segunda-feira, 1 de maio de 2017

BELCHIOR



Belchior é muito mais do que um cantor e compositor. Belchior é um poeta, um filósofo; um poeta-filósofo da dimensão de um Goethe, de um Dante, de um Borges, com a única diferença de que nasceu entre nós, de que era como nós, 'sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior'.
Quando eu tinha dez anos, meu amigo Rogério me disse:
– Você sabia que Coreaú tem um cantor famoso? Minha mãe cuidou desse cantor quando ele era criança...
Eu não fazia ideia de quem era Belchior e muito menos de que ele seria coreauense.
Aos vinte anos comecei a ouvir algumas de suas músicas; no quarto ao lado da residência universitária, também ouvia a música o sobralense Gilmar Paiva. Nesse período, Belchior fez um show em Coreaú, que, infelizmente, não cheguei a tempo de presenciar. Mas foi aos vinte e cinco anos, em meio a uma séria crise existencial, que Belchior me apareceu de uma maneira decisiva. Quando ouvi do rapaz latino-americano: "Tenho vinte e cinco anos/De sonho e de sangue/E de América do Sul/Por força deste destino/Um tango argentino/Me vai bem melhor que um blues (...)/E eu quero é que esse canto torto/Feito faca, corte a carne de vocês..." as coisas começaram a mudar de rumo.
Não faz muito tempo – uns dez anos, talvez –, passava na Beira-mar e deparei, despretensiosamente, com um show ao ar livre do Belchior. Claro que me detive e apreciei eufórico toda a apresentação, sem saber que aquela seria a primeira e a última vez que o veria em vida.
Meu amigo Gilmar Paiva sustenta que Belchior não é sobralense nem coreauense, mas, parafraseando Drummond, um gênio que começou em Sobral, ou em Coreaú (pra ele tanto faz), e foi dar nos nossos corações. E é óbvio que ele tem razão.
De uns tempos para cá, depois de embalar os nossos sonhos e as nossas esperanças, Belchior apavorou-se com algum Black Bird e, mais angustiado do que um goleiro na hora do gol, meteu o pé na estrada like a Rolling Stone. Belchior ganhou o mundo à la Tolstoi, mas, no fundo no fundo, sempre tive a esperança de que ele um dia iria reaparecer, para nos dizer que 'the dream is not over'...
O Bhagavad-Gîta diz que não se deve chorar por nada, nem por causa dos vivos, nem por causa dos mortos... Mas Belchior morreu... e o que se pode fazer, senão chorar?

3 comentários:

Anônimo disse...

Afinal, Belchior é coreauense ou sobralense? hoje teremos uma homenagem a ele, em alusão a sua data comemorativa onde se entre nós estivesse carnalmente estaria completando seus 72 anos de vida.

Eliton Meneses disse...

Pelo critério jus soli, é sobralense. Nasceu em Sobral um ano depois de seus pais terem saído de Coreaú. Pelo critério jus sanguinis é coreauense. A família é coreauense...

Vilmar disse...

Belchior é de Coreaú. O problema é que era uma localidade na época e as pessoas íam a Sobral para registrar os seus filhos, e lógico que Sobral oferecia melhores condições e aí íam estudar nos colégios de Sobral, isso aconteceu por várias gerações de minha família, aconteceu com os meus irmãos. Verdade seja dita, a educação de Sobral nunca deixou a desejar para os parâmetros mundiais de melhor educação. Temos o Belchior, os Ferreiras Gomes, Renato Aragão, Domingos Olímpio e Eu - Vilmar Aguiar