"Depois Labão disse a Jacó: 'Será que me vais servir de graça por seres meu sobrinho? Dize-me qual deve ser o salário?' Ora, Labão tinha duas filhas. A mais velha se chamava Lia e a mais nova Raquel. Lia tinha um olhar apagado, mas Raquel era bonita de corpo e de rosto. Jacó ficou enamorado de Raquel e disse a Labão: 'Eu te servirei sete anos por Raquel, tua filha mais nova.' Labão respondeu: 'É melhor confiá-la a ti do que entregá-la a um estranho. Fica comigo.' Jacó serviu por Raquel sete anos, que lhe pareceram dias, tanto era o amor por ela. Jacó disse a Labão: 'Dá-me minha mulher, pois completou-se o tempo e quero viver com ela.' Labão reuniu todos os homens do lugar e deu um banquete. Chegada a noite, porém, tomou a filha Lia e levou-a a Jacó, que dormiu com ela. (Labão dera à filha Lia a escrava Zelfa, para lhe servir de criada.) Ao amanhecer, Jacó viu que era Lia e disse a Labão: 'Por que fizeste isso comigo? Não te servi por Raquel? Por que me enganaste?' E Labão respondeu: 'Não é costume em nosso lugar dar a filha mais nova antes da filha mais velha. Termina esta semana de festa e depois te será dada também a outra pelo serviço que me prestarás durante outros sete anos.'
Assim o fez Jacó. Completada a semana, Labão deu-lhe por mulher sua filha Raquel, e com ela a escrava Bala para servi-la como criada. Jacó se uniu também a Raquel e amou Raquel mais do que Lia. Por ela serviu mais sete anos."
(Gênesis 29:15-30)
Soneto
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
Luís de Camões
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