sexta-feira, 5 de maio de 2017

MENINO DE ENGENHO




Tendo finalizado há poucos instantes a leitura do livro Menino de Engenho, de José Lins do Rego, não resisti e resolvi tecer algumas linhas críticas acerca da obra, no propósito também de incentivar a leitura desse clássico romance da nossa literatura modernista.
O paraibano José Lins do Rego, assim como Rachel de Queiroz e José Américo de Almeida, está enquadrado no ciclo nordestino do romance de 30. Menino de Engenho é, portanto, seu livro de estreia, tendo como contexto histórico-social o Brasil pós-escravutura, a decadência dos engenhos e o fim do patriarcalismo brasileiro.
Narrado em primeira pessoa, a obra tem como narrador-protagonista Carlos Melo (Carlinhos), que descreve, com singeleza e riqueza de detalhes, sua infância no engenho Santa Rosa, depois de perder precosemente a mãe assassinada pelo próprio pai do narrador. Aos 04 anos, Carlinhos é levado pelo tio para o engenho de seu avô paterno e passa a descrever os detalhes de sua infância de menino de engenho, o afeto maternal da sua tia Maria, as brincadeiras de menino com os primos e também os moleques filhos de escravos já libertos, as conversas com as negras na cozinha da casa grande, os cuidados do seu avô e as aventuras no campo com sua cabrita Jasmim, além das enchentes nas varsantes que encharcaram as plantações de cana e chegavam aos casarões.
Com 09 anos Carlinho conhece Maria Clara, amiga e filha de coronel abastardo que despertara no narrador os sentimentos do amor pueril. O casamento de sua tia Maria deixa Carlinhos triste, pois ela era como uma mãe. "...esses dias de chuva, agora que a minha tia se fora, me faziam mais triste, mais íntimo comigo mesmo". Aos doze anos inicia sua vida sexual com as negras da fazenda, adquire doença-do-mundo e é conhecido como menino safado, até que seu avô manda-o ao colégio interno e ele tem que deixar o engenho para iniciar mais uma etapa na sua vida.
Há muito tempo que queria me embrenhar pela leitura desse clássico romance, já tinha estudado superficialmente e junto com outros romances do mesmo período no curso de Letras, há mais de 13 anos, só agora pude desfrutar da leitura de um clássico que nos reporta a nossa própria infância. As brincadeira e banhos de rio, as frutas colhidas no pé e saboreadas junto com os amigos, as indagações interiores advindas da mudança da fase pueril para adolescência ,as frustrações decorrentes do meio sobre as personagens, corroborando para a decadência do patriarcado rural, enfim, a infância do próprio José Lins do Rego, filho desse patriarcado rústico. O universo complexo em questão na obra é a infância de qualquer menino que vai da pureza às maledicências, características da realidade de qualquer indivíduo. Fica, portanto, minha dica de leitura.

Auricélia Fontenele
 Professora da Escola de Ensino Médio Almir Pinto

Nenhum comentário: