domingo, 20 de novembro de 2016

ONEIDA



Meu nome é Oneida. Nasci na Palma em 1936, a primogênita do casal Maria do Carmo e Valdemar. Quando nasci, meu pai, cheio de alegria, tomou um trago e cantou bem alto:
– O pinto piou, seu Zé?! Piou no ovo?! É pinto novo!   
Tive uma infância feliz entre a Palma, as Pedrinhas e a Volta, cuidando dos irmãos mais novos e tomando banho no rio.
Quando dei por mim, já era uma adolescente e, na Volta, conheci José, rapaz bonito e elegante que me esperou ficar moça para nos casarmos. Fomos morar em Parnaíba. Tivemos Rita e Mauro, vivíamos felizes, até que José perdeu a vida num acidente de trânsito. Voltei para a Palma num caminhão de mudança com os meninos ainda pequenos. Comprei uma casa perto do meu irmão Oneon e procurei reunir forças para tocar a vida sozinha.    
Nunca esqueci José, ainda tenho no dedo a aliança dele junto da minha. Olho para a nossa foto na parede e acho que o tempo não passou; sonho com o retorno dele, sei que um dia nos reencontraremos.    
Quando a Rita e o Mauro já estavam criados, comecei a criar uma outra filha, Mariana Joyce. Pouco depois, a Rita casou, foi morar em Belém, o Mauro a acompanhou logo em seguida e a Mariana passou a ser minha única companhia. 
A Rita me deu três netos; o Mauro, três netas, mas, apesar dos muitos apelos, eu nunca quis largar a minha Palma. Tenho a minha casa, moro perto da igreja de Nossa Senhora da Piedade, assisto minhas novelas, conheço todo mundo... Papai e mamãe estão enterrados nesta terra; foi aqui que nasci, é aqui onde hei de morrer. 
Aos cinquenta anos começaram meus problemas de saúde. Assistia o Roque Santeiro quando tive a primeira crise. Hoje tenho oitenta anos. Nesses trinta anos passei por muita coisa. Estive entre a vida e a morte, fiz muitas cirurgias, não passo sem os remédios para isso e aquilo, mas estou aqui, resistindo, com fé em Deus e em Nossa Senhora. A Joyce já casou e teve dois filhos. Quando eles me visitam, fico em festa; quando vão embora, bate uma saudade!
No final do ano passado o Onezi veio me visitar. Ele mora em São Paulo e fazia muito tempo que não aparecia. Foi uma festa; Rita, Mauro, Joyce, os primos quase todos. Fazia tempo que eu não era tão feliz. 
Não ando bem de saúde. Nos últimos anos tenho piorado. Completei oitenta anos e sinto que, com a idade, fica cada vez mais difícil suportar as dores no corpo. Os remédios não fazem mais efeito. A cada despedida dos filhos e dos netos imagino que foi a última. 
O Oneon aparece à tarde para conversar comigo. Meu irmão tem muita história. Gosto de ouvir as histórias da família, de lembrar da mamãe, do papai, da Popô... A Onete morreu faz mais de dez anos. A Oneci está bem, mora perto e está sempre aqui por casa. Quero viver mais, quero viver até os cem anos.
Ano passado o Mauro me levou até a Parnaíba. Revemos a casa onde moramos, visitamos o túmulo do José, tomamos um banho na mesma praia, tive muitas recordações nessa viagem.  
Hoje já não posso mais me levantar. As pernas não respondem mais. Tenho dores por todo o corpo. Em setembro apareceram os meninos do Oneon. As meninas da Oneci e da Onete sempre me visitam. Depois da festa de setembro tive uma crise. Rita, Mauro e Joyce vieram às pressas. Achei que dessa não passaria. Com os três filhos por perto e os dedos cravados no rosário, tive uma melhora. Mauro pôde voltar para Beĺém. Com a ida dele, bateu-me uma saudade e as dores retornaram. Logo que peguei no sono, sonhei com o José vindo me buscar.

Nenhum comentário: