quinta-feira, 14 de março de 2019

Marielle



Há quem diga: "— Ah, não sei por que tanto estardalhaço em torno da morta da Marielle! Se todas as pessoas são iguais, se todos merecem o mesmo luto!" Quem fala assim decerto tem dificuldade de compreender os processos coletivos. Marielle já morreu. Marielle morreu e virou um símbolo, uma bandeira de luta. Por sua história de vida e pelas circunstâncias de sua morte, Marielle tornou-se um símbolo da luta por justiça social, assim como Tiradentes foi um símbolo da luta pela independência do Brasil; Sócrates um símbolo da filosofia; Giordano Bruno um símbolo do conhecimento científico; Joana d'Arc um símbolo do patriotismo francês e tantos outros mártires ao longo da história... 
Marielle, assassinada pelas milícias incomodadas por sua luta, não se torna melhor do que ninguém por ter, depois de morta, virado uma bandeira. Toda morte é igualmente trágica e dolorosa. No entanto, a vida e a morte de determinadas pessoas sintetizam tão bem o processo das coisas do mundo que tornam a memória dessas pessoas um símbolo e uma bandeira de uma causa. Se é justo ou injusto elevar essas pessoas à condição de símbolo ou bandeira de uma causa, esse é outro problema; o fato é que isso sempre existiu e sempre existirá —, porque faz parte da própria natureza humana. A justiça que se pede para o assassinato da Marielle não é apenas a reparação de um caso individual, é uma justiça que ganha transcendência e repara, de alguma forma, toda violação que se pratica contra todas as mulher negras e pobres deste país. Marielle não é uma pessoa, Marielle é muita gente! Daí a diferença!
Marielle, presente! Hoje e sempre!   

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