terça-feira, 12 de março de 2019

Soneto LXVII


Abro a janela e vejo tudo estreito:
A noite escura, o beco longo e feio;
A porta aberta, o bar, um devaneio; 
Um homem santo eivado de defeito.

Um ébrio canta amores já sem jeito;
A lua nova, um gato, um copo cheio;
O vento sopra o sonho e o som alheio;
Sozinho ainda com espanto espreito.

Quiçá se trate apenas de arremedo;
Delírio, assombro, mais um pesadelo;
A vida é mais bonita à luz do dia.

O sol renasce logo após o medo;
O corpo quente vem depois do gelo;
Saí, enfim, ileso da aporia.

Eliton Meneses

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