunas, que ouvem a cavalaria, com seus tambores, do Rei Dom Sebastião, com alguns até chegando a ver o próprio Rei. O Cumbe de calungas, fantoches para a meninada. O mesmo Cumbe de histórias de espíritos e de sítio arqueológico milenar...
Sítio arqueológico que empresa de energia eólica e o governo do PAC quiseram desdenhar, frente ao “desenvolvimento”. Se não fosse a grita da comunidade e dos parceiros da sociedade civil organizada, não estaria hoje o IPHAN trazendo museu para o local. Energia eólica, a energia limpa que, pasmem, ameaça impedir a comunidade de ter acesso a sua praia e as seguintes lagoas: Lagoa do Murici, Lagoa do Capim (do Pituca), Lagoa da Lucrécia, Lagoa da Maria do Vale, Lagoa do Zé Tarcísio, Lagoa do Padre, Lagoa do Manoel de Pedro Chico e Lagoa do Urubu.
Comunidade do Cumbe já tão sofrida com a carcinicultura (criação de camarão), que destrói seus manguezais, destrói seu modo de vida por promessas de 'desenvolvimento', de empregos que nunca vêm. Apenas, como sempre, vem o prejuízo da sustentabilidade das famílias. A carcinicultura defendida pelo Tribunal de Justiça, em decisão recente, por proteger estes poucos empregos, sem ver o tamanho do passivo deixado. Carcinicultura cujo fazendeiro tenta impedir o acesso da comunidade do Cumbe ao seu cemitério secular, insultando a sua memória, desrespeitando a sua cultura.
Mas este Cumbe, que sofre com tantas mazelas, a partir da privação do coletivo, da concentração de terra e poder, é o mesmo Cumbe que, a partir de seu coletivo, mostra que resiste, que segue em frente. Assim, quisemos, aqui, compartilhar um pouco do que sofre o Cumbe, mas, principalmente, da força cultural, da força da comunidade que deve fazer despertar ações que colaborem com o real bem estar das pessoas do local, escolhas referenciadas na vida comunitária."
Fonte: Portal do Mar
Nenhum comentário:
Postar um comentário